O Brasil é um rolo compressor de notícias e nenhum escândalo é capaz de durar muito tempo na memória. Prova disso é a montanha russa do governo federal nos últimos dias: após aprovar no Senado a Reforma Tributária, ainda que cheia de remendos, comemorou a liberação para que os brasileiros presos na Faixa de Gaza cruzassem a fronteira para o Egito. Depois de quase um mês esperando no Cairo, o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) finalmente levantou voo para Brasília.
O palco estava montado para Lula brilhar na recepção aos refugiados, mas, no meio do dia, surgiu a notícia de que a esposa de um chefe do Comando Vermelho no Amazonas fez visitas ao Ministério da Justiça, chefiado por Flavio Dino.
Pois então, qualquer governo é formado por milhares e milhares de pessoas, e em nível federal esse número explode. Mesmo assim, bastou alguém cometer um erro para a oposição culpar o presidente do momento. Sabendo que a coisa é assim, a ferro e fogo, nota zero para a assessoria. Como é que não fizeram uma simples pesquisa no JusBrasil, ou algum banco de dados da polícia antes de marcar a visita?
O brasileiro tem criatividade de sobra e sempre existiram boatos como o da “loira do banheiro”, mas com as redes sociais a fantasia deixou de ter limites. Pior para quem está no poder nos tempos do “ZapZap” e dá um fora desses.
Como esse caso tem relação com o Amazonas, não é difícil que alguém encontre um jeito de ligar as queimadas por lá ao uso de drogas: “estão fumando a floresta”! Parece absurdo, mas se há quem acredite em “Terra plana”, por que não acreditariam nisso? Se cada fake news e teoria da conspiração fosse um pouco de chuva, o fogo que castiga a Amazônia e o Pantanal teria sido apagado na última segunda-feira.
Cortinas de fumaça
Coincidência ou não, Lula aproveitou a chegada dos brasileiros vindos de Gaza para se posicionar veementemente contra os ataques israelenses. Nascia uma nova polêmica: uns defendem, outros atacam e a vida segue em frente.
Talvez tenha sido intencional, mas nem precisa de muito esforço porque, em um país com mais de 200 milhões de pessoas, aqui é um escândalo “dia sim e no outro tbm”. Prova disso foi o caso da apresentadora da TV Record, Ana Hickmann, que registrou boletim de ocorrência por ter sido agredida pelo marido. O fato é lamentável, mas sorte de quem precisava desviar o foco porque aí o povo “passa a ser especialista” nisso também.
Aliás, falando em fumaça, o brasileiro queima sob recordes de calor, a Amazônia também, mas no Brasileirão, o Botafogo… anda meio apagado. Liderou desde o início e no finalzinho caiu para a segunda posição. Enquanto isso, o ex-presidenciável, Cabo Daciolo (PDT), diz “glória a Deus” ao ver o Vasco na briga para permanecer na série A.
Aliás, assim como Daciolo, nascido em Florianópolis, o pessoal que gosta de futebol pode achar que tem muito cruzeirense passando a folga em Santa Catarina. Porém, as bandeiras azuis com estrelas, que ressurgiram nas ruas, são do movimento separatista O Sul é Meu País. Não é o caso de todo mundo, mas tem gente aí que era patriota até outro dia, com direito a se vestir de verde e amarelo, mas parece ter mudado de bandeira bem rápido.
Enfim, tudo isso em mais uma semana com feriado. Como consequência disso, na última terça-feira (14), apenas 14 dos 513 deputados federais registraram presença na Câmara, e 31 dos 81 senadores estiveram no Senado. Pois é, na política brasileira, nem Tiradentes foi mais enforcado que semana com feriado na quarta-feira.
Fernando Ringel, jornalista e professor universitário
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