Diante do “economicismo” que tomou conta do país, a partir da usurpação do governo central, vale trazer à tona uma discussão muita antiga sobre o que se entende por desenvolvimento.
Trata-se de conceito que para alguns se cristaliza na ideia (reducionista) de que desenvolvimento tem a ver apenas com a dimensão econômica, enquanto para outros todas as iniciativas, quer sejam do Mercado ou do Estado, devem ampliar o foco e objetivar a evolução em todas as dimensões da humana associada.
Crítico relevante da primeira opção acima mencionada, Celso Furtado assegurou, em síntese, que o desenvolvimento econômico é um mito, basicamente porque gera acentuada assimetria entre os países e internamente a esses entre os indivíduos.
E a frieza dos números parece que lhe deu razão na medida em que está configurado que 50% da riqueza mundial está nas mãos de apenas 1% da população.
A pergunta central dessa abordagem é: porque alcançamos estágios extraordinários de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico em concomitância com condições de vida eticamente inaceitáveis?
Considero, há bom tempo, que as constantes crises que brotam em nossos tempos tem a ver com a falência das instituições que herdamos do início da Modernidade e principalmente da Revolução Francesa. Elas simplesmente não respondem mais à complexidade desta pós-Modernidade (ou qualquer outro designativo concedido a essa era amalucada).
Importa considerar que as instituições se legitimam principalmente quando obtém aceitação e apoio por parte da grei em que estão inseridas e a quem devem servir. Legitimação, portanto, nesse contexto, se refere ao processo que faz com que a cidadania sinta que elas (as instituições) atuam no superior interesse coletivo.
Daí que, em ambiente transformado aceleradamente pela verdadeira revolução que a junção das telecomunicações com a informática, que tempos atrás chamávamos de Telemática e agora talvez de Tecnologia da Informação – TI, era dos algoritmos a “ditar” o rumo das coisas, percebe-se que as nossas instituições se fragilizam ainda mais. E a incerteza e a insegurança se fazem presentes acirrando ânimos e dividindo opiniões, nem sempre de forma “civilizada”.
Nessa perspectiva entendo que não é aceitável que, quando alguém se expressa, alguns se manifestem com rancor, com preconceito e em geral com ofensas rasteiras, sem conteúdo, sem argumento. A pecha de alienado é frequente, mas outras, que pecam igualmente pela falta de criatividade também são comuns. Enfim, acho que são pessoas que temem as ideias.
Isso me faz relembrar uma passagem muito interessante de um “desenho animado” chamado “O Mundo dos Insetos”, fato que quero compartilhar, mais uma vez.
Havia uma colônia de formigas sistematicamente exploradas por um bando de gafanhotos. O gafanhoto líder se chamava Hopper, profundo conhecedor das manhas e das artimanhas da chefia, da liderança e também da opressão. Um belo dia, ele foi confrontado pelas ideias revolucionárias do Flicker, inseto criativo e inconformado com o estado das coisas (formigas subjugadas por gafanhotos). Sem argumentos, Hopper declarou peremptoriamente: “ideias são coisas muito perigosas”.
Ideias não são perigosas, não são venenosas. Ideias fazem o mundo avançar, fazem viver e para aqueles que exercitam a tolerância e a compreensão, as ideias fazem conviver. As ideias podem balançar o “establishment” como aconteceu com a teoria heliocêntrica de Copérnico ou com as teorias de Einstein que mudaram a física clássica, com repercussões em todo o conhecimento humano. Na área das ciências humanas e sociais há hoje uma efervescência crescente. A influência da nova física se faz presente, e o cientificismo exacerbado na lógica e na razão objetiva começa a dar espaço ao intuitivo, refletindo a mudança.
Permito-me acrescentar que segundo Platão, o Homem oscila entre conceitos opostos ― mortalidade e imortalidade, perfeição e imperfeição, tempo e eternidade, ordem e desordem, verdade e falsidade, etc. O Homem encontra-se “no meio de” (entre) polos opostos, e esse “entremeio” onde vive o Homem, Platão chamou de “Metaxia”. Assim a ideia de esquerda e direita não é uma falsa dicotomia, é uma realidade histórica.
Por outro lado, achar que aquele que se alinha à esquerda é simplesmente marxista-leninista, caracteriza um reducionismo obscurantista, semelhante a achar que todo empresário é necessariamente malvado. No que tange ao tema, existem muitas outras contribuições que ajudaram a compor o pensamento esquerdista e o da direita, também. Aliás, nessa linha recomendaria aos dois lados que compulsassem a obra de Guerreiro Ramos (o maior e mais brilhante sociólogo brasileiro em todos os tempos).
Assim, o socialismo evoluiu para o que vem sendo pejorativamente chamado, por alguns, de pragmático por expressar que o socialismo não deve ser confundido com estatização, mas como socialização da política; por defender a construção de formas de propriedade privada e de propriedade estatal, de cooperativas e, sobretudo, de estabelecer mecanismos de regulação que possam direcionar o crescimento da economia para o benefício da maioria. Trata-se de uma abordagem que se preocupa com o meio ambiente de forma estratégica, para o desenvolvimento em harmonia com a natureza; que se preocupa com a socialização do conhecimento, que entende que a comunicação constitui um bem público e que o socialismo deve garantir a liberdade de imprensa, com a adoção de mecanismos combinados de comunicação pública, privada e comunitária. Acredita na diversidade étnico-religiosa, quer contribuir para a paz mundial, que passa pela paz individual e na família, paz que viabilize o diálogo, que incentiva o debate em torno das ideias sem combater o pensador.
Enfim, não se trata de ingenuidade ou ignorância, a ideia é não temer as ideias, nem execrar quem pensa, tampouco reprimir quem se expressa. Ao contrário é preciso estimular o debate, em qualquer esfera. Ideias não envenenam, ideias libertam.
Li e reli o exposto acima “Desenvolvimento Humano”. Não é critica mas o que li é muita história. A preocupação é: Como saímos desse dois extremos: Esquerda socialista/marxista e Direita(sou pela direita hoje). Mas ambas na essência, são parecidas. A esquerda além de concentrar a riqueza, escraviza, a Direita trabalha para concentrar a riqueza em poucas mão, como foi explicitado acima. Pergunto aos digníssimos intelectuais, já que não esta claro para mim em tudo oque vejo e leio: Qual será a saída para descentralizar esta riqueza, a curto e médio prazo?