Opinião | Ciro Gomes despertou! E é vital que assim permaneça

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Ciro Gomes acordou para uma série de problemas políticos fundamentais. Muito tarde para essas eleições? Sim, mas antes tarde do que nunca e a disputa por 2026 já começou.

Qualquer leitor que busque os conteúdos produzidos por mim sobre política nacional nesta coluna verá todas as críticas construtivas que fiz ao PDT e, especialmente, ao Ciro Gomes, em artigo publicado em 14 de maio do ano passado. Não adianta querer improvisar “antiprogressismo” repentino um dia, para acariciar a “esquerda caviar” e suas pautas na semana seguinte. Os conservadores são um público cínico e desconfiado. Para conquistar seu voto é necessário um trabalho de longo prazo, honesto e duradouro. Quanto à esquerda hegemônica, adepta do liberalismo libertário cosmopolita, ela está engajada em uma cruzada de engenharia social total a nível global. Está fechada para autocríticas ou negociações. Se é oferecida a mão, eles pedirão o braço e o descarte será efetuado na primeira oportunidade.

Nunca fez sentido o projeto de disputar o eleitorado de Lula e se colocar como uma espécie de centro-esquerda “alternativa” e “com projeto”. A linha do PDT e do Ciro sempre foi confusa. Uma hora se colocava como terceira via, outra hora se colocava como esquerda, para no final ter um eleitorado de direita “sem querer”. Isso é demonstração de falta de visão clara e de compreensão do povo brasileiro e da realidade política do século XXI. Até hoje todas as pesquisas e enquetes sempre demonstraram que o povo brasileiro é razoavelmente social-democrata na economia e moderadamente conservador nos costumes. Nesse sentido, um projeto alternativo ao bolsolulismo sempre passou por abraçar essa realidade, superando a dicotomia direita/esquerda em uma linha de “esquerda na economia, direita nos valores”, conforme o binômio da terceira posição simplificado pelo sociólogo e polemista francês contemporâneo, Alain Soral. Esse é ainda um campo inexplorado na política brasileira nos últimos 15 anos e com muito potencial, haja vista o fenômeno populista internacional.

E, por isso, me parece salutar para uma compreensão fiel no cenário político doméstico, o distanciamento em relação à esquerda caviar, ao exército de militância progressista de redes sociais, e uma aproximação com as raízes populares do povo, encontradas no Brasil mais popular, equidistante do metaverso. Essas são as origens do trabalhismo, nascido no Pampa, no extremo interior da ponta sul de nosso país, e espalhado e fortemente enraizado exatamente nos recônditos mais populares da Pátria.

É preciso que seja esclarecido: o trabalhismo nunca foi de esquerda, sempre foi uma terceira posição com as sementes de uma quarta posição (pensando, nesse caso, de acordo com o pensamento do filósofo russo, Aleksandr Dugin). E o socialismo moreno de Brizola nunca teve qualquer relação com o marxismo. O choque do antagonismo da coalizão apátrida da esquerda liberal, da classe jornalística, da classe artística, da classe pseudo-intelectual, dos representantes do sistema financeiro e de outros lobbys, trouxe Ciro Gomes à realidade e, espero, permitiu que as linhas de demarcação Amigo/Inimigo ficassem mais claras para ele.

São essas forças supracitadas que um candidato que se abraçou na herança trabalhista e desenvolvimentista deve considerar como opostas, irreconciliáveis. Não há meio-termo nessa dicotomia. Ciro Gomes já fez menções à multipolaridade e aos lobbys globalistas, portanto, evidentemente ele se colocou a ler e estudar, como estudioso patológico que é, o cenário geopolítico que orienta todo o resto. Um quadro político como ele, que assumiu a figura de principal liderança do trabalhismo e do nacional desenvolvimentismo, ainda que atualizados, precisa conceber o cenário nacional (e parece que agora está) como um enfrentamento apocalíptico que só pode culminar no triunfo absoluto do povo como construtor do destino ou seu desaparecimento em uma multidão amorfa desenraizada, escrava da elite mundial. Se Ciro Gomes realmente entendeu isso ele precisa se livrar dos “maus conselheiros” de seu partido e que querem sabotá-lo pela subjugação ao PT e ao globalismo.

Só teremos certeza no futuro, mas reiterar que o país está sob duas opções insatisfatórias e não dar as caras em palanque de ninguém no segundo turno, já é um bom começo.

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