“É chegada no mundo a hora de reformarmos a sociedade, a humanidade, não politicamente, que nada adianta; mas socialmente, que é tudo”. Muitas vezes não está ao alcance dos olhos o poder de enxergar o que surgirá no horizonte, ou a poucos metros do próximo dedão do pé revelar a pedra que doerá no seu caminho. São os pensamentos – por ocasião desprezados e/ ou ridicularizados – que revelam, feito um farol, o que estará iluminado no futuro.
Não é premonição, adivinha ou qualquer misticismo. O estudo das palavras, um aguçado talento para registrar, sentir na pele, perceber padrões e sofrimentos, permite a alguns pensadores atravessar a porteira da vida, eternizar lições e estar muito à frente do seu tempo. Lima Barreto, um negro, um dos mais geniais escritores que o Brasil já produziu, parece que reservou esta pílula de esperança como lição para este tempo. A frase que abre o meu texto nasceu lá em 1919, três anos antes do autor carioca falecer. Avançamos mais de um século desde o escrito e, tenho certeza, em raros períodos históricos os dizeres dele vestiram tão bem aos fatos atuais como nos dias que correm.
Vivemos a necessidade urgente de transformações profundas na estrutura social. Os últimos anos, especialmente após os protestos de junho de 2013, foram bastante duros e difíceis para os brasileiros. É verdade: o planeta também mergulhou em uma louca e suicida paixão ao rancor, ódio, guerra e autodestruição. Nós, verde, amarelo, azul e branco, de bandeira estrelada, regredimos em uma década o que levamos, coletivamente, uns 60 anos para superar.
Mudar este quadro não é tarefa fácil. Além da parte orgânica, algoritmos também precisam colaborar. Não se trata apenas de alterar ou acrescentar novas leis ou políticas públicas. Meu sentimento é que precisamos reconfigurar os valores e as práticas que moldam o tecido social. Sabe uma chamada para uma revolução de consciência, onde cada cidadão reconheça sua responsabilidade coletiva na construção de uma sociedade mais justa e igualitária?
Eu não sei se algum dia chegaremos neste ponto. Se conseguirmos evitar o prosseguimento deste surto coletivo, de ideais retrógradas e autoritárias, que ecoam dos tempos mais obscuros, já é um sinal positivo. O apoio cego a figuras políticas que flertam com o autoritarismo e a intolerância revela uma amnésia geral, onde as lições do passado são ignoradas em favor de interesses mesquinhos e ideologias perigosas.
O nosso exemplo de nação torna a pintura bastante evidente. Por pouco o Brasil não esteve mergulhado novamente na década de 1960, com militares apitando ordens, matando opositores e, certamente, o país afundando ainda mais em seus tristes problemas de formação. Os depoimentos já liberados da investigação sobre a tentativa de golpe são estarrecedores. O pretenso ataque antidemocrático que seria perpetrado por Jair Bolsonaro e seus asseclas ganhou, com as revelações, um capítulo que será lembrado para sempre como a escória da política do nosso tempo.
Com tantos fatos revelados, o rei está nu, exposto em sua fragilidade moral e intelectual, incapaz de apresentar qualquer lampejo de sabedoria e responsabilidade. Enquanto a nação observa atônita os detalhes sinistros desses acontecimentos, não podemos ignorar o paralelo inquietante com o que foi o governo, tão ruidoso quanto infrutífero, que ocupou o palácio do Planalto até dezembro de 2022. O que se revela não é apenas um ataque isolado à democracia, mas sim um padrão de conduta que permeia o modus operandi do uma gestão inteira.
E os súditos, ao invés de clamarem por justiça, parecem estar doentes, infectados por um vírus de ignorância e fanatismo que ameaça corroer os alicerces da democracia e da civilidade. Como se estivessem assistindo a realidade diante de um espelho distorcido, fecham os olhos para deixar de observar o desrespeito que tudo isso representa, que expõe as entranhas mais profundas, o engodo que atraiu e destruiu tantas pessoas.
Estes fanatizados são os que fazem pensar na necessidade premente de reformar a sociedade, como registrou Lima Barreto. Em meio a esse cenário sombrio, ecoam também as palavras de Charles Darwin. Diria que, ao registrar sobre a escravidão que conheceu no Brasil, na década de 1830, o amigo de Fritz Muller estava olhando para um cidadão “de bem” do nosso tempo. Em seu livro “A Viagem do Beagle”, denunciou os horrores cometidos por aqueles que se diziam civilizados, mas agiam com crueldade desumana. “Essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra!”, apontando para a hipocrisia de uma sociedade que pregava valores nobres enquanto praticava a opressão e a injustiça.
Portanto, é chegada a hora de reformarmos não apenas politicamente, mas socialmente. Tudo isso requer uma reavaliação profunda de nossos valores e comportamentos como sociedade, rejeitando a cultura do individualismo e da competição desenfreada, e abraçando princípios de cooperação e colaboração. Devemos valorizar a diversidade e a inclusão, e reconhecer a dignidade e os direitos de todos os membros da comunidade, independentemente de sua origem, raça, gênero ou orientação sexual.
É um desafio monumental, sem dúvida, mas também uma oportunidade de redenção e renovação. Pois somente através da união e do compromisso com os valores verdadeiramente humanos poderemos superar os desafios que se apresentam e construir um futuro digno para todos.
Tarciso Souza, jornalista e empresário
Muito Bla…Bla…
O Autor acredita que o atual Governo, que administra o Brasil com vingança, ódio e ranço é capaz de socialmente modificar a população Brasileira?
Espere sentado….