Opinião: o Brasil não tem salvação

Imagem: A Primeira Missa no Brasil, obra de Victor Meirelles/Reprodução

Falar mal do Brasil não é esporte olímpico por um simples motivo: os deuses do Olimpo cobram desafios para coroar um vencedor e, convenhamos, é fácil relatar as inúmeras dificuldades que passamos, desde o início dos tempos, nesta terrinha que Cabral descobriu. Deus criou o mundo em seis dias e deixou o estagiário cuidar da modelagem das pessoas que formam a nação verde e amarela no sétimo. O resultado está ai… um lugar feito para festa, lindo de se ver, duro de viver.

Parece uma praga que insiste em consumir os nossos sonhos; que nossa vocação como pátria é não dar certo! Como gostamos de complicar as coisas.

Reconheço que estou distante da turma que possui um repertório amplo de críticas ao país. Amo o meu Brasil, suas imperfeições e maravilhas. As pessoas que mais importam no mundo, para mim, estão aqui. Este é motivo para insistir em por estas bandas viver e, de alguma forma, tentar contribuir para melhorar o meu lugar.

Eu torço que tudo mude e o desenvolvimento, a vanguarda da prosperidade, chegue ao menos mais perto de nossa porta. É uma pena, admito, que estádio cheio pode até fazer barulho, uma gracinha, ensaiar danças, levantar poiera … mas, para ganhar um jogo, assumir a liderança e vencer campeonatos precisamos de muito mais que expectativas e torcidas.

“O Brasil não tem salvação!”, disse o Papa em tom de brincadeira. Que baita frase com fundo de verdade. Pelo menos é o encomendado para minha geração e, talvez, para outras duas que chegam após. Herdamos dos céus uma capacidade incrível de produção de commodities e só. Finito!

Entenda que todo milagre econômico que vivemos até hoje foi baseado na imensa força que desempenhamos no campo, na mineração e no petróleo. Cansamos de desperdiçar oportunidades geradas naturalmente. Uma hora o santo desiste de fazer a parte dele.

Veja: o melhor minério de ferro do mundo é extraído aqui; como também foi retirado de nossas terras uma quantidade de ouro impressionante; soja, milho, café, açucar, proteínas são abundantes no Brasil; possuimos fartas reservas de petróleo debaixo dos nossos pés. Que sorte a nossa! E o que fizemos?

“É muita cachaça e pouca oração!” Ficamos embriagados com a doce lábia de qualquer um que vende facilidades. Deve ser uma carga genética que carregamos desde as trocas de ouro por espelho. Nesta necessidade de esperteza, os olhos turvam e não conseguimos enxergar uma saida para a espiral perversa: gira feito louco para direita, volta dois passos para esquerda, tenta se equilibrar em uma perna ao centro. Tontos, nem saimos do lugar.

É a maldita pinga que nos atrapalha. Esquecemos que existe um amanhã e ninguém espera por nossa vontade. Em pouco mais de 25 anos a China passou de um pobre país com PIB menor que o nosso para liderança mundial. Competência que sobrou para eles, iluminados em abundância, faltou para nós. O povo chinês, agora superpotência, assumiu o posto de principal comprador de nossa sorte. Jesus, como pisamos nos orientais de maneira pra lá de irresponsável e infantil. E agora?

Alternativas surgem. Terras férteis como as nossas, que ainda não foram exploradas, começam a ganhar vida na África. Igual as descobertas de um puro minério de ferro por lá. Parece que no meio do caminho entre o Brasil e a China nasce uma nova fonte inesgotável de commodities. Dúvidas que perderemos o trono de fazenda do mundo?

O que foi reservado para nós, senhor? Calma, tenhamos fé e um pouco de cachaça. Dos céus, depois de 500 e tantos anos, descerá a nossa salvação. É o que, ainda, continuamos esperando.

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