Opinião: os adoradores de Baal

Foto: Estadão Conteúdo/Reprodução

O primeiro livro de Reis no antigo testamento conta a história da relação entre os adoradores de Baal e o rei Acabe. Um rei fraco, que não gostava de governar e deixava o reino na mão do seu mordomo. Por influência da mulher, tinha se aproximado dos adoradores do deus herdado dos Fenícios, povo que naquele momento, inimigo dos Hebreus. Baal era considerado o deus da riqueza, da fertilidade e da vida. Porém a aproximação do rei com os religiosos acontecia por busca de popularidade.

Diferente do esperado, durante o governo de Acabe, houve seca, fome e mortes na terra de Israel. Para fazer chover, os sacerdotes de Baal, que eram em uma grande quantidade, dançavam, se mutilavam, sacrificavam crianças. Faziam isso como forma de conseguir a compaixão do seu deus.

No último sete de setembro o presidente Jair Bolsonaro convocou que seus simpatizantes fossem a ruas defender o seu governo. Com uma pauta difusa, para não chamar de confusa, os simpatizantes dos presidentes pregavam o fechamento do Supremo Tribunal Federal, pela prisão do Ministro Alexandre de Moraes, contra o perigo do comunismo, contra a corrupção, pelo retorno do voto impresso.  Prometiam expulsar do Brasil o embaixador da China e finalmente iniciar o governo do mito. Seria a refundação da república.

Na aventura acompanhavam o presidente além de representantes do agronegócio, caminheiros e, é claro, lideranças religiosas. Igrejas neopentecostais do Brasil inteiro incentivaram a participação dos seus membros nos atos. O neopentecostalismo consiste em variação do cristianismo, praticante da teologia da prosperidade. Originaria dos Estados Unidos da América essa fé que acredita que seus fiéis, pelo simples fato de serem cristãos devem ser prósperos financeiramente, saudáveis e vitoriosos em tudo o que fazem. Assim como a salvação é individual, a vida terrena também deve acontecer por meritocracia. Os pobres e doentes são alvos de encostos, resultado de sua infidelidade.

Esse grupo enxerga em Jair Bolsonaro e o neoliberalismo empregado por Paulo Guedes uma espécie de benção de Deus para a nação brasileira.  O  governo do mito é  um claro livramento do comunismo.  O individualismo radical neoliberal encontra guarida na teologia neopentecostal. Já o Mito busca na aproximação com os neopentecostais apoio para o seu governo. De pentecostal ele tem só a mulher!

Na micareta cívica do dia 7 de setembro, orações, citação de versículos bíblicos e frases religiosas disputavam espaço com gritos efusivos de louvação a Bolsonaro e xingamentos a representantes de outros poderes da República. Aqui em Blumenau teve vereador crente que peregrinou até Brasília para adorar o Mito.

Porém, o que era festa no dia da Independência, tornou-se ressaca no dia seguinte. Assim como para os adoradores de Baal, deu ruim a festa. O imbroxável broxou. Em um só dia, Bolsonaro abandonou aos caminhoneiros, arregoou para Alexandre de Moraes, pediu desculpa para o STF, chamou o corrupto Michel Temer para aconselhar-se e ainda em reunião da cúpula do Brics elogiou a China. Dizem os analistas que as contendas entre o Mito e Suprema Corte pode custar a indicação de André Mendonça, o prometido “terrivelmente evangélico” ao STF.

Na vida real, além da fome e do desemprego os jornais agora estampam a seca que se avizinha. Especialistas já apontam que entraremos em nossa maior crise hídrica da história. Nossa bandeira continua verde amarela, mas na energia já estamos pagando a vermelha.  Mas é claro, o mais importante é adorar o Mito e estar próximo ao poder. Se necessário, até participar de micareta, aqui ou em Brasília. Seja por cegueira ideológica ou por estratégia de poder.

1 Comment

  1. Excelente artigo!!
    Um pouco de cultura e conhecimento que talvez ajude os ignóbeis (ainda que muitos) que preferiram passar vergonha e atestado de ignorância ao irem flamejantes para rua nesse dia 7.

    Porém, não me causará estranheza se daqui a pouco as patacoadas do “verme” desse dia 7 e 8 de setembro serão “negadas” como mais uma invenção “comunista”, por aqueles que já não mais encontram a vergonha da sua ignorância!!

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