Certa vez, em uma viagem de campanha, eu estava extremamente inseguro com o que o futuro poderia oferecer. Verdade seja dita, nunca pude desfrutar do conforto do vento, água do mar, guarda-chuva na ponta do drink, sem pensar no próximo dia. Mas, voltando… naquela ocasião, eu acompanhava o então o candidato, querido amigo, Paulo França, em mais uma de suas agendas. É curioso lembrar, quem já viveu uma corrida eleitoral intensamente deve concordar, a convivência força pela disputa forma laços que são difíceis de encaixar em palavras.
Eu deveria ter, sei lá, uns 19, ou 20 anos de idade, mais ou menos. O Ex-deputado, que naquela época estava próximo de completar 60 anos, percebendo minha ansiosa situação, tratou de pacientemente encontrar uma maneira de devolver a tranquilidade aos meus pensamentos. Entre tantos diálogos que tivemos, este é um daqueles que o tempo repete em fragmentos, feito capítulos de um ensinamento.
O Paulo era um flamenguista convicto, pai de duas mulheres. E a lição começava aí… Ele olhou para o banco que eu estava sentado e foi dizendo: “o Tarciso, quando as meninas nasceram e foram crescendo, fui preparando a minha cabeça para chegada de um genro vascaíno. Tu já pensou nisso, bicho?”, e deu uma risada. “Mas aí, quando eu imaginei que um genro vascaíno seria o máximo de provação, você não acredita o que apareceu lá em casa. Advinha?”, desafiou o emedebista. “Não é que chegaram para apresentar um namorado que era do PFL”, e voltou a gargalhar.
O meu amigo Paulo França, completaria mais um aniversário no próximo dia 28. Lá do paraíso, além de observar com muito orgulho a família que deixou por aqui, deve avaliar atentamente o momento confuso do histórico MDB, o único partido da sua vida.
Houve um tempo em que o Movimento Democrático Brasileiro, em Santa Catarina, carregava consigo a promessa de representar uma alternativa política sólida, um farol de democracia em meio aos desafios do cenário político estadual. Rivalizou com o PP, com o PFL e todos aqueles que se atreviam em alinhar forças com autoritarismo e oligarquias. Contudo, a trajetória do partido no Estado parece ter se desviado do curso que outrora prometia.
É como se o MDB estivesse se afastando da tradição do bom debate, da busca por soluções sensatas, para mergulhar em águas turvas, um movimento que contradiz, de forma quase irônica, o próprio nome da legenda. Muitos de seus integrantes, antes defensores de bandeiras democráticas, agora optam por flertar com personagens políticos que, em sua essência, desejam o fim da democracia.
Ao revisitarmos a história, encontramos os grandes feitos dos governos de Luiz Henrique, Paulo Afonso, Eduardo Moreira, Casildo Maldaner e outros emedebistas que, em seus dias, trouxeram modernidade e avanços. Suas administrações, embora não isentas de críticas, foram marcadas por avanços significativos e por um compromisso genuíno com o bem-estar da população catarinense. O partido, que outrora foi um farol de progresso, agora parece hesitar. Arrisco dizer que se Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apear o Senador Jorge Seif (PL) do cargo, como parece ser o destino, a legenda terá uma enorme dificuldade de escolher um nome capaz de mobilizar a unidade e conquistar a confiança da sociedade.
E quero deixar claro que não se trata de uma questão de alinhar-se automaticamente ao Partido dos Trabalhadores (PT) ou a outras agremiações de centro-esquerda. O cerne da questão reside na necessidade premente de oferecer opções políticas democráticas, baseadas na realidade, na ciência e alinhadas com a modernidade, em contraposição ao retrocesso que o bolsonarismo representa.
É importante lembrar que o MDB de Santa Catarina formou, no passado, lideranças fortes de expressão nacional. A bancada catarinense, proporcionalmente, sempre esteve entre as maiores da legenda. Enquanto o partido parece oscilar entre a tradição e a tentação do reacionarismo, outras siglas políticas emergem como protagonistas de uma política mais plural e centrada.
Não é preciso de muito esforço para compreender o movimento que o Partido Social Democrático (PSD) – um partido que nasceu da costela do PFL -, por exemplo, está fazendo. Apesar da existência do bolsonarismo em seu seio, consegue reforçar suas fileiras ao demonstrar sua pluralidade ideológica, posicionando-se ao centro e distanciando-se do extremismo autoritário e retrógrado.
Hoje, neste início de 2024, permaneço inquieto, cheio de incompletudes, com o que o futuro reserva para mim. Sem meu amigo dividindo suas reflexões, fico a imaginar: o tempo será capaz de gerar as reflexões necessárias para acalmar meus pensamentos? Ao MDB catarinense, que o Deputado Paulo França tanto dedicava sua intelectualidade, creio esta é a hora de resgatar a vocação democrática, de relembrar suas raízes históricas e de reconectar-se com os anseios e aspirações da sociedade. Para os catarinenses, em um cenário político cada vez mais raivoso, a manutenção de um partido forte e democrático é muito mais que desejável, é crucial que os ventos da história tragam a renovação, o compromisso, as modernidades que promovam mais qualidade de vida para todos.
Tarciso Souza, jornalista e empresário
O MDB sempre foi partido sanguessuga , nunca ganhou nada de importancia , sempre viveu dos apoios politicos .