Quando os recursos anuais para manter as forças armadas brasileira são praticamente os mesmos que o país inteiro despende com a segurança pública, o golpe está aí, em berço esplêndido. Cada vez que um crime deixa de ser solucionado por falta de investimentos em inteligência policial, uma viatura não consegue sair para fazer uma ronda pois faltou grana para solucionar o impedimento, nas vezes que um guarda não recebe o equipamento básico para o exercício da função pois a verba não chegou e, do outro lado, sobra dinheiro para privilégios aos militares, como as prótese peniana, o golpe está aí, continuando, mantando, sequestrando a nação e fazendo todos sofrer.
O tempo, de rememorar os sofrimentos que às sombras do passado, do atraso da ditadura militar, que provocou ao Brasil, também é um período de reflexão, de raios de luz, sobre o presente. Imagine-se comigo, se for capaz, no turbilhão da década de 60, quando o país era um caldeirão de incertezas, onde o aroma da liberdade era dissipado no ar e misturava-se ao odor do medo. Quantos se foram, com os sonhos sufocados, perdendo a voz aprisionada por desejar a razão. Aqueles heróis anônimos, que fizeram do descontentamento com o regime um motivo de luta, sofreram, como vítimas, trocando a construção de uma história em família por as páginas da eternidade.
Estes fantasmas, a ditatura, que julgávamos terem sido enterrados no passado, quase retornaram em 2023 como uma assombração. A dor, a angústia, a sensação de impotência diante da violência institucionalizada, tudo isso ressurge feito um pesadelo recorrente, especialmente com a possibilidade de anistia aos golpistas que atentaram contra os prédios que simbolizam a democracia no país.
O fardo que o Brasil carrega, de não confrontar a tirania de ontem e hoje, é aquilo que alimenta um monstro, vezes adormecido, cujas garras dilaceram os mais nobres ideais de uma nação prospera e justa para todos. Enquanto navegamos pelas águas turvas da história e do presente, é impossível ignorar a necessidade premente de repensar não apenas a carreira militar, mas toda a estrutura de segurança em nossas cidades.
Eu compreendo, claramente, que as Forças Armadas – Exército, Aeronáutica e Marinha – não possuem a tarefa constitucional de cuidar da segurança pública. Porém, a influência na formação e na cultura das policias é inegável. E, justamente, o papel que desempenham na carreira policial pede uma avaliação e revisão não apenas das funções exercidas por esses agentes da lei, mas também da própria formação e mentalidade que permeiam as instituições de segurança.
Enquanto o país desembolsa quase R$ 105 bilhões anualmente com as despesas relacionadas aos militares, mais de 60% desses recursos são destinados a servidores da reserva, ativa e pensões. Em contrapartida, o orçamento para a segurança pública em todo o Brasil mal ultrapassa os R$ 110 bilhões, considerando os valores da União, dos Estados e municípios. Não seria hora de reavaliar nossas prioridades?
Afinal, formamos uma pátria quase nada conflituosa com outras bandeiras. As nossas fronteiras precisam de um olhar atento, porém, as ruas das cidades carecem de mais atenção e reforços para alterar o padrão de insegurança espraiado por todo o país.
Neste paralelo entre o golpe do passado, a mais recente tentativa de retrocesso, e os estilhaços dos vidros quebrados diariamente nas vielas, é urgente a reflexão sobre democracia, a sua defesa permanente e a necessidade de ampliarmos nossa avaliação do poder para aqueles que carregam armas.
Que a história nos sirva de lição, que as cicatrizes do passado nos alertem para os perigos do presente. Que possamos, juntos, erguer os muros da tolerância, da justiça, da solidariedade, para que os horrores da ditatura não sejam mais do que sombras fugazes, dissipadas pelos ventos da mudança e da esperança. O golpe está aí…
Tarciso Souza, jornalista e empresário
O dito golpe de 08/01/23 realmente existiu. Sim , golpe,pois foi orquestrado por aqueles que deveriam proteger a nação de células comunistas,ideológicas travestidas em partidos políticos que apoiam ditaduras como Venezuela, Cuba.Recursos de nossos impostos para pagar as forças armadas, que agora a maioria dos brasileiros de bem não confia, visto que a orquestra toca de acordo com uma batuta vermelha, quiçá até de toga.