Fenando Morais é bibliografia obrigatória para quem quer compreender a história do Brasil. Não obstante as contrariedades que cientistas sociais possuem com biografias, eu confesso que sou um aficionado pelo autor. De todos os livros que ele escreveu, há apenas dois que eu não tenho e não li. Jornalista e biografo, Morais já narrou a vida de muitos personagens e episódios da história da América Latina no último século.
Os títulos são os mais variados: A Ilha (1976); Olga (1985); Chato, o rei do Brasil (1994); Corações Sujos (2000); Cem Quilos de Ouro (2003); Na Toca dos Leões (2005); Montenegro, as aventuras do Marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil (2006); O Mago (2008); e Os Últimos Soldados da Guerra Fria (2011).
O autor cativa o leitor, não somente pelas histórias dos seus livros, mas também pela sua escrita inconfundível. Seu texto parece um eletrizante thriller de ação, que transporta o leitor para dentro da história, contando detalhes como as características corporais dos personagens ou detalhes de uma determinada cena. Eu nunca li nada de Paulo Coelho, mas devorei O Mago, a biografia do autor campeão de vendas, só por conta dos feitiços do texto de Fernando de Morais. Não por acaso, seus livros invariavelmente transformam-se em filmes. Foi assim com Olga, Chatô, Corações Sujos e Os Últimos Soldados da Guerra Fria.
Morais lançou agora o primeiro volume de uma programada trilogia biográfica de Lula. Neste primeiro livro, é retratado o início da carreira política do ex-presidente. Porém, por essas maestrias do autor, há uma série de recuos e avanços cronológicos. Assim, Morais relata a prisão do Lula no anulado processo da Lava Jato e a participação de Dom Angélico Bernardino, Bispo Emérito de Blumenau.
Dom Angélico, na ocasião, celebrou uma cerimônia religiosa em memória de Mariza Letícia, esposa do ex-presidente que faleceu durante o processo jurídico-político. O bispo é retratado no livro como um amigo da família do ex-presidente e veterano de jornada no ABC paulista, berço do Movimento Novo Sindicalismo e local de origem da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores. O livro revela também a guerra de bastidores na elite da Igreja Católica, não só no episódio de abril de 2018, mas também durante as históricas greves no ABC, no início da década de 1980 e na luta contra a ditadura civil-militar.
Biografias são sempre polêmicas. Por mais que o autor busque ser fiel aos fatos, é claro que será sempre o olhar e o recorte do autor. Sem contar o risco da criação de uma ilusão biográfica, situação em que o escritor coloca o biografado em situação diacrônica a outros atores ou indivíduos do campo social no qual faz parte. Fernando Morais não faz isso. Ao contar magistralmente a vida de Lula, conta também a recente história política nacional e a luta pela manutenção da democracia e do estado democrático de direito. Vale a leitura!
Só os esquerdistas cegos e surdos vão comprar este livro .
O livro pode ter o título …… “Do ABC a prisão, nada é meu “
Chupa essa manga invejoso ???