Fritz Müller (Johann Friedrich Theodor Müller) nasceu em 31 de março de 1822 (Alemanha) e faleceu em 21 de maio de 1897 (Blumenau/SC). Chegou ao Brasil no ano de 1852, aos 30 anos de idade, e faleceu com 75 anos, tendo vivido 45 anos em solo brasileiro.
O pai de Fritz foi pastor evangélico, seu avô materno, químico farmacêutico e Fritz chegou a estagiar em uma farmácia na Alemanha. Doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Berlin. Cursou também Medicina e na formatura do curso resolveu não fazer o juramento final, que versava sobre princípios cristãos, pois não reconhecia tal juramento como sendo sua verdade.
Foi contrário também a ideia de casamento religioso, mas antes de vir ao Brasil, resolveu casar-se com sua mulher, para que ela não fosse julgada pela sociedade da época como uma mera acompanhante ou concubina.
Na Alemanha foi militante de movimentos políticos pela democracia e entusiasta da liberdade de pensamento. Deixou registradas duas frases emblemáticas: “Assim como o corpo respira livremente, o espírito também deve pensar livremente” e a anunciada na abertura deste texto; “Sem liberdade, não há verdade nem virtude”.
Esteve envolvido com a intelectualidade da vanguarda da modernidade europeia; assim como travou diversos embates, porém estava descontente com aspectos políticos, religiosos e sociais de sua época.
Conhecia o fundador da colônia de Blumenau, Drº Hermann Bruno Otto Blumenau, que lhe relatava sobre a riqueza da fauna e da flora brasileira e a possibilidade de manter os aspectos da cultura germânica nesta região, sendo assim resolveu deixar a Europa e chegou em Blumenau em 19 de maio de 1852.
Em 1856 se mudou para Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), onde se naturalizou brasileiro e passou a exercer o cargo público de professor junto ao Liceu Provincial (Atual Colégio Catarinense). Viveu em Desterro por 11 anos. Entre os anos de 1876 e 1891 ocupou o cargo de Naturalista Viajante, no Museu Nacional do Rio de Janeiro. No ano de 1882, uma forte enchente atingiu a região da colônia de Blumenau e a casa de Fritz Müller, quando perdeu seus pertences e materiais de pesquisa.
Desenvolveu estudos comparativos de embriologia, ontogenia, ecologia, fisiologia e morfologia, métodos e temas que estão longe de serem esgotado atualmente. Representava os objetos de seus estudos na forma de desenhos em escalas aumentadas. Implementou uma diversidade de técnicas, propondo uma visão experimental. Foi o primeiro termitólogo brasileiro (qualidade de quem estuda cupins).
Pesquisou tanto a fauna como a flora. Dentre seus objetos de estudo estão sanguessugas, abelhas, besouros, ratos, crustáceos, águas-vivas, borboletas, caracóis, bananeiras, embaúbas, pata-de-vaca, flor brinco-de-princesa, orquídeas, bromélias, lírio-do-brejo, begônia, albizia, carambola, exsicatas, lantana, feijoa, milho, mamoeiros entre outros.
Por 16 anos trocou correspondências com o pesquisador evolucionista britânico Charles Darwin (1809-1882), com quem compartilhava desde sementes de plantas, desenhos, artigos, pesquisas entre outros.
Quando Fritz Müller residiu em Florianópolis/SC, desenvolveu estudos e pesquisas onde hoje está localizada a avenida Beira Mar Norte. A partir destes estudos, em 1864, escreveu uma monografia que foi intitulada de “Para Darwin” (Für Darwin), que por sua vez reforçava a teoria da evolução defendida pelo pesquisador britânico. Quando Darwin recebeu a monografia, providenciou a tradução da obra na língua inglesa e passou a fazer citações da mesma nas próprias publicações.
O fato de colaborar com os estudos e pesquisas para com a teoria da Evolução das Espécies de Darwin, foi responsável por revelar sua forte preocupação em entender e explicar a realidade, a natureza, os fatos e os acontecimentos por meio de observações e métodos científicos e racionais, e que estava comprometido em superar os padrões e modelos de sua época que se fundamentavam predominantemente em explicações teológicas.
Mesmo residindo no Brasil, mantinha contato com o pensamento e a produção científica europeia da época, os envios e os recebimentos de materiais científicos eram transportados por navio, isso significava um tempo de aproximadamente 40 dias de viagem para chegar ao destino.
Fritz chegou a fazer o trajeto de Blumenau à Florianópolis andando, a viagem demorava mais de três dias. Estabeleceu relações de amizade com as populações indígenas que habitavam a região da colônia Drº Blumenau.
Foi um naturalista exímio, voraz observador da paisagem, da natureza, dos animais, das plantas, das flores, dos insetos, em fim da diversidade brasileira. Até o momento foram identificados 264 trabalhos científicos de sua autoria. Escreveu também doze poemas. E com o intuito de favorecer a alfabetização e a leitura de suas filhas, elaborou pequenas histórias com personagens brasileiros.
Fez tudo isso com apenas dois microscópios e uma pequena biblioteca pessoal; e estamos falando de uma época em que não existiam ainda os registros fotográficos e/ou em vídeo. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC foi uma instituição que, no ano de 2009, reconheceu o mérito de Fritz Müller e lhe conferiu o título de Doutor Honoris Causa post-mortem.
No aniversário do bicentenário de nascimento de Fritz Müller, conclui-se que ele foi responsável por legar façanhas de uma pessoa profundamente devota à pesquisa, à ciência, à liberdade, à diversidade e à tolerância; bem como uma trajetória de vida marcada pela égide da autos superação e autodeterminação, pelo empreendedorismo, pelo apoio e colaboração científica internacional. !Viva Fritz Müller!
Referências
CASTRO, M. W. De. O sábio e a floresta: a extraordinária aventura do alemão Fritz Müller no Trópico brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
FONTES, L. R. & HAGEN, S. C. F. Fritz Müller: Príncipe dos observadores. São Paulo: Instituto Martius-Staden, 2012.
MARCOLIN, N. Correspondência entre Darwin e Fritz Müller, 2012. Disponível em: http://renavida.com.br/correspondencia-entre-darwin-e-frit…/ Acesso em: 24 mar de 2022.
MORAES, A. M. L. Fritz Müller: Uma vida dedicada à ciência. Blumenau: Edifurb, 2015.
SOUZA, Flavia P. A. de. Notas de um naturalista do sul do Brasil: Fritz Müller: história da ciência e contribuições para a biologia. São Bernardo do Campo, SP: EdUFABC, 2017.
Seja o primeiro a comentar