Opinião: inflação que bate em Chico não bate em Francisco

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Você pode escolher o indicador que preferir, IGP-M, IPCA não importa! A nenhum deles terá a exatidão em medir o quanto a inflação impacta nas suas contas. Estes índices ajudam a ter uma ideia do sobe e desce dos preços. Porém, são ineficientes para cravar como a sociedade está afetada em seu poder de compra. Em um montante de R$ 1 mil ontem, por exemplo, atravessando o tempo chegaria aos dias atuais comprando o equivalente a R$ 140,00. Um sentimento da piora econômica que foi acentuado nos últimos anos.

Minha geração, e todas que vieram depois, nunca carregou a preocupação com a alta dos preços. A inflação percebida, aquela que você olha para bomba do posto de combustíveis e claramente pode observar o quanto está mais pobre, parecia que era página-virada por aqui. Muitos modelos de negócios, segmentos inteiros, desconhecem os efeitos de períodos inflacionários nas receitas, nos resultados.

Os shoppings, por exemplo, basicamente passaram a existir após o plano real e dependem do consumo forte para prosperar. O ensino privado, da mesma forma, necessita que as famílias mantenham boa renda. Varejo online, empresas de tecnologias, atacarejos, negócios que precisam de dívidas ou possuem margens apertadas são outros exemplos que nunca enfrentaram um período longo de subida rápida de preços. Muitos não resistirão e devem fechar as portas.

O economista e empresário Luiz Fernando Roxo, um dos nomes mais respeitados no Brasil, costuma comparar, fazendo uma analogia, a inflação com um pêndulo perverso. Diz que depois de um determinado ponto, quando acelera, não é possível segurar ou retroceder o movimento até que ele chegue ao fim. Causando uma série de outros problemas na economia e destruição em massa no ecossistema que, inevitavelmente, é interligado.

É verdade que o mundo sofre os impactos da Covid-19 na economia. Porém, se em outros países os números apontam para uma alta atípica e aparentemente momentânea, nós vivemos uma elevação forte em todos os preços nos mais diversos setores. É como uma tempestade que chega e encontra um país despreparado para enfrentar o problema. Sem obstáculos os ventos crescem e os cidadãos, desprotegidos, fazem um esforço imenso para sobreviver. Nem todos conseguem.

As diferentes classes sociais percebem e são impactadas de maneiras distintas pela inflação. Apesar de viver em um mesmo país, defendendo as mesmas cores patrióticas, os mais ricos sofrem menos por, entre outros motivos, terem disponíveis alternativas para proteção, seguros mesmo, para compensar a queda no poder de compra. Os mais pobres, por sua vez, contam com uma única arma: os seus braços. É com sua força de trabalho que colocam o prato de comida na mesa.

A alimentação, que representa um dos principais gastos das pessoas com renda familiar baixa, já acumula uma alta de mais de 40% em apenas 12 meses. Moradia, o segundo item na lista de gastos dos brasileiros mais pobres, soma mais de 30% de acréscimo no custo de vida em um ano.

Em um país assim, largado e indiferente as dificuldades dos mais carentes, a solução é a fé: que amanhã será melhor, que tudo vai passar, que a situação será revertida. É auspicioso manter uma crença positiva, mas não basta. A lenta recuperação que é ensaiada depende e menos discursos em Brasília e mais trabalho coletivo para facilitar a geração de riqueza; de movimentos que facilitem o crescimento da renda e a refundação industrial do país. Enquanto tudo for retórica, gritaria e ilusionismo, o pobre sofrerá mais, a classe média continuará a regredir e o país permanecerá estagnado.

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