O título, é inspirado no termo “Cogito ergo sum”, de Descartes, que é traduzido como “Cogito logo existo”. Esta releitura, se tornou, “Penso logo temo”, como uma forma de demonstrar o temor, a preocupação com o contexto social, que considera os elementos de informação e conhecimento como algo secundário na sociedade brasileira.
O universo da informação em muitos momentos, tem oportunidades sutis, que permitem, se observadas de maneira atenta, uma compreensão mais clara do mundo real. Se anteriormente, foi realizada uma reflexão sobre a crise educacional, com base em uma expressão de Darcy Ribeiro, agora, se observará um elemento seguinte a formação escolar, o ensino superior.
Durante as apurações dos votos dos pleitos eleitorais do ano de 2022, uma informação, a princípio sem importância, mas de graves consequências, foi divulgada. Esta informação, divulgou que, a maior quantidade de brasileiros votantes na América Latina, está na Argentina. Esta grande quantidade de brasileiros, está no país vizinho, para cursar o ensino universitário.
Pois bem, caro leitor, neste momento, talvez você diga, e daí, eles estão apenas realizando o ensino superior. Bom, perder uma condição de protagonismo, nos campos de ensino e pesquisa, para um país gigantesco e rico como o Brasil, é algo grave. Afinal de contas, a ida de brasileiros a outros países, mesmo que seja para uma formação formal, significa a migração, fuga de mentes.
São estas mentes, que geral desenvolvimento científico, humano e social (termos que em grande medida, podem ser considerados como sinônimos). A veiculação de que, as pessoas estão indo para outras nações, buscando o desenvolvimento de suas áreas de atuação, é uma grave sinalização de que, há um grave desrespeito pelo direito de um direito básico, a educação.
A dificuldade de ingresso em alguns cursos, como o de medicina (que é um dos responsáveis pela grande migração de acadêmicos à Argentina, dentre outros países), bem como o baixo investimento em pesquisa, bem como em bolsas de estudo, são uma demonstração da fragilidade do universo acadêmico. Afinal de contas, um país, com proporções continentais, evidentemente, precisa de médicos, dentre outros profissionais.
Se pode observar que, diferentemente de outros cursos, que são oferecidos em larga escala por instituições brasileiras, inclusive com um preço acessível (e qualidade questionável), algumas áreas de saber são negligenciadas no processo de incentivo ao saber. Esta forma de conceber o ensino superior, é um reflexo de uma sociedade que, pouco avançou em décadas, séculos, na forma de se relacionar com o conhecimento.
O exemplo usado, do curso de medicina, evidentemente, não é uma situação exclusiva, apenas a situação que aparece de forma mais ampla, representando uma quantidade maior de indivíduos, de profissionais sendo formados. Isso, tendo por base o ensino superior, a formação de baixareis, ou licenciados, ou seja, uma formação superior básica.
É neste momento que, muitos acadêmicos, além de garantirem sua formação profissional, se identificam com uma linha de pesquisa, como forma de aprofundar suas reflexões e conhecimentos. Desta maneira, realizando seus estudos em outro lugar, conhecendo outras realidades, é a respeito delas, que ele irá promover suas reflexões, não sobre a realidade brasileira, aprofundando o conhecimento sobre a realidade na qual está inserido.
Nesta direção, é fundamental que se compreenda de maneira mais adequada, mais esclarecida a concepção de conhecimento. Este conhecimento por sua vez, causa desenvolvimento em diversos aspectos da sociedade, seja através do exemplo da medicina, ou em áreas como as engenharias, dentre outras searas do saber. O conhecimento, além de promover o desenvolvimento, é também um meio de promover uma interpretação mais lúcida sobre o mundo ao redor.
No curso da história humana, não houve nenhuma civilização, nenhuma nação que se tornou referência, que tenha negligenciado o conhecimento científico. Aliás, muito pelo contrário, as nações desenvolvidas, captam mentes, seja nativas de seus domínios, sejam de outras nações. O conhecimento, gera uma visão mais ampla da realidade, promovendo um desenvolvimento humano, que acaba se refletindo no desenvolvimento de corpo social.
Portanto, se pode perceber que, negligenciar a produção do fazer de conhecimento científico, não é apenas uma forma irresponsável em pensar a forma de promover investimentos. Deve ser uma questão de temor, a negligência com a percepção de ciência. Cogito ergo timeo, é uma reflexão, um ato de cogitar, onde timeo, o temor, dever ser considerado uma forma de preocupação, de responsabilidade coerente para promover as transformações necessárias na sociedade.
Se pode concluir que, cogitar logo temer, é um meio de refletir sobre o rumo das ações sociais acerca da realidade em que vive. Esta reflexão, deve promover uma concepção mais esclarecida sobre a realidade, tornando possível compreender o mundo e a si, participando de modo positivo para a construção da realidade local. Esta ação de cogitar, promoverá profundas melhorias nas realidades, sem que seja necessária a migração de mentes.
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