“Não há nada permanente, exceto a mudança.” — Heráclito
A palavra “mudança” vem do latim mutantia, que significa “ato de trocar, variar”. Esse termo deriva de mutare, que quer dizer “mudar, trocar”. Na língua latina, mutare era usado para expressar a ideia de transformação ou transição de um estado para outro.
Talvez as mudanças necessárias e inevitáveis possam ser feitas sem dor e sofrimento, não temos medo das mudanças em si, mas de suas consequências e potencialmente das incertezas e dúvidas que elas trazem. No geral, somos conservadores, escolhemos, conscientemente ou não, manter as coisas como estão, ficar na zona de conforto, fazer e se comportar como sempre fizemos. Mas, independente de nossas escolhas, o mundo vive uma mudança profunda, talvez, depois da crise de 1929 e todas as suas consequências, inclusive duas guerras mundiais com 90 milhões de mortos, essa seja a maior crise do sistema capitalista.
Há racionalidade, história e ciência na análise, discussão e compreensão dos sistemas e modos de produção construídos pela humanidade. Marx estudou não apenas o capitalismo e sua natureza e lógica, mas seus antecedentes; como ele sendo mais eficiente, superou o feudalismo e será superado pelo socialismo, que é mais sustentável, inclusivo e democrático. Vários economistas, filósofos, cientistas e historiadores chegaram à mesma conclusão: é uma questão de tempo para que o atual sistema de produção seja substituído por um outro, melhor em todos os sentidos para as pessoas, para quem trabalha e produz, para os ecossistemas e para o planeta.
Somos a geração que está vivendo o início desta transição, isso é uma enorme responsabilidade. A crise estrutural do capitalismo é a causa das desigualdades crescentes em todo o mundo, guerras, epidemias, crises financeiras e um estado de saúde mental e exaustão poucas vezes visto ao longo da história. O capitalismo consome e explora tudo e todos em busca do lucro, da superprodução, do individualismo e da competição individual. Sua ideologia mente e aliena para que creiamos que todos possam ter sucesso, “chegar lá” e se não chegamos, a culpa é nossa. Somos nossos próprios fiscais, juízes e carrascos. Há muitos sinais de que já iniciamos a transição para um novo modelo de sociedade, mais cooperativo, intuitivo, amoroso e sustentável. Onde a comunidade decide de forma participativa como se apropriar e distribuir de forma igualitária os recursos naturais, a terra, as máquinas e meios de produção.
Trump se elegeu porque as pessoas querem e precisam de mudança. Assim nasce o fascismo, em momentos de crise, desalento, falta de esperança e sofrimento psíquico e material da maioria das pessoas, quando o capitalismo atinge graus dramáticos de exploração, desigualdade, pobreza e desilusão. Nessa hora, as pessoas acreditam em promessas vazias, mudanças mágicas, caminhos rápidos e milagrosos, que não existem. A extrema direita, que não tem compromisso verdadeiro com a mudança, com a superação do capitalismo, usa essa crise estrutural para chantagear o povo, oferecendo palavras ao vento, discursos genéricos e proféticos, promessas jamais cumpridas, isso desde a década de 1930, com Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália. Sabemos as consequências deste populismo, fanatismo e messianismo.
A mudança verdadeira é acelerar a transição, a construção de um novo sistema socioeconômico, o socialismo com características nacionais e ecológicas, que se baseie no conhecimento dos povos originários e melhores tecnologias, inovações e ideias desenvolvidas pela humanidade. Nossa própria evolução, amadurecimento e acúmulo histórico são condições inevitáveis para essa mudança. Estamos destinados a evoluir, melhorar, aprender e buscar novas e melhores formas de sobrevivência neste planeta maravilhoso.
Assim como 200 anos atrás, a Inglaterra, a França e os EUA foram os expoentes do florescimento do capitalismo, hoje a China socialista prova que é possível uma sociedade com mais de 1 bilhão de pessoas experimentar e construir uma experiência socialista, com planejamento centralizado, inovador e inteligente, tendo como resultado o maior avanço social e material de uma sociedade até então. O Governo Chinês tirou mais de 500 milhões de pessoas da pobreza, oferecendo condições razoáveis para toda a população, melhorando dramaticamente as condições de trabalho, a massa salarial, a cultura, a renda média e a expectativa de vida dos chineses. Agora avança na questão ambiental, transição energética e combate à concentração de renda.
Enquanto sociedade democrática, não podemos nos conformar com o estado atual das coisas: injusto, desigual, insustentável e violento, precisamos pensar, debater, analisar a realidade e formular utopias e novas teorias revolucionárias. Sendo uma revolução, entendida como uma mudança radical e completa no sistema de governo, estruturas sociais ou modo de vida, similar ao sentido de um movimento de transformação completa e cíclica, mas aplicado a sistemas humanos.
As esquerdas precisam se reinventar, indo além das pautas identitárias e das minorias (gênero, meio ambiente, etc), voltar a questão da exploração da classe trabalhadora, da economia nas mãos de poucos que decidem tudo usando as eleições como “faz de conta democrático”. Explicar que inovação e empreendedorismo são importantes, mas na lógica capitalista jamais haverá lugar para todos, que a natureza do capitalismo é explorar o trabalho e os trabalhadores, que não têm mais nada para vender além de sua própria mão de obra. Apenas quem tem capital e é proprietário de meios de produção (terras, máquinas, fábricas) é capaz de reproduzir sua própria riqueza e gerar mais capital, criando um ciclo infinito de concentração de renda, desigualdade e desemprego.
Portanto, estamos numa encruzilhada, o capitalismo nos seus 300 anos de história, após muitas crises, tem uma enorme capacidade de se reinventar e prolongar sua existência, mas sua natureza é autodestrutiva. O velho ainda não morreu, mas o novo já nasceu, ambos convivem no mesmo tempo, mas a história e a ciência mostram, que independente da vontade e ideologia, quando chegar o momento e o socialismo se mostrar mais eficiente, justo, sustentável e adequado do que o capitalismo, a mudança será inevitável.
Christian Krambeck, Arquiteto e Urbanista, empresário e professor de Arquitetura e Urbanismo FURB
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