A notícia da semana é a indicação de Lula para que o ministro da Justiça, Flávio Dino, assuma uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Como nada é garantido nesse mundo, para ele que ainda precisa ser sabatinado e ter o nome aprovado pelo Senado, a coisa está como na música de Noel Rosa: “Agora vou mudar minha conduta. Eu vou pra luta, pois eu quero me aprumar. Vou tratar você com a força bruta pra poder me reabilitar, pois esta vida não tá sopa e eu pergunto: com que roupa eu vou, pro samba que você me convidou?”
Nas palavras de Dino, “esse é um tema do país, e quem vai, ou pretende ir ao Supremo, evidentemente, ao vestir uma toga deixa de ter lado político. […] Então, a partir do momento em que o presidente faz a indicação, evidentemente que eu mudo a roupa que eu visto. E essa roupa hoje é, em busca desse apoio no Senado, a roupa que, se eu merecer essa indicação, é a roupa que eu vestirei sempre. Que independe de governo ou oposição”.
Tentando surfar a onda na oposição, o Partido Novo até criou um abaixo-assinado contra a indicação do ministro da Justiça. Um dos argumentos é que foi uma indicação política. Mas qual não é? A indicação de Jair Bolsonaro para que André Mendonça, o nome “terrivelmente evangélico” no STF não foi? Enfim, é o “Fla-Flu” de sempre. O meu pode, mas o do outro não.
Entretanto, existe uma questão importante nisso tudo: reza a lenda que, nos tempos do Império, Dom João VI presenteava com cargos em locais longínquos os amantes de sua esposa, Carlota Joaquina. Em um governo com Simone Tebet, Alckmin e Haddad, teria sido a indicação de Dino uma forma de Lula tirar um dos presidenciáveis do páreo?
Que rei sou eu?
Como no Brasil ninguém morre de tédio, a internet desenterra muita coisa que a maioria do povo nem lembra mais. Exemplo disso é o caso de entrevistas antigas de Enéias Carneiro, eterno candidato do PRONA, da economista e ex-deputada Maria da Conceição de Almeida Tavares e, nos últimos tempos, até dos entusiastas da monarquia.
A ideia não é nova porque, após a desilusão com os primeiros anos da redemocratização, coroada com o impeachment de Fernando Collor, há duas décadas era realizado um plebiscito para definir como o Brasil seguiria em frente.
Como ninguém queria perder o gostinho de escolher o chefe do Estado, de acordo com o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), o parlamentarismo conquistou 24,91% e perdeu de goleada para os 55,67% do presidencialismo. Em relação ao tipo de governo, a monarquia ficou com míseros 10,25% e perdeu não apenas da república, mas ficou atrás até dos 13,20% de votos nulos e dos 10,29% de brancos. Se houvesse rebaixamento naquele plebiscito, a monarquia teria caído para a série B.
Aliás, o parlamentarismo foi a ideia que levou intelectuais do MDB, liderados por Franco Motoro, a fundar o PSDB. De lá para cá, fizeram muita coisa importante, como o Plano Real, mas encolheram. Agora, enquanto escolhem o novo presidente da sigla, Eduardo Leite e Raquel Lyra, dois dos três governadores tucanos, ameaçam sair. Se brincar, até em eleição interna eles conseguem perder.
Enfim, a vida tem dessas: hoje uns estão por cima, mas amanhã ninguém sabe.
Fernando Ringel, jornalista e professor universitário
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