Opinião | Dia do vereador: aquele que não trabalha na prefeitura

Foto: Ricardo Lunge

Amanheci com algumas mensagens no celular de colegas vereadores de diferentes cidades lembrando que hoje, dia 1º de outubro, é o dia do vereador. Pois é, até o vereador tem um dia. Provavelmente você que está lendo essa coluna deve ter feito duas rápidas análises. A primeira: ‘ué, o dia de todo e qualquer político não é dia 1º de abril, dia da mentira?’ e, segunda: ‘pra que dia disso? Vereador não faz nada’. Bom, acredito que tenho experiência – mesmo que miníma – para escrever sobre esse assunto, uma vez que estou no meu segundo mandato exercendo a vereança na cidade de Gaspar e atuando nos bastidores da política desde os 16 anos.

Quando eu assumi em 2017 uma cadeira na câmara eu sabia que não seria uma tarefa nada fácil. A política é desgastante e muitas vezes dolorosa, principalmente para quem realmente está disposto a trabalhar e mostrar serviço para a comunidade, pois você deixa seu próprio tempo de lado pra se dedicar às pessoas e, convenhamos, a coisa mais preciosa da nossa vida é o tempo. A sensação é de que tudo de ruim que acontece em Brasília se torna culpa do vereador e isso ocorre porque até hoje o Brasil não entendeu a função desse legislador.

Sempre deixei muito claro nas redes sociais ou em conversas com moradores que a principal função do vereador é fiscalizar o Poder Executivo – no caso de município seria supervisionar, observar e vigiar as ações, decisões e serviços da prefeitura. Além disso, também é responsabilidade do vereador levar as reivindicações do povo ao conhecimento do prefeito (a), vice-prefeito (a) e dos secretários (as), propor leis e sempre ser o porta-voz do coletivo. Não constam como funções do legislativo a compra de rifas, cartões de pasteis, patrocínios de festas, doação de cesta básica, dar jeitinho na prefeitura, conseguir vaga em creche, hospital ou usar o cargo para obter vantagens pessoais ou benefícios para qualquer indivíduo.

Ah! É importante lembrar também que o vereador não trabalha na prefeitura. O local oficial do seu trabalho é na Câmara de Vereadores. O vereador também não tem como solucionar os serviços de manutenção como, patrola, macadame, caminhão pipa ou fazer asfalto em ruas, construir escola ou unidade de saúde. Isso tudo quem tem que fazer é o prefeito (a)! Mas, claro, o vereador sempre pode sugerir, batalhar, se esforçar para ajudar na execução dessas melhorias, mas nunca se esquecer ou se omitir da sua verdadeira e principal função.

De fato é o vereador que vive e convive diariamente mais próximo da população. É ele que frequenta o mercado do bairro, o comércio local ou caminha nas ruas. Por isso, para o vereador, dizer ‘não’ ao cidadão é quase uma afronta, pois parece sempre que você está em dívida com as pessoas mesmo exercendo sua função com responsabilidade. Porém, nem tudo o que a população pede é possível de se fazer. Nem tudo está nas nossas mãos e nem toda demanda ou reivindicação é legal. Honestamente? Eu também não gosto de dizer ‘não’. Seria muito mais prático e fácil apenas dizer ‘sim’. Conseguir tudo para todos. Rápido, sem burocracia ou chorumela.

Continuam sendo tempos de muita escuridão na política. É um trabalho que boa parte não leva a sério. Mas eu também sei que há muita gente boa espalhada pelo Brasil que participa da boa política com entusiasmo, fé e pé na estrada. Se você discorda de mim, sugiro que você coloque o teu nome à disposição, dispute uma eleição, arregace as mangas e mude o que não está a contento. Uma andorinha voando sozinha não faz verão, mas em bando podem transformar. Que nós eleitores saibamos diferenciar os poderes e suas competências. Para alguns política é problema, mas na minha visão, ela é solução, a única ferramenta capaz de realizar grandes mudanças.

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