Opinião – E se o shopping quebrar?

Foto: divulgação

Nada interferiu tanto na cultura, na urbanidade, arquitetura e na organização das cidades como a criação dos shoppings. Estes empreendimentos ganharam popularidade após os anos 1990, principalmente com a estabilização do Real, controle da inflação e crescimento da renda das famílias. De lá pra cá, o mundo foi varrido por fortes transformações, além de, no Brasil, voltarmos a conviver com os fantasmas de descontroles de preços, volatilidade da moeda, incerteza política e empobrecimento geral. Esta dura combinação pode provocar o fechamento dos grandes centro comerciais?

Já faz um ano que encerrei minha experiência de lojista no Neumarkt, o mais tradicional e antigo destino de compras do blumenauense neste estilo que reúne em um ambiente diversas marcas. Esta dúvida, da sobrevivência, também foi minha quando o calendário aproximava o tempo de renovar ou não o contrato com o grupo Almeida Junior.

E se o shopping quebrar? Era o questionamento que eu repetia, buscando imaginar qual seria o melhor para o meu negócio. Meses depois de deixar no passado a esgotante rotina de lá, hoje eu estou feliz, mais realizado e tranquilo com a decisão de ocupar outro espaço.

Em Blumenau, a história do varejo de shopping começou em 1993 com controversas envolvendo desde o local de instalação, o trânsito e o impacto que causaria na rotina dos moradores. Muito em função disso a rua XV de Novembro foi completamente reestruturada, oferecendo um pouco de esperança para o que restou, na época, do comércio localizado na região.

Quando tudo era mato, o shopping foi a modernidade, o espaço de lazer e compras, o ar condicionado para os dias de calor. Lentamente a cidade foi recuperando o prazer de estar na rua, ao ar livre, contemplando, unindo as renomadas edificações, a cultura local e desejo de fazer de cada loja um stammtisch. Com o resgate das vias públicas centrais, as inovações surgem em cada esquina, trazendo novos visitantes, clientes, e uma reocupação orgânica dos espaços públicos. Adicionando valor para o convívio comunitário.

Com as ruas recebendo estímulos para reinventar a vida todos os dias, os shoppings, ao meu ver, precisam acelerar as invenções para atender o desejo dos consumidores ou, esperar a inevitável quebra. Não dá para aguardar anos de goteiras para reformar um telhado, revitalizar uma faixada, consertar um ar condicionado e entregar atrações para a comunidade. Nos mais diversos países o mercado tem apontado para este desafio de manter lojistas e seus clientes dentro de centros comerciais.

Tudo que envolve um shopping possui montantes financeiros bastante elevados, do ar que você respira ao contracheque dos colaboradores. Na média, um superintendente de shopping no Brasil – não desmerecendo o trabalho – recebe um salário três vezes maior que o prefeito de Blumenau, por exemplo. Além de uma série de regras que favorecem apenas um lado: o do proprietário do shopping.

Para o lojista apenas sobreviver por lá, o faturamento precisa ser muito, muito… elevado. Ou um bolso infinito para compensar as perdas. Sem vendas você senta e chora. Com muitas vendas também! Pois o volume de reposição de mercadoria, impostos, aluguel proporcional, energia também bastante alto. E ai, amigo, é aquele desespero: o ticket de compra não pode cair um mês para não ferrar tudo, e as jornadas de trabalho parecem desobedecer o relógio. Aqueles que desconhecem uma operação de shopping jamais conseguem imaginar o que é aquilo.

Seria bastante interessante se todos os jovens, especialmente os mais privilegiados de cor e classe social, antes de ingressar na vida adulta tivessem uma experiência profissional em shopping. Um papo que fica para outra ocasião, com todas as lições que existem por lá.

Se os shoppings quebrassem, tenho certeza que as tecnologias, que trouxeram a redução drástica de custo e a comodidade de encontrar tudo na palma da mão, teriam um papel importante nesta história. Mas, a arrogância e descaso de administradores que não aceitam a rápida transformação cultural que o mundo está vivendo pode ser preponderante para o fracasso deste modelo de negócio.

O velho acolhimento e o contato do amigo lojista com a comunidade faz a resiliência do pequeno comércio local. O que carrega o sentimento que, ao viver um momento de forte redução de renda, aceleração do IGP-M, de inflação, a rede a apoio da rua ajuda na superação das dificuldades do momento. Distante das geladas paredes de um só vencedor.

E se o shopping quebrar hoje? O que a cidade faria com aquela imensa estrutura abandonada?

5 Comentário

  1. Sou um não usuário de shopping convicto … prefiro as lojas “de rua”, especialmente de bairro.

  2. Sobre a muito bem elaborada matéria acima, posso afirmar que o varejo consegue se reinventar, afirmo isso pois atuo no ramo de comercialização e administração de Shoppings há 42 anos.
    O Shopping tomado como exemplo nesta matéria foi meu desafio em 1993, quando contratado fui pelo Grupo Almeida JR para comercializar até a sua inauguração, e pós inauguração. Não, os Shoppings não vão quebrar, já superaram momentos mais tenebrosos no varejo, e eles continuam sendo os atraentes templos de consumo.
    Milton Tadeu de Abreu.

  3. Concordo, com a questão de contrato é bem instável essa situação, tenho loja no shopping em questão, na rua muitas vezes essa situação de contrato é a mesma coisa se vencer o contrato o dono da sala se dele
    Não quiser renovar ele não é obrigado

    Mais o dono de imóvel comercial na rua tem a mentalidade de se o inquilino está pagando em
    Dia o aluguel vou manter ele…

    No shopping até o ar que você respira é cobrado, e no fim o lojista fica de mãos atadas e acaba fazendo marketing para o shopping, porque para o cliente vir até a sua loja você é obrigado a divulgar o shopping neumarkt

    E pra você fazer uma simples panfletagem na cancela do estacionamento é uma fortuna tudo você é obrigado a pagar, não tem apoio nenhum

    O Shopping Neumarkt não investe nada em marketing, você não vê nenhum Autdoor na cidade do shopping, não vê um anúncio patrocinado do shopping nem nada nas redes sociais

    E o aluguel é super elevado, e o problema maior, é noque quanto você mais fatura mais o shopping te come dinheiro de todos os lados

    Foi uma experiência boa, mais ao vencer meu contrato contrato pelo andar da carroagem não irei continuar como lojista

    Mais é mais pelo fato de contrato mesmo, você investe 200 mil e no dia seguinte eles podem te mandar embora pelo fato de o contrato ser leonino então somente o shopping tem direitos você acaba sendo um “sócio” que investe dinheiro mais não tem direito a participação dos lucros da empresa.

    Como empresário, ou você tem muita grana pra queimar e correr esses riscos.

    Ou você tem uma loja para fazer “marketing”

    Na segunda opção no meu ver não faz sentido pelo fato que comentei acima, a loja que vai acabar atraindo o público pro shopping

    Porque se abrir uma starbucks por exemplo o cliente vai vir visitar a starbubucks e o shopping, vai lucrar em cima dele, no estacionamento, e o cliente vai vir pro shopping e acabar conhecendo o shopping

    Ou seja o shopping ganha de todos os lados…

  4. Muito interessante a analogia do texto proposto, claro que é notável identificar a insatisfação em relação ao shopping em questão. Mas falir? Uma chamada muito forte, para tentar entreter de alguma forma o leitor, e realmente entreteve.

    Mas você já parou para olhar ao contrário, de quantos empregos diretos os 3 shoppings da cidade geram? São mais de 500 empregos por shoppings, desde quem trabalha nas lojas e quem trabalha diretamente ligado ao empreendimento em si.

    O shopping é obrigado a fazer outdoor? E acredito que, se a pessoa que diz que tal shopping não patrocina nas redes sociais, a mesma não deve acompanhar as redes, porque os 3 shoppings estão muito online, um mais que o outro. O marketing trabalha, e muito para poder atender os mais diferenciados perfis de clientes que passeiam, na maioria das vezes são diversos eventos gratuitos, desde apresentações de teatro ou outro tipo. O que é não investir em marketing? Na verdade, o que para você significa marketing? Saiba, que o trabalho de marketing em shopping center é muito diferente de outros, pela amplitude que o departamento precisa cuidar.

    Enfim, cada um com sua opinião. Mas shopping falir, é uma ideia meio descabida.

  5. E se eu te disser que que a Almeida Junior está quebrando? Estão desesperados pela abertura de capital, já estavam antes da pandemia. Agora estão desesperados para conseguir um investidor internacional. Demitiram vários colaboradores, outros tantos estão desistindo da rede por conta dessa situação e da maneira como são tratados, em especial pelos proprietários, que mandam e desmandam sem nenhum profissionalismo como se aquilo fora um brinquedo, o que deixa colaboradores e lojistas completamente descrentes. Em 2022 o desespero bateu forte e fizeram reajustes estapafúrdios e muitos lojistas de longa data desistiram.

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