Opinião | Jingles Políticos – É pra tocar na alma

Foto: reprodução

Os jingles políticos são propagandas e servem para embalar os pensamentos dos eleitores. Eles estão presentes na minha vida há muito tempo. Desde que eu me conheço por gente eu gosto de política, mas principalmente dos bastidores, da parte de fazer e criar uma campanha e, claro, a música de marketing para os candidatos, no meu entendimento, é a cereja do bolo.

Com certeza não é isso que fará o candidato sair na frente das pesquisas ou até ser eleito, mas o jingle mexe com nosso emocional. Sabe quando você ouve uma música e se arrepia? Ou quando alguém fala com uma vibração ou tom de voz diferente? É esse o sentimento. E não, não basta ser chiclete, divertido. O jingle tem que tocar a alma, fazer você se identificar com um candidato que, na maioria das vezes, você nem o conhece. Ele faz você ver o candidato como ser humano, gente como a gente. 

Claro que aquela melodia pra ficar na cabeça acaba, no fim, até irritando, mas ao menos ela nos diverte em um período tão difícil que é a campanha eleitoral. Eu lembro que o primeiro jingle que eu decorei foi de um candidato ao cargo de vereador do meu bairro. Na época a música ‘Poeira’, da Ivete Sangalo estava estourada no Brasil. Aí o candidato adaptou, fez a paródia e ficou assim: “Oliveira, Oliveira, Oliveira, Neco de Oliveira” (favor leia cantando).

Na música quem não é de Deus, vira homem de fé. Homem infiel, vira pai de família. Quem só teve cabide de emprego, vira trabalhador, mas por incrível que pareça elas realmente nos fazem acreditar nas palavras cantadas. O jingle vai estar sempre atrelado a imagem do candidato e daquilo que os eleitores procuram em um representante. Então quando você ouve, se identifica e vai com a cara da pessoa, já é mais do que meio caminho andado.

De acordo com artigo da Folha de S. Paulo, o surgimento do jingle político apareceu na campanha de 1914, quando o presidente da República era o marechal Hermes da Fonseca. Colocam uma marchinha chamada ‘Ai Filomena’. Daí, às vésperas das eleições, o Rio foi tomado pela música que dizia assim: “Ai Filomena, se eu fosse como tu/Tirava a urucubaca da careca do Dudu”. Segundo a Folha, foi sucesso no carnaval, mas um fracasso nas urnas, pois ao invés de promover políticos, como acontece hoje, o objetivo da maioria daquela época era destruir reputações.

Nesse ano turbulento para as eleições da majoritária temos um lado que diz: “Quem nunca abandonou o povo não dá para esquecer. A sua história se parece com a de tanta gente. Haverá de ser um tempo bom para viver, pois você é diferente (…) Lula é o cara, o cara é o Lula, homem do povo”. Já o outro canta: “É o capitão do povo que vai vencer de novo. Ele é de Deus, pode confiar, defende a família e não vai te enganar (…) igual a ele nunca existiu, é a salvação do nosso Brasil”. Isso aqui são dois exemplos, apenas.

Enfim. Mais do que uma peça publicitária, o jingle se adapta aos eleitores, aos momentos que o país passa, às mudanças sociais e econômicas. Se ele não fosse importante, não fizesse parte de todo um contexto para as eleições, ninguém investiria. E é isso. O jingle pode dar nó da garganta, pode arrepiar, pode te deixar indignado, com raiva ou feliz, mas algum tipo de sentimento ele vai te trazer, não importa o quão racional você seja. Agora, basta saber se esse sentimento vai resultar no voto na urna.

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