A demissão dos três comandantes das Forças Armadas, feita pelo presidente da República, simboliza um divisor de águas ao separar conservadores de reacionários. Se a carroça não tombar, as melancias se ajeitam e o fato histórico se torna uma lição, nos permitindo a ousadia didática de uma carta aos conservadores. Nela, dois pontos: 1) a observância do irônico paradoxo, segundo o qual, os insurgentes às instituições democráticas foram educados e mimados por concepções de mundo progressistas; seguida 2) de um perfil do conservadorismo que urge e enterre esperanças e medos de um golpe institucional, com o fim de uma relação de fidelidade canina que nunca existiu.
Ao que parece, foi a decisão de “preservar as Forças Armadas como instituições de Estado”, não as sujeitando à vontade do governante, o estopim da demissão do ex-ministro da Defesa, general Azevedo e Silva, levando os ministros da Aeronáutica e da Marinha consigo. A atitude dos oficiais revela o perfil constitucionalista das Forças Armadas Brasileiras, 57 anos após a intervenção de 64. E a “infidelidade” ao despotismo cela a diferença entre o conservadorismo militar com base na lei e o reacionarismo do governo com base na vontade pessoal: a mesma cisão que esfarelou o velho mundo sobre cujas ruínas a contemporaneidade edificou o Estado liberal-democrático.
Que me dêem licença os reacionários (e pseudo-revolucionários) e suas urgências em mudar tudo sem conservar o que consideram um estorvo institucional: as instituições (comunistas pra uns, burguesas pra outros) são a própria garantia legal que eles têm de contestá-las. E, para além das instituições legais, tão democraticamente sofisticadas que permitem ser insultadas em nome do combate à corrupção e em favor da idolatria ao supremo líder que lhes convém adorar – Bolsonaro ou Lula -, está a instituição educacional que lhes forjou, formou e mimou. Acontece desde os anos 80, nas universidades e nas escolas que formaram os 50tões, 40tões e 30tões de hoje.
É que, a partir do ocaso da ditadura – que proibia contestações, a Educação brasileira se libertaria do ensino autoritário, dando lugar às ideias libertárias da França de maio de 1968. A ideia geral: contestar as instituições, que representariam a dominação opressora sobre os direitos dos indivíduos. Todas deveriam ser refutadas em nome da liberdade de expressão e autonomia do indivíduo sobre o seu corpo, oprimido pelas estruturas jurídicas. Não é injusto, imoral, nem inútil criticar políticos e juízes em nome boa política, muito pelo contrário. Mas pedir o fim do equilíbrio entre os poderes é uma demonstração de ignorância. Vai ler um livro.
Hoje, quando o pessoal vai às ruas pedindo o fim do Congresso e do STF, tem todo o direito de fazê-lo, mas precisa saber de duas coisas: 1) que esse direito foi instituído pelo Legislativo e é assegurado pelo Judiciário; 2) Que quando o faz, revela toda a rebeldia anti-conservadora aprendida com os progressistas que tanto odeiam. Exemplo disso são essas crianças adultas, algumas eleitas, pedindo o fechamento das instituições, incitando policiais e população contra governadores e juízes e coisa e tal. Youtubers “anti-comunistas” de apartamento, com sotaque de novela da Globo, que nunca viram uma enxada na vida, quanto menos uma foice e um martelo. E se dizem conservadores!
Não! São reacionários que se imaginam conservadores, conscientes de que educados por pressupostos da esquerda pós-marxista, muito bem assimilados pelo liberalismo econômico. Do mesmo modo que os identitários que politizaram seus corpos e caíram nas garras do consumismo, esses reacionários só falam em direitos individuais, sem a menor empatia com a Sociedade. É praticamente o avesso do conservadorismo, fazendo lembrar a tese da ferradura, segundo a qual os extremos estão muito próximos entre si. Nunca entenderão as palavras replicadas por conservadores como Clemencau, Churchill, Friedman e Roberto Campos: “quem não foi socialista aos 20, não tem coração”.
Ser conservador é adquirir respeito pela herança histórica das gerações. Esse apego resulta de consciência orgânica e evolucionista de esforço próprio aliado à ajuda mútua e amor à Civilização. Pra lembrar o sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917), o conservador não vê a Sociedade como um amontoado disperso, mas como um organismo de indivíduos e instituições em cooperação pelo equilíbrio social. Nunca esgoelará “fechem o STF e o Congresso”. Seu lema é “ordem e progresso”. E o papel de qualquer governo não é ser senhor; é servir, como fazem as Forças Armadas, que servem à Constituição e não ao déspota ignorante, para o desalento dos reacionários.
O sonho do AI 5 acabou e com ele o fim de uma esperança romântica de um mundo liderado por tiranos intuitivos que mereçam quem lamba suas botas pelo favor de ter livrado as nações de juízes, deputados, jornalistas e intelectuais, gays, lésbicas, putas e ideologias de gênero. No fundo, a decepção dos reacionários só tem uma causa: a própria indisposição mental, eufemismo à ignorância, a falta de leitura que os levaria à noção mínima do que gostariam de ser chamados: de conservadores. Que ao menos assistam as aulas do filósofo Olavo de Carvalho e ouçam dele o que não querem: parem com essa bobagem de bradar o fechamento das instituições. Vão ler um livro.
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O Sociólogo Walter tem toda razão;
O conservador vê a Sociedade como um organismo de indivíduos e instituições em cooperação pelo equilíbrio social. Seu lema é “ordem e progresso”. E o papel do Governo, do Congresso e do Judiciário não é ser senhor; é servir, como fazem as Forças Armadas, que servem à Constituição, para o desalento dos reacionários.
O Sociólogo Walter tem razão:
O conservador vê a Sociedade como um organismo de indivíduos e instituições em cooperação pelo equilíbrio social. Seu lema é “ordem e progresso”. E o papel do Governo, do Congresso e do Judiciário, não é ser senhor; é servir, como fazem as Forças Armadas, que servem à Constituição, para o desalento dos reacionários.
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