Neste dia 2 de dezembro, dia nacional do samba, precisamos fazer uma reflexão sobre um dos principais elementos da cultura afro-indígena-brasileira e de como ele continua sendo uma resistência da comunidade negra e uma estratégia de luta antirracista. Inicialmente, é preciso dizer que o samba nasce rural no Brasil/Colônia a partir do encontro das pessoas negras escravizadas, vindas de diversos países africanos, com os povos originários desta terra. Como os africanos trouxeram o tambor, utilizado nas ritualísticas religiosas, a predominância do som deste instrumento vai se dar na organização das rodas na zona rural e, depois, nos espaços urbanos.
Dito isso, vale lembrar que boa parte da organização festiva das comunidades negras espalhadas pelas principais cidades brasileiras se dá em torno do samba, através das festas populares de rua, dos cortejos e nos terreiros das primeiras entidades carnavalescas no início do século passado. Estas reuniões não significavam apenas diversão, também eram uma estratégia política de sobrevivência, de construção identitária e de resistência. Entre os sambistas tradicionais existe uma ética, uma estética e uma filosofia de vida desconhecida por boa parte de quem toca samba e alcança a fama graças à mídia e às redes sociais.
E por desconhecer e, muitas vezes, não saber e nem respeitar a história deste elemento político/cultural afro-indígena-brasileiro, muitos jovens (e outros nem tão jovens) tocam para racistas dançarem. E aqui está o ponto deste texto: o samba é um elemento de luta contra o racismo, aliás, os racistas não deveriam nem passar perto de uma roda de samba.
Para quem não sabe, o tambor é um instrumento da transcendência, uma entidade que dialoga com a nossa ancestralidade negra e indígena. Como esse diálogo se dá com os nossos ancestrais, o que ele está dizendo vem das vozes negras do passado que lutaram contra a colonialidade e contra o sistema racista que ainda persiste na atual sociedade. Portanto, no dia nacional do samba, vamos refletir sobre esse elemento político/cultural e de como ele pode ser uma “arma” pedagógica na educação étnico-racial e antirracista.
Carlos Silva, professor associado da Associação Brasileira de Pesquisadores (as) Negros(as) – ABPN
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