Por Aroldo Bernhardt – Professor
Thomas Friedeman é um jornalista americano, vencedor de três Prêmios Pulitzer, autor de muitas obras entre as quais “O Mundo é Plano” (não no sentido “terraplanista”), onde aborda com clareza o mundo da tecnologia digital e do capitalismo global. Diz que em função da tecnologia o mundo ficou pequeno e rápido demais (por isso é “plano”) para que pessoas e sistemas políticos possam se adaptar. Mostra que países como a China e a Índia ingressaram na cadeia global de fornecimento de serviços (especialmente) e de produtos.
Outra de suas obras impactantes recebeu o título de “Quente, Plano e Lotado” na qual busca fazer entender o mundo atual com uma análise da globalização, com enfoque na relação entre o meio ambiente e o ambiente de negócios, sustentabilidade e esperança de conciliar ecologia com economia viável.
Ele fala de um Brasil, que poderia participar como protagonista de uma revolução energética, dentro de uma nova onda de inovações tecnológicas. Sugere uma hipotética fazenda, onde um “Sr. Verde” operaria um sistema de energia limpa, usando um trator inteligente (que mede as condições de umidade e conteúdo da terra, enquanto libera a quantidade exata de fertilizantes, de modo a não prejudicar o meio-ambiente).
A propósito, esse trator seria híbrido, elétrico e com motor sobressalente movido a biocombustível produzido em terras degradadas, tudo dentro de um programa nacional de preservação da Amazônia. Fala ainda de muitos métodos para salvar a terra, da internet da energia (TI e TE em união), mas alerta sobre o petróleo “enchendo os tanques com ditadores”
Bem, tudo isso foi escrito na primeira década dos anos 2000, quando o Brasil era protagonista nas BRIC’s, condição que começamos a perder desde 2015, com uma rapidez impressionante.
Enquanto a China dá sinais de potência tecnológica e econômica (embora ainda seja muito desigual) enfrentando o gigante estadunidense com vantagem, o Brasil se ajoelha inexplicavelmente ao governo Trump. Somos agora párias nas BRIC’s (seriam agora RIC’s ou quase isso).
Há ainda outro alerta relevante no trabalho do Friedman – o aquecimento global e a questão impactante do clima. Ele assegura que estamos ingressando numa nova Era da Energia e do Clima.
E aqui, no Brasil, de agorinha mesmo, o que dizem as nossa autoridades? Bolsonaro diz que não há desmatamento e que ele é “o capitão moto serra”, enquanto revela seu desinteresse na proteção da Amazônia (seria coisa de veganos), desconhecendo a importância da floresta para frear o aquecimento global. O Presidente, desgostoso com as informações do INPE reveladoras da aceleração do desmatamento na região, demitiu o cientista que chefiava o referido instituto. Equivale a quebrar o termômetro que mostra estado febril do paciente. Ah! Sim! Fora a inacreditável liberação de pesticidas.
Em paralelo o Ministro das Relações Exteriores afirma que esteve em Roma e que lá estava frio o que, portanto, o aquecimento global seria uma balela (para chacota internacional e vergonha nossa). A atual Ministra da Agricultura, cabe lembrar, é a ex-líder da bancada parlamentar ruralista. Em outras palavras, colocaram um “caprino para cuidar do canteiro de alfaces”.
Resumo da ópera bufa: em pouquíssimo tempo passamos de protagonistas no cenário mundial para assumir o lugar da China como vilão ambiental, enquanto tornamo-nos frágeis demais para enfrentar o caos financeiro mundial que se avizinha, como consequência da queda de braços EUA-China.
E lá se vai o bonde da História!
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