Eu li em algum lugar que o Blumenau Esporte Clube está de aniversário. Entre idas e vindas, o velho tricolor completou no último dia 19 cento e três anos. Confesso que não sou o mais assíduo dos torcedores, pelo contrário. Nos últimos anos, meu contato com o clube é de acompanhar os resultados a distância pelo rádio, havia um tempo também que os jogadores das categorias de base eram meus estudantes. Como sociologia não necessariamente é a paixão de um jovem boleiro, vez por outra, puxavam um exemplo do futebol regional.
Ainda estudante do ensino médio, eu fugia das aulas para assistir aos jogos. No saudoso Aderbal Ramos da Silva, eu escolhia ficar na escadaria das cabines de rádio. Não somente pela visão privilegiada, mas porque dali conseguia assistir e ouvir as narrações do Rodolfo Sestrem. As performances narrativas do Galo, misturados com a paixão da torcida, carregavam de emoção e colorido nossa alameda mais charmosa. “Todos os caminhos levam ao Deba…” era um de seus bordões.
Ignora quem acredita que futebol em uma cidade é algo sem importância. O esporte mais popular do mundo transcende as quatros linhas do campo, também não se resume a duas equipes ou duas torcidas rivais. A prática esportiva carrega uma série de rituais que reforçam identidades e estruturas sociais. Roberto da Matta (1982), antropólogo brasileiro que estudou o tema, aponta que o “esporte faz parte da sociedade brasileira, assim como a sociedade brasileira faz parte do esporte”. Assim como em outras esferas da vida, se olharmos para o futebol de forma desapaixonada e objetiva, conseguiremos compreender as relações sociais que ele espelha e revela.
Em campo eu nunca vi o Blumenau ser campeão. É preciso reconhecer que a atual diretoria nos tirou do vermelho. Na verdade, naquele tempo torcer para o tricolor era sempre sinônimo de lutar contra o rebaixamento e não ter certeza que no ano seguinte teríamos campeonato. Porém, sempre estávamos lá, teimosamente. Quando não tinha dinheiro para o ingresso, me juntava à torcida da figueira ou utilizava a velha técnica de atravessar o Ribeirão Garcia. Esta, porém, era uma manobra tão arriscada quanto fugir do Pedro II.
Retumba no endereço do antigo estádio um imenso vazio. Uma ausência que não silencia a paixão dos abnegados, mas que denuncia a cidade que perdeu o controle dos próprios símbolos. Não fala do futebol, mas da própria cidade. No local do estádio, o último grande debate era para construir uma loja réplica da Casa Branca. Simbólico, como também é o fato que o próximo BEC e Metropolitano deve acontecer em Ibirama. No capitalismo financeiro a concorrência não acontece entre empresas ou produtos, mas é entre territórios. Quando um time aplicava uma goleado no outro, Rodolfo Sestrem dizia “Está depenada a coruja,” acho que podemos pegar emprestado este bordão.
Muito boa a matéria tbem fui muito ao Cena e conheci pessoalmente o Sestrem,grande figura, acho que o que fizeram com o velho DEBA foi um crime contra o esporte e a sociedade blumenauense, que queime no inferno pra sempre o idealizador dessa vilipencia criminal….