País do Futebol, com lindas praias, com uma gastronomia fantástica, com uma imensa biodiversidade, um povo conhecido pela leveza de seu samba. Mas será que o Brasil é assim no imaginário coletivo? A ideia que transmitimos para as demais pessoas no mundo, é nossa realidade? O que é real ou só um estereótipo de nosso país? A autora contemporânea de Cabelo de Lelê apresenta nossa história e traz importantes reflexões em seu enredo.
Traz a África o continente que talvez é o que mais tem relação com nossa identidade, com a história e formação do nosso território, a expectativa para uma realidade diferente, a chegada numa terra desconhecida, que durante sua travessia trouxe dessabores contadas também em outras literaturas, que expõem os sonhos e medos, a vida e morte dos antepassados, o sofrimento e amores perdidos.
Mas a maior reflexão faz relação com os cachos do seu cabelo, que numa tentativa de entender sua história procura em livros, não tão somente olhar para o espelho e ver o que está diante dos olhos, deixou de acreditar no que foi descrito pelos ancestrais e buscou o conhecimento, entender a partir dos estudos da história compreender sua realidade, tirar suas conclusões com a busca pelo saber.
Apesar ter grande extensão de terra, o Brasil é um país de grandes contrastes, entre esses aspectos destacamos: climas, vegetação, uma variedade tipos de solos, bacias hidrográficas importantes, e grandes espaços potencialmente habitáveis, e lembrar da importância que tem a sociedade e natureza, nossa relação com o espaço geográfico e a geografia histórica.
O território brasileiro vem se definindo ao longo de seus 520 anos, quando os portugueses chegaram e vem até o atual cenário de mudanças políticas. Essa ocupação alterou as paisagens, sua dinâmica, sua produção, seus costumes, sua cultura. Processo esse, marcado por muitos disputas e conflitos, que estão presentes até os dias atuais, principalmente nas questões agrárias, políticas, econômicas, étnicas e ideológicas.
E para entender toda essa dinâmica da geografia histórica, precisa seguir o exemplo da personagem do livro, Lelê foi atrás da informação, e estudou a ponto de transformar seu conhecimento. E fez Lelê refletir na importância de pesquisar, de ler sobre determinados assuntos, principalmente da a história da formação de nosso território, pois o passado reflete e muito nosso presente.
De início a personagem não aceitou sua cor e seu cabelo, e quantas Lelês temos atualmente? que pela segregação racial impostas pela sociedade “branca”, acentua a desigualdade. Muitos ainda nos dias atuais recebem menos salários, acumulam mais anos de escolaridade, pelos simples fatos de não conseguirem adentrar em uma universidade, por mais que o sistema brasileiro atualmente numa tentativa de igualdade criou o sistema de cotas.
Lembrando que na história brasileira, os negros foram trazidos para o trabalho nos engenhos de açúcar, onde muitos dos escravos vieram contra sua vontade. Nossos antepassados não trouxeram somente avanços na economia brasileira e na formação do território, mas a rica cultura, gastronomia, religião, entre outros conhecimentos.
Por fim Lelê aceita sua história e de como temos influência africana, está nos ritmos musicais que vem do samba, a feijoada na gastronomia que foi adaptada ao território brasileiro, e as vestes africanas de algumas regiões nordestinas com influência de colares, brincos, e algumas palavras de nosso vocabulário, a arte e o artesanato, na religião do candomblé do continente africano e a umbanda do território brasileiro, porém com relação com entidades africanas.
Porém nosso país é tristemente contrastante, descrita pelo geografo Jurandir Ross é rico em recursos minerais, mas não consegue reduzir o desequilíbrio ambiental, soma espécies ameaçadas de extinção. Tem grande riqueza hídrica, mas boa parte está poluída, necessitando a implantação de um sistema de saneamento básico, tem grande produção de resíduos sólidos, mas recicla pouco. E acima de tudo, deve se pensar na marcante desigualdade social econômica.
Por fim a personagem Lelê aceitou sua história, soube que carrega em seus cachos as memórias históricas, e compreendeu geograficamente nossa relação do passado com nosso presente. E entender a história, ajuda não reduzir o país a estereótipos, sejam eles, socio economicamente ou ambiental. Pois sua extensão é cheia de contrastes e diversidade que lhe torna único, contrastes esses que deve-se observar para compreender suas peculiaridades, e amar o que se vê.
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