Opinião | Os ‘orelha seca’ da América e de Santa Catarina

Foto: Getty Images/Reprodução

No popular, conta-se que um dia um ajudante de pedreiro deixou cair a massa que gruda os tijolos na ponta da orelha. E ai lascou… o cimento secou e ressecou a região. Foi, então, que surgiu a expressão “orelha seca”, pejorativamente atribuída às pessoas que desempenham funções de menor importância ou qualificação profissional. Nós, “os brasileiros”, somos criativos, você sabe, não é? A coisa ganhou características regionais de nossa cultura e os ‘orelha seca’ saíram dos limites dos canteiros de obras. Hoje, se espalham também pelas esferas do poder e da elite empresarial. E não é que Santa Catarina tem seus próprios exemplares?

Após o atentado que quase tirou a vida do ex-presidente e candidato americano Donald Trump, seus apoiadores, numa demonstração de lealdade cega, utilizaram bandagens e esparadrapos na orelha para simbolizar solidariedade ao republicano. Uma imagem patética, infantil e ridícula. Assim como lá, nos Estados Unidos, aqui também temos nosso exemplo de ‘orelha seca’. Cegamente repetem o que Bolsonaro, Jorginho Mello e os seus produzem, ainda que isso não encontre os pés firmes na realidade.

Santa Catarina, nosso belo Estado, recusou quase meio bilhão de reais, R$ 465 milhões, que seriam investidos pelo governo Lula. A justificativa? Birra política do governador bolsonarista Jorginho Mello. Pense… é como recusar um banquete por não gostar do cozinheiro. Os recursos que seriam enviados pela União representavam a devolução do dinheiro aplicado pelo governo catarinense durante a gestão de Carlos Moisés na duplicação da BR-470. A obra foi praticamente abandonada pelo então presidente Bolsonaro e seu ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O ritmo da construção foi tão lento que os problemas se multiplicaram, prejudicando ainda mais uma rodovia que já era um gargalo.

E não para por aí. Os nossos ‘orelha seca’ de colarinho branco também resolveram aparecer. A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) decidiu acrescentar, nos últimos dias, informações como obstáculos à conclusão da BR-470 através de um relatório próprio. Uma atitude contrastante com a postura adotada durante os dois últimos presidentes. Um ato de servidão voluntária que alinham-se ao discurso político dominante entre catarinenses.

Os catarinenses, especialmente os bolsonaristas, ficam melindrados em aceitar, mas os maiores investimentos na infraestrutura de Santa Catarina foram feitos durante os governos do PT. A ponte de Laguna, a duplicação das BRs, portos e muito mais. Apenas em 2023, o primeiro ano do governo Lula, foram mais de R$ 1,3 bilhão para rodovias federais que cortam o Estado. Só na duplicação da BR-470, o montante aplicado no ano passado foi maior do que a soma destinada à rodovia nos cinco anos anteriores.

Lembro-me de uma discussão entre o falecido Deputado Paulo França e o então prefeito João Paulo Kleinubing. O emedebista cobrava do pefelista um posicionamento sobre o andamento do Viaduto da Mafisa, um dos grandes gargalos de Blumenau. Na época, Jorginho Mello, então Deputado Federal e parceiro de Dilma Rousseff, era o padrinho político da indicação do diretor do DNIT em Santa Catarina. Paulo França dizia ao prefeito: “Eu sei que a obra é do governo federal. Mas, quando uma obra acontece dentro da minha casa, o responsável sou eu. Hoje, Blumenau é a sua casa. Tudo que acontece na cidade é sua responsabilidade”. Essa fala ressoa hoje mais do que nunca.

O secretário de Estado da Infraestrutrura, Jerry Comper, que possui a região do Vale do Itajaí como base eleitoral, mantém um silêncio constrangedor diante desta resistência do governador em aceitar investimento do governo Federal. Os ‘orelha seca’ de Santa Catarina vivem em um mundo paralelo.

Voltando no tempo, um dia o governador Paulo Afonso autorizou que a iniciativa privada duplicasse a extensão catarinense da BR-470. Acontece que as classes empresariais de Blumenau e região estavam na linha de frente da oposição ao governo do emedebista. Essas mesmas entidades, que hoje produzem relatórios críticos a gestão Lula, se posicionaram contra a duplicação nos anos 1990. Esperidião Amin, que sucedeu Paulo Afonso, cancelou a concessão como gostaria o povo do colarinho branco, e a duplicação voltou para o limbo dos sonhos. Perdemos vidas, perdemos tempo.

Santa Catarina e suas lideranças parecem se apegar à velha prática de sabotagem mútua e orgulho infantil. Os ‘orelha seca’ tupiniquins, como seus homólogos trumpistas, vivem em um mundo paralelo. Suas decisões e apoios não encontram base na realidade concreta, mas sim em uma lealdade distorcida que coloca ideologia acima do bem-estar público. O Estado segue perdendo oportunidades valiosas e, pior ainda, continua sacrificando o futuro de seus cidadãos em nome de uma fidelidade vazia e destrutiva. E assim, tal qual os ‘orelha seca’ americanos, seguimos aqui com nossos esparadrapos e bandagens, na esperança vã de que um dia a cegueira política ceda espaço ao bom senso e ao verdadeiro progresso.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

9 Comments

  1. Muito boa sua observação. Parabéns pelo texto. Os “orelha seca” daqui causam náuseas.

  2. Texto péssimo,aqui nossa bandeira é verde amarela….melhor ser orelha seca do que apoiar um ex presidiário.

  3. Não adianta,Vocês esquerdistas, podem espernear e estão desesperados em mudar a opinião dos Catarinenses.
    Aí vem uma Deputada Federal e um Governo corrupto(condenado em várias instâncias) querer ‘comprar’ o Povo Catarinense.
    Vão cumprir as promessas feitas aos Gaúchos…
    Aqui Vocês não vão encontrar guarida.

  4. Comentário acima é de uma pessoa que merece tratamento…Prefiro ser Lula do que golpista, negacionista e genocida…faz um L

  5. De fato..tem gente que de fato não se enxerga mesmo, sempre com estes comentários revanchistas e homo fóbicos .. ..você tem que tratar…Aceite Rubens..doe menos tá??

  6. Ótimo texto. Contra fatos não há argumentos. E quando os orelhas secas ficam sem argumentos, eles apelam pra narrativas como “ex-presidiário” e tantas outras. A cegueira seletiva dos bolsonaristas é constrangedora.

  7. Como fui citado poderia responder altura, mas penso não valer a pena.Em Santa Catarina nossa bandeira é verde e amarela, jamais será vermelha.

  8. João.
    Nas minhas quase 8 décadas bem vividas, como ‘ Conservador Liberal’ sinto-me muito a vontade para enxergar como são os métodos da esquerda mundial, para :
    Primeiro, se armam as mentes e depois as mentes armam as mãos com facas, fuzis e etc. para se livrar os liberais.
    Estude a história em vez de escrever bobagens.

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