Opinião | Nas curvas, na chuva… em alta velocidade!

Foto: divulgação

“A cura não vem do esquecer, vem do lembrar sem sentir dor. É um processo”. Evoluir, registrando para fora é um tanto do que está dentro de nós na revelação mais pura da natureza. Por isso escrevo hoje, poucos dias após meu 35° aniversário.

O filósofo e pai da psicanálise, Sigmund Freud, autor da frase que abre este texto, ensinou isso de deixar escapar intimidades do pensar. Lamento, as ciências humanas podem não resolver os todos problemas da vida – bom seria que esta ousadia existisse -. Mas, certamente, torna os dias de estrada muito mais leves para erguer a cabeça, deixar os tons acinzentados dos cabelos tranquilos para seguir amadurecendo, caindo ou reinventando-se.

Eu fiz isso nesta semana: deitei os pensamentos no chão, desenhando, no alto das ideias, afrescos com tintas das memórias que coloriram as paisagens da estrada que ganhou meu início em 1987. Às vezes (só uma vez ou outra mesmo) dá para abrir uma frestinha na janela deste carro que vou em alta velocidade.

Tudo passa muito rápido. Perdi as contas dos instantes que desejei enfrentar a escassez do tempo, movimentar para frente ou voltar o dial, sintonizando os dias apenas nos melhores momentos. Infelizmente não dá! Nem mesmo para espiar o interior correndo e olhando para o lado. Um piscar e ficam abandonas as gaivotas livres ao céu azul e lindo…
Rapaz envelheci mais um ano. O período que ficou entregou uma porção de coisas. Umas com amargor que é duro sobreviver. Outros servidos chegaram como um presente. O mais doce da alegria é que não pede hora no relógio, nem marca um “X” no calendário para surgir. Quero dedicar mais crianças no meu coração para preencher de bons momentos quando fechar os olhos em uma centena de anos.

Em 34 anos, modéstia inclusa, recebi mais da vida que muitos que chegaram aos 80 anos conseguem ganhar. Frequentei palácios, quebras, becos e guetos. Cresci com o pé no barro, o corpo marcado, os olhos brilhados e o cabelo esponjado. Em meu berço não existia ouro, nem sobrenome pomposo. Porém, nunca faltou amor, garra, fé e união. Se venci, até aqui, é por ter em meus ombros o peso de muita gente do bem querendo o meu bem. E, agora, em viagem, neste piso chuvoso, molhado, sigo em frente, orgulhoso, em alta velocidade desejando muito melhorar e compartilhar.

“O visível torna-se inevitável. O carro vai para onde vão seus olhos”, Garthe Stein.

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