Nota da redação: a partir de hoje, o Informe contará com as contribuições de um grande amigo, que é uma referência na educação ambiental de Blumenau e Santa Catarina, José Sommer. Estamos muito orgulhosos.
Não tivemos na história brasileira recente um período pior para a proteção ambiental do que este vivido nos últimos quatro anos. Virou um chavão entre os ambientalistas a frase proferida pelo então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em reunião ministerial, em que disse “vamos aproveitar para passar a boiada”, enquanto as atenções da mídia estavam voltadas para a pandemia da Covid-19 em nosso país. A frase virou um sinônimo para os desmandos relacionados a meio ambiente que se sucederam no Brasil, mas também nos estados, como aqui em SC.
A péssima gestão da área ambiental, por inépcia, mas também por intenção, afetou severamente a proteção dos biomas brasileiros, notadamente o Pantanal e a Amazônia. O Fundo Amazônia, apesar do alertas internacionais e de determinação judicial para que fosse reativado, foi suspenso. Nele há contribuições de vários países, mas Noruega e Alemanha juntas correspondem a cerca de 99% do dinheiro que deveria vir para o Brasil. Para se ter uma ideia, cerca de 3,5 bilhões de reais estão parados no fundo desde 2018, quando foi suspenso unilateralmente pelo governo brasileiro. Este dinheiro daria para financiar mais de 200 projetos públicos e de organizações da sociedade civil, como compra de equipamentos, ações agroflorestais e extrativistas, recuperação de áreas, educação ambiental, entre tantos outros. Já é muito dinheiro para qualquer área, para meio ambiente, então…
Mas pasmem, o potencial do fundo, pelos créditos já existentes, podem chegar a ordem dos 100 bilhões de reais. Como abdicar disso tudo pode ser minimamente sensato?
Com a mudança de governo e a assunção da pasta por Marina Silva, os países financiadores já declararam a reativação imediata do fundo (a Amazônia não pode esperar). A Alemanha acaba de liberar o equivalente a mais de 1 bilhão de reais para um pacote ambiental, sendo quase 200 milhões para o Fundo Amazônia. Marina Silva já adiantou, e certamente tem aprovação do conselho gestor, que recursos vultosos serão usados imediatamente para atendimento das necessidades emergenciais dos Yanomani, no extremo norte do país. Esta será uma questão que demandará muitos recursos à frente também.
Em 2005, quando tivemos a II Conferência Nacional do Meio Ambiente, fui delegado eleito por Santa Catarina. Naquele março, terminava a I Conferência Nacional de Cultura, em Brasília, e começava ao mesmo tempo a de Meio Ambiente. Na mesa estavam Gilberto Gil, ministro de Cultura (que até cantou um pouco para os delegados) e Marina Silva. Depois que Gil encerrou a Conferência de Cultura, Marina abriu a de Meio Ambiente. Havia um clima um pouco tenso por conta de algumas questões ambientais nacionais, como a da hidrelétrica de Balbina e a da aplicação dos recursos do Fundo Amazônia. Enquanto Marina falava, algumas pessoas faziam provocação (no bom sentido) para que ela falasse sobre os temas “espinhosos” e ela o fez. Ela pediu que dissessem sobre o que ela deveria falar e sem buscar qualquer anotação foi respondendo uma a uma as questões postas, colocando sua posição que, às vezes, divergia das de membros importantes do governo. Ali percebi, ainda mais, o quanto ela era autêntica nas suas posições.
Conto isso para dizer que tenho uma expectativa muito positiva sobre a sua gestão, sobre a importância da proteção ambiental e da produção em padrões sustentáveis. Já existem acenos muito interessantes neste sentido, que incluem agricultura de baixo carbono, fortalecimento dos pequenos produtores, ampliação do uso e do desenvolvimento de tecnologias limpas. A reativação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), do qual tive o privilégio de fazer parte, por dois anos, e já anunciada, traz de volta o controle social, no que se associa à retomada das conferências, inclusive as escolares.
É claro que não é fácil criar este futuro mais sustentável. Imaginar é bem mais fácil. Dependemos de fatores e interesses internos e externos nada nobres também. Será uma luta árdua, que precisa envolver toda a sociedade, mas, por outro lado, fico imaginando a tragédia que seria termos a boiada passando por mais quatro anos.
José Sommer, professor, biólogo e educador ambiental.
Ótimo texto! Lucidez! Parabéns
Não consegui ler até o final… difícil aturar essa patrulha vermelha do globalismo…
Agora vai ficar bom… bom para as ONGs…
Professor.
Você não deveria ser tão ingênuo.
Será a volta das Ongs que só querem usufruir das riquezas do nosso Brasil.
Não pense você que o Brasileiro não acordou.
Tem pessoas que são ingênuas ou são coniventes.
O discurso desse povinho da extrema direita é sempre o mesmo blá blá blá Olavista … o filósofo dos imbecis. Mas tem cura!