É dura a vida do brasileiro: se não quer saber de política, acaba acreditando nas histórias mais absurdas, mas se tenta… basta uma olhada nas inúmeras Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) em Brasília para ficar com preguiça.
Na investigação sobre o vandalismo do dia 8 de janeiro, nesta semana as atenções estiveram no general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Bolsonaro. Convocado como testemunha, ouviu nada menos que 49 parlamentares, cada um podendo falar por 10 minutos. Ao todo, isso dá mais de oito horas, tempo que sempre é acrescido por interrupções e intervalos.
Não bastasse o “chá de cadeira”, haja paciência para escutar senadores e deputados, em tom inflamado, repetindo os mesmos fatos e acusações ao longo do dia. Uns da oposição, outros da situação, mas em geral, mais preocupados em falar para a sua bolha na internet do que em apresentar algum dado novo ou pergunta útil. Um exemplo disso foi a provocação da relatora Eliziane Gama (PSD), ao perguntar se Heleno ainda achava que as eleições foram fraudadas, e após ele ter dado a entender que não houve problema, ela comentou: “então o senhor mudou de ideia, né?”. Arrancou risadas dos presentes e palavrões de Heleno, mas no que isso auxilia a investigação?
Picuinhas e embromação que deixam qualquer um, como disse o próprio general, “put* da vida”. Mas isso não é privilégio de Brasília, basta ir nas sessões das Câmaras de Vereadores pelo país para ficar entediado rapidamente. É muito blá-blá-blá e pouca objetividade. Assim fica complicado para o pagador de impostos, já bastante ocupado com os seus próprios problemas, se interessar e entender de política. Até porque o sono costuma ser um oponente impiedoso.
Gol contra
Anielle Franco (PT), ministra de Igualdade Racial, e André Fufuca (PP), ministro de Esporte, foram até a capital paulista assinar um protocolo de intenções de combate ao racismo no esporte. O problema é que eles aproveitaram a viagem, feita em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), para conferir a final da Copa do Brasil, entre Flamengo e São Paulo. Há quem defenda, mas que ficou estranho, isso ficou.
No caso de Fufuca, não vai cair porque foi uma luta a articulação com o PP para colocar ele no governo. Já para Anielle, irmã da falecida Marielle Franco, foi uma “bola fora” digna de quem está querendo ser demitido. Entretanto, cada um ganhou um cartão amarelo e o vermelho ficou só para uma assessora da ministra, que perdeu o cargo por uma postagem durante a viagem. Enfim, alguém tinha que pagar o preço, não é? É isso aí que muitos chamam de “boi de piranha”, e já que o sacrifício foi feito, agora os demais seguem no jogo.
Apesar de essas coisas ainda acontecerem por aqui, há lugares com mais problemas. Na Colômbia, por exemplo, no dia 26 o presidente do Tigres, clube da segunda divisão, foi assassinado após uma partida. A polícia ainda investiga a motivação, mas esse não é um caso isolado, sendo o mais famoso ocorrido em 1994, quando Andrés Escobar, zagueiro da seleção colombiana, foi assassinado após fazer um gol contra que eliminou a seleção deles na Copa do Mundo.
Nesse quesito, o máximo que acontece por aqui é dirigente de clube ser acusado de morder a virilha de torcedor mal educado, como registrado no último final de semana, em um desentendimento envolvendo Marcos Braz, vice-presidente do Flamengo. Virou briga, mas nada de tragédia, e assim como o rubro-negro na final da Copa do Brasil, a coisa ficou “só no cheirinho”.
Fernando Ringel, jornalista e professor universitário
A relatora da CPMI é a loba cuidando do galinheiro, e os esquerdopatas a vergonha de im país.