Opinião | Novo planejamento urbano

Foto: reprodução

As cidades estão mudando, inclusive nossas necessidades e expectativas. Um amigo, fundador da Escola da Cidade em São Paulo, arq. Paulo Brazil, fez uma pergunta em 2008 em Pomerode, quando organizamos o 1o Encontro de Arquitetura, Moda e Design (Orbitato): “Qual é o desenho do século XXI?” “Desenho” vem do latim “designare”, que significa “destacar”, “marcar” ou “esboçar”. No sentido de definir e demarcar uma ideia futura a partir da realidade do presente e aprendizado do passado, buscando através da política, planejar e realizar cidades melhores para todos. Qual é o desenho urbano ou novo planejamento urbano capaz de construir e realizar isso?

Não há política pública e planejamento urbano sem participação social cidadã organizada, constante e transparente, para isso temos ferramentas digitais, novas metodologias e bons exemplos pelo país afora, o que precisamos é uma decisão política e estratégica no sentido de construir esse sistema em nossas cidades. Estimular e incentivar a participação passa pelo resgate da confiança e satisfação das pessoas e comunidades participarem de audiências públicas dinâmicas, agradáveis e com linguagem simples e popular, realmente democráticas e deliberativas.

O Planejamento ambiental e ecossistêmico, considera as mudanças climáticas globais, passando pelas características geográficas de cada região, até a dinâmica das águas, da fauna, da flora e segurança alimentar e climática de cada cidadão e sociedade. Numa época em que já ultrapassamos o limite do aquecimento global estabelecido, é urgente pensar uma nova forma urbana, com mais pulmões verdes, arborização urbana, rios despoluídos e renaturados com margens preservadas; menos concreto e asfalto, menos trânsito e poluição, menos stress e depressão. Uma cidade verde com mais lazer, cultura, diversão, arte, música, liberdade e ócio criativo. 

O arquiteto e urbanista dinamarquês Jah Gehl, liderou a transição de Copenhagen de uma cidade poluída, congestionada e baseada no carro, para uma cidade sustentável que prioriza as pessoas, espaços públicos, ciclovias, transporte coletivo e áreas verdes sustentáveis. Não temos mais escolha, a mobilidade baseada no carro individual particular é ineficiente, poluidora, insegura e atrasada, portanto, iniciar a transição para um novo modelo é urgente. Várias cidades do mundo já começaram, com bons resultados, claro que temos que adaptar as ideias à nossa realidade, aproveitar talentos e ideias locais, definir prioridades, eleger políticos que acreditem e vivam esse novo jeito de fazer cidades e principalmente, destinar recursos adequados para realizar esse projeto, com ousadia, inteligência e responsabilidade.

Garantir centros de cidades vivos, dinâmicos, renovados e habitados, com mobilidade urbana sustentável, baseada no transporte coletivo e tarifa zero, integrado a um sistema cicloviário seguro e confortável, ligando parques, praças, escolas, locais de trabalho e moradia, priorizando a vitalidade, densidade e diversidade nos centros de bairros. Estética, qualidade, paisagem urbana atrativa, segurança pública, ar limpo e sem poluição sonora, para garantir nossa saúde física e mental.

Por último, para construir o novo e não reproduzir as mesmas soluções do século passado, é necessário ter uma estrutura administrativa independente, com autonomia funcional e técnica, composta por uma equipe multidisciplinar competente, experiente e em condições de produzir pesquisas, estudos, acumular conhecimento, pensar o futuro da cidade e gerenciar o processo participativo e técnico, que é complexo, demorado e intenso. Um time coeso, com talentos locais e de fora, apoio do prefeito e Câmara de Vereadores para pensar, debater, planejar, mudar e melhorar a cidade, considerando os vários interesses contraditórios, a especulação imobiliária, os mecanismos de participação social, as novas tecnologias e a realidade digital, não é tarefa simples, nem rápida, mas juntos podemos fazer, ir além.

“Para que a utopia renasça, é preciso confiar no potencial humano de reformar o mundo.”

Zygmunt Bauman (1925-2017)


Christian Krambeck, Arquiteto e Urbanista, empresário e professor de Arquitetura e Urbanismo FURB

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