Pela minha formação e pesquisas em educação, carrego juntamente com os integrantes do Instituto AutismoS, grupo do qual faço parte, a bandeira de que inclusão é informação. Em muito já avançamos na disseminação do que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas ainda há um caminho longo pela frente.
Quebrar os mitos que envolvem essa condição neurológica é uma das barreiras. Autismo não é doença – é uma condição. E apesar de não ter cura, possibilita diversas terapias, de acordo com sua forma e níveis de intensidade, que contribuem com o desenvolvimento de acordo com a característica de cada um. A desorganização sensorial cerebral é complexa e afeta os processos de comunicação, integração e comportamento social. E é aí que entra outro obstáculo a ser derrubado: uma inclusão educacional efetiva, com todas as oportunidades que o autista tem o direito de usufruir.
Não é apenas garantir o direito da pessoa com autismo estar matriculada em uma escola. É dar a ela estrutura de aprendizagem e convívio com outras crianças, adolescentes ou adultos, de forma que ela seja integrada de fato no mundo do ensino. Por isso defendemos a importância da formação continuada dos professores, pois dentro das instituições de ensino são eles que podem oportunizar vivências de conhecimento e desenvolvimento de aprendizagem. Precisamos de docentes atualizados para abraçar a causa das nossas crianças com TEA.
Por defendermos uma inclusão educacional, estamos em constante estudo do cenário que temos à disposição. Uma queixa comum dos professores é o despreparo da formação inicial pela qual passaram, porque é uma etapa que não abrange o TEA ou trata o transtorno de maneira superficial. Assim, eles não se sentem preparados para atenderem as necessidades de estudantes atípicos.
Uma justificativa bastante válida e que endossa a importância de sanar essa lacuna da formação inicial: promover a formação continuada a quem leciona, com o profissional já em prática educacional, para que as consequências do seu ofício sejam alcançadas. As competências dos professores não se restringem ao domínio dos conteúdos – eles produzem um conhecimento prático capaz de mobilizar uma pluralidade de saberes.
O diagnóstico é exclusivamente clínico. No entanto, a escola exerce um papel fundamental ao observar e sugerir a incidência do TEA precocemente. A partir da confirmação, o encaminhamento para uma equipe multidisciplinar (com fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e comportamental, psicopedagogo, psicólogo, fisioterapeuta e outros capazes de contribuir para o desenvolvimento da criança) aliado ao trabalho desenvolvido pela escola pode proporcionar progressos para que a vivência do autista.
O maior desafio das famílias de pessoas com necessidades educacionais especiais é a busca por suporte especializado no amparo aos seus filhos no ambiente da escola, ou seja, a inclusão escolar. Dentro ou fora de classe, há a necessidade de agentes educacionais que promovam essa inclusão por meio de ações imediatas de socialização, mediação e suporte adaptado, considerando que as diferenças devem ser trabalhadas com todos os alunos independente de terem ou não um laudo.
Até porque todos ganham com um ambiente escolar acolhedor, não apenas os alunos atípicos que têm seus direitos resguardados e a valorização das suas potencialidades. A instituição educacional se capacita para lidar com toda a sua comunidade, sem distinção; os professores habilitados podem cumprir na totalidade seu papel de agente de transformação social. E os estudantes neurotípicos ganham a oportunidade de aprender a lidar com o diferente, desenvolvem empatia e se tornarão adultos mais bem preparados para enfrentarem os mais diversos tipos de ambiente profissional, acadêmico e até familiar.
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