Opinião | Entre o Keynesianismo e o Liberalismo: Reflexões e Desafios do Economista

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O Dia do Economista, celebrado em 13 de agosto, é uma data que homenageia os profissionais que dedicam suas carreiras a entender, analisar e melhorar a economia. A escolha desse dia remonta à criação da profissão no Brasil, quando em 1951 o presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei n.º 1.411, que regulamentou a profissão de economista. Desde então, a data tem sido um momento de reflexão sobre a importância desse campo de estudo. A ciência econômica, que surgiu com a publicação de “A Riqueza das Nações” por Adam Smith em 1776, tem evoluído para se tornar uma das mais influentes disciplinas nas decisões políticas e sociais. 

O primeiro curso de economia no Brasil foi criado em 1945, na Universidade do Brasil, que hoje é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Esse curso marcou o início da formação acadêmica formal em economia no país, sendo um passo fundamental para o desenvolvimento da profissão de economista no Brasil.

Ao longo dos séculos, muitos economistas se destacaram, contribuindo com teorias que moldaram o pensamento econômico global. Entre eles, John Maynard Keynes e Friedrich Hayek representam duas das correntes mais influentes atualmente: o keynesianismo e o liberalismo. Keynes, com sua obra “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” de 1936, revolucionou o pensamento econômico ao defender que o Estado deve intervir na economia para garantir a estabilidade e o pleno emprego. Suas ideias foram fundamentais para a reconstrução da economia mundial após a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, e continuam a influenciar políticas econômicas ao redor do mundo.

Por outro lado, o liberalismo econômico, defendido por Friedrich Hayek e Milton Friedman, promove a ideia de que os mercados livres são o melhor mecanismo para a alocação de recursos e a promoção do crescimento econômico. Hayek, em “O Caminho da Servidão” publicado em 1944, alertou sobre os perigos da intervenção estatal excessiva, argumentando que isso poderia levar à perda de liberdade individual e à ineficiência econômica. Friedman, por sua vez, com a obra “Capitalismo e Liberdade”, de 1962, enfocou o monetarismo e influenciou políticas que priorizam o controle da inflação através da gestão da oferta monetária, sendo um dos pilares das políticas econômicas das últimas décadas.

A profissão de economista é de vital importância para os governos em todo o mundo. Economistas fornecem análises críticas que orientam as políticas fiscais, monetárias e sociais, ajudando os governos a tomar decisões informadas que afetam milhões de pessoas. 

A história econômica recente do Brasil oferece exemplos de como decisões acertadas e erradas podem influenciar profundamente o destino de uma nação. Um exemplo notável de uma política econômica bem-sucedida foi o Plano Real, implementado em 1994, que conseguiu estabilizar a economia brasileira após anos de inflação, chegando inclusive à hiperinflação ao longo das décadas de 1980 e 1990. A criação de uma nova moeda, o real, atrelada a um conjunto de medidas fiscais e monetárias rigorosas, trouxe o controle da inflação e inaugurou um período de crescimento econômico sustentado no país.

Entretanto, nem todas as iniciativas foram bem-sucedidas. Durante as décadas de 1980 e 1990, o Brasil passou por uma série de planos econômicos fracassados, como o Plano Cruzado, Plano Bresser e Plano Collor, que tentaram, sem sucesso, controlar a inflação através de congelamento de preços e confiscos de poupança. Essas medidas não só falharam em alcançar seus objetivos como também geraram instabilidade econômica e social. Como bem disse o economista Karl Otto Pöhl, que foi presidente do Banco Central da Alemanha (Bundesbank): “A inflação é como pasta de dente: uma vez fora do tubo, é difícil colocá-la de volta”. Essa frase ilustra bem as dificuldades enfrentadas pelo Brasil em tentar conter uma inflação descontrolada através de políticas equivocadas e intervencionistas, que muitas vezes ignoravam as complexidades da economia real.

Esses exemplos destacam a importância de uma condução cuidadosa e informada das políticas econômicas, demonstrando como as decisões de economistas podem ter impactos de longo prazo na vida de milhões de pessoas. Em momentos de crise, como os enfrentados pelo Brasil nas décadas de 1980 e 1990, a má formulação de políticas pode agravar ainda mais a situação, enquanto decisões acertadas, como o Plano Real, podem transformar radicalmente o cenário econômico de uma nação.

Posto que o Brasil ainda não decolou em termos de crescimento econômico sustentado e tampouco se transformou em um país desenvolvido, há que se repensar o modelo econômico de décadas marcado por políticas keynesianas e dar oportunidade ao liberalismo econômico. Como bem disse o economista brasileiro Roberto Campos: “O que certamente nunca houve no Brasil foi um choque liberal. […] O liberalismo econômico assim como o capitalismo não fracassaram na América Latina. Apenas não deram o ar de sua graça.”

Assim, em um mundo cada vez mais complexo e globalizado, o papel do economista torna-se ainda mais essencial, seja para enfrentar crises econômicas, promover o desenvolvimento sustentável, ou para encontrar soluções inovadoras para os desafios do futuro. A celebração do Dia do Economista é, portanto, uma oportunidade de reconhecer a importância dessa profissão para a construção de sociedades mais prósperas e equitativas.

Jorge Amaro Bastos Alves, economista

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