Opinião: em 2020, comemorar o Natal é um ato de resistência

Imagem: reprodução

Esta semana comemoramos o Natal. Gosto do simbolismo que essa data carrega, especialmente a ideia do Natal mais simples. O Jesus dos evangelhos nasce na Palestina do primeiro século. Uma região que sofria com uma intervenção militar romana. O poder político era legitimado por uma inescrupulosa aliança entre o poder religioso judeu e o poder político do império. O Deus todo poderoso escolhe um estábulo para seu filho nascer. Pastores de ovelhas foram testemunhas. Ser pastor de ovelhas nesse período significava não ser bem-vindo no templo e em outros eventos sociais. Era uma profissão de gente simples e mau cheirosa.

Desde o nascimento Jesus foi perseguido por líderes religiosos e autoridades políticas.  Por conta destas perseguições, ainda na primeira infância, ele e sua família são forçados a se exilar. Quando adulto, escolhe os pescadores como amigos. Com este grupo funda uma religião popular, carismática, antielite e profundamente marcada pelo questionamento à ordem política e religiosa da época. Na trajetória religiosa de Jesus as mulheres tinham um papel central.  Quando ressuscitado, no ápice de sua missão terrena, é para elas que ele aparece primeiro. É para elas que ele dá primeiro a missão de espalhar a mensagem de sua ressurreição. Isso em uma sociedade em que o depoimento feminino não servia como prova criminal.

Como lembra Frei Beto: “Jesus não morreu nem de hepatite na cama, nem de desastre de camelo numa esquina de Jerusalém. Foi preso, torturado e julgado por dois poderes políticos”. Sua mensagem era eminentemente política e religiosa.

Para os cristãos, a cena do primeiro Natal é simbólica. Mostra que sua mensagem cristã deveria estar comprometida com os empobrecidos, excluídos, fracos e doentes. A mensagem do menino que não tinha onde nascer, foi a base do princípio da fraternidade universal que séculos depois influenciaria, juntamente com o liberalismos e o socialismo, a doutrina dos direitos humanos.  

Os direitos humanos modernos são uma tradução secular da ideia de que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, pois foram criados à imagem e semelhança de Deus, independentemente de identidade de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião”. 

No crepúsculo de 2020, ano em que o poder do estado e da religião institucionalizada foram ferramentas de morte, em que assassinatos motivados por racismos e violência de gênero disputam manchetes com as notícias da morte provocadas por COVID 19, resgatar  e comemorar o Natal é necessário.  Transforma-se em um ato de resistência. Que tenhamos um feliz Natal, não o natal comercial, mas o Natal da mensagem do rebento de Belém da Judéia.

E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”. Lucas 2.7

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