A Filosofia no contexto escolar, como disciplina presente de maneira formal é algo que ocorreu de maneira recente na história do Brasil redemocratizado. É costumeiro as pessoas associarem as reflexões filosóficas à uma contemplação distante. Em grande medida, isso costuma ocorrer por conta do condicionamento humano, que lhe faz a ter uma crescente indisposição ao uso de sua capacidade racional.
Ao que parece, em larga medida, esta aversão ocorre em parte pelo fato de haver poucas décadas que o cidadão brasileiro passou a ter uma liberdade de opinião, menos tutelada pelo Estado. Desta forma, a racionalidade brasileira, bem como sua Filosofia, se reestrutura, buscando dar um caráter de identidade da razão em terras tupiniquins, sendo que este processo e gradativo, e nem sempre rápido.
É possível que se chegue a este momento do texto e, se faça a seguinte pergunta; “Mas afinal, para que vai servir a Filosofia?”; ou como frequentemente ouvido dos alunos de ensino médio nos primeiros contatos com o pensamento filosófico; “O que isso vai mudar na minha vida?” Ou ainda “Eu tenho a MINHA Filosofia!”
Estes questionamentos bem como a subsequente exclamação, certamente abrem a possibilidade de diversas possibilidades de respostas, sendo possível a escrita de diversos textos, tendo mesmo assim, a certeza de que a temática não estaria esgotada. É fato que, a Filosofia como um conhecimento que remonta milênios, tem uma infinidade de respostas possíveis pelo contato com diversas áreas com as quais se relaciona.
Se optará neste momento, por responder as questões levantadas, através das reflexões de um filósofo francês que viveu entre 1694 e 1778. Este pensador, costumeiramente estudado a Filosofia, também é conhecido na Historiografia, e no estudo da Literatura. Trata-se de François-Marie Arouet, que atingiu notoriedade através de seu pseudônimo, Voltaire, através de suas valiosas reflexões acerca da vida humana.
Neste momento, se pode ainda inquerir; mas, afinal, quem é este sujeito, por quê deveria a ele ser atribuída alguma importância? Para uma resposta, que contemple um elemento que é notoriamente ausente no contexto brasileiro, se pode resumir em uma palavra TOLERÂNCIA, ou se desejado for, um sinônimo, RESPEITO.
Este autor, séculos atrás, já afirmou que a tolerância deveria ser um caminho para a construção sólida de uma sociedade mais justa. Em 1763, foi escrito por Voltaire, a obra O Tratado Sobre a Tolerância, demonstrando o quanto que a ignorância ante o outro, que no livro é ilustrado através da intolerância religiosa, mas que no contexto do século XXI, se manifesta das mais diversas maneiras.
Assim, parece que, assovia o vento dos tempos um esboço de resposta. Então, a Filosofia, através de suas relações com outras áreas de conhecimento, pode representar uma tentativa de refletir o contexto humano em sociedade. Bom, neste sentido, visto que a desigualdade da sociedade brasileira, é interessante que os estudantes “percam um tempo com essa coisa de Filosofia”.
Se ainda se resolver levar em consideração, que esta desigualdade gera violência, não apenas física, mas moral, verbal e psíquica, parece que a necessidade de uma reflexão aos moldes da Filosofia, longe de promover uma resposta de modo a ser uma verdade absoluta (em nem assim o quer), pode apresentar algumas reflexões interessantes.
Seria importante que as pessoas lessem livros como o de Votaire, e refletissem acerca do que mudou desde 1763; houve progresso, melhorias, ou metamorfoses de problemas antigos? Houveram passos seguros no caminho da tolerância, ou apenas se pôs a sobra, protegendo e permitindo o florescimento de novas e mais sofisticadas formas de intolerância?
Afinal, não a respeito disso que debate quando se fala na violência nas escolas através de práticas como o bullying? Não é este o foco do desconforto social quando se fala e homofobia? Afinal, houve algum avanço desde 1763, no que concerne à tolerância? Ou apenas se criou formas mais diversificadas e sofisticadas de representação da intolerância?
Como dito acima, este texto, está bem longe de ter a pretensão de promover algum tipo de resposta (espera-se que isso já tenha sido perceptível). Tem mais a intenção de fazer o que Voltaire de maneira tão brilhante fez, PROVOCAR. Provocar no sentido estimular a dúvida, levar a reflexão, principalmente sobre a tolerância.
Desta forma, parece adequado, encerrar com uma frase, do aqui comentado e provocativo filósofo francês; “discordo do que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo”.
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