Neste 08 de Março, muita gente te felicita, te entrega flores, lembrancinhas, chocolates em forma de vassoura, pano de prato bordado etc…
Meus alunos já sabem que não quero ser felicitada por este dia, pois na verdade te dão parabéns por teres nascido com uma vulva. É como dizer: Feliz dia da vulva, da Vagina, da Xereca ou da Pepeca e tantos outros apelidos….
Ninguém parabeniza os homens pelo dia do homem. Por que será? Talvez porque o poder lhe pertence? Porque as instituições de Poder são formadas por homens velhos e brancos?
Só isso para justificar que no ano 2024, onde toda semana morre uma mulher vítima de feminicídio. Os homens alegam na maioria legítima defesa da honra, por terem sidos traídos, por não aceitarem o fim do relacionamento.
Você já viu uma mulher ao matar seu companheiro, alegar legítima defesa da honra? Claro que não. Pois é da natureza masculina trair. Afinal é ruim com ele, pior sem ele. Afinal qual o homem que nunca pulou a cerca?
Quando o homem trai a culpa é da “outra” que ficou se oferecendo para ele. Da “vagabunda” que sabia que ele era casado.
Esses discursos ainda são proferidos pela maioria das mulheres que sempre culpabilizam as outras mulheres e naturalizam o comportamento dos homens. Sou professora do chão da sala de aula há 34 anos e é triste quando vejo as professoras cobrarem roupas “decentes” das meninas para não provocarem uma reação dos meninos. Como assim? A Escola não deveria ensinar o respeito? Ninguém tem o direito de violar o meu corpo se eu estiver vestida ou não. O respeito não se resume em eu usar roupas que vão até os pés e sim no caráter e respeito ao próximo.
Esses discursos reforçam o poder do Falo (pênis) em uma Sociedade Falocêntrica, onde o Deputado Fernando Cury, na ALESP se acha no direito de passar a mão no seio da Deputada Isa Penna na frente do todos. Por que? Ele não se conteve e o falo entrou em erupção quando ele viu um corpo que queria violar. O Conselho de Ética não achou nada de tão anormal nesta atitude. Ok.
Vamos pensar se fosse a Deputada Isa Penna, que colocasse suas mãos no pênis do deputado? Como ela seria chamada? Como seria seu julgamento? Por que ela não poderia estar com a “Xereca” em erupção e passar as mãos nas bolas e no “penizinho” do deputado?
Simples, porque a mulher ainda é vista como figura passiva, e quem detém o poder são os possuidores de “Falo” e por isso não precisamos parabenizá-los por terem nascido com “pênis” já, que já desfrutam do lugar da fala e do Poder Decisório. A Escola reproduz esse discurso lamentável. Os Professores com P maiúsculo, precisam desconstruir, estigmas, estereótipos para descortinar e perceber o que real mente há por trás da comemoração do dia Internacional da mulher. Qual o nosso lugar no contexto social, como realmente somos tratadas?
Na própria escola já acompanhei muitas reuniões onde o diretor gritava com as coordenadoras mulheres e ordenava que calassem a boca. Porém, esse mesmo diretor não falava da mesma forma com os coordenadores e professores homens. Por que será? Quando perguntava por que vocês se submetem a isto? A resposta era: ” ele é meu diretor”.
Eu, não tenho diretor. Já sai da escola faz tempo. No máximo tenho um colega de trabalho. Muitas vezes os diretores eram indicados politicamente, sendo assim, ele me deve respeito, eu sou a Professora efetiva e passei no concurso e mostrei estar apta para a função e, ele? Um oportunista que assumiu o cargo de “gestor” por ter se filiado em um Partido Político. Por que lhe devo obediência? No máximo respeito o que não significa concordar com suas decisões.
Sabe o que é mais triste? Geralmente quando as mulheres chegam no poder a maioria age exatamente como os Machos “alfas”.
Ensinar as meninas a cobrirem as pernas e esconder o corpo para evitar a violência. Acaba reforçando o discurso da Sociedade Patriarcal Ocidental e Cristã. Onde aparecem duas mulheres, a virgem Maria que deu a luz a Jesus Cristo que não foi concebido de uma relação carnal e Eva, a culpada pela nossa expulsão do paraíso.
A mulher virtuosa, que não Transa e não é permitido a ela o prazer e a outra vista como a tentação, sendo culpada pela decisão de Adão de comer do “fruto” proibido.
A escola é um universo onde a maioria são mulheres professoras, cabe a nós desconstruirmos esse discurso e não de mantê-lo ou sustentá-lo.
Se o pensamento crítico se constrói através de uma Educação emancipadora, infelizmente estamos muito longe disto.
Professora Teresinha Cardoso, Socióloga Política, Educadora Sexual e Cientista Social
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