Opinião | Por um turismo de natureza

Foto: divulgação

De acordo com o Ministério do Turismo, Ecoturismo ou Turismo Ecológico é o “segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações”.

O termo mais apropriado deveria ser Turismo de Natureza, uma vez que, como atividade humana, há certo impacto gerado pelas visitações. Esta forma de turismo é marcada anualmente no dia 1º de março.

É fácil perceber, pelo conceito, que a ênfase é para a educação ambiental, pois pretende formar mentes ambientalistas. É importante destacar que o Brasil é considerado pela Organização Mundial para o Turismo (OMT) como o país que apresenta o maior potencial para o Turismo de Natureza, em função de seus amplos, complexos e belíssimos ecossistemas, ainda que dilapidados em grande parte. Esta seria uma forma de geração de renda e empregos fantástica, como a Costa Rica já percebeu e cerca de 8 % do seu PIB é gerado pelo Turismo de Natureza. No Brasil não alcança os 2%, mas cresce a cada ano.

Segundo o Ministério do Turismo, uma em cada quatro viagens internas de brasileiros foram para locais definidos como de Turismo de Natureza, em 2023 e o Brasil tem um crescimento quase quatro vezes superior à média mundial neste tipo de turismo. As características naturais do nosso país são muito destacadas em relação às de outros países. Temos seis biomas diferentes, cada um com enormes riquezas naturais e belezas cênicas: Florestas Amazônica e Atlântica, Cerrado, Pantanal, Caatinga e Pampa; um litoral de 7.367 Km, da Barra do Chuí no Rio Grande do Sul à Baía do Oiapoque, no Amapá; e paisagens de tirar o fôlego por toda a parte. Muitos destes locais constituem as chamadas unidades de conservação (UC), previstas em lei, notadamente os parques nacionais, em número de 74. Os destaques são os do Iguaçú, Aparados da Serra, Caparaó, Chapada Diamantina, Itatiaia, Lençóis Maranhenses, Fernando de Noronha, Abrolhos, Pantanal, Serra da Capivara, Serra dos Órgãos e Tijuca, sem diminuir a importância dos demais.

Em Santa Catarina temos o nosso da Serra do Itajaí, com enorme potencial, o de São Joaquim e o da Serra Geral. As unidades de conservação federais são administradas pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, o ICMBio. A gestão inclui a fiscalização e as estratégias de uso, como pesquisas e visitação. A pouca estrutura federal faz com que nossos parques sejam mal geridos, infelizmente. Além disso, menos de 20% do território nacional é formado por unidades em todos os níveis da federação e cerca de apenas 8% são de proteção integral, onde não se pode alterar nada. Vale lembrar que estes espaços são ecossistemas que guardam enorme biodiversidade, inclusive de muitas espécies endêmicas.

Paradoxalmente, a sociedade brasileira fala em preocupação com a destruição e a poluição ambiental, mas geralmente é contrária à criação das UC, evocando um princípio ultrapassado de uso pleno da propriedade. Mas há também unidades estaduais e municipais, como é o caso do nosso Parque das Nascentes. Todos apresentam características marcantes e cenários belíssimos, protegidos legalmente contra a destruição. E ninguém quer visitar lugares degradados ou poluídos.

A escolha de um destino turístico sempre leva em conta o estado do local: praias limpas, montanhas verdejantes, rios claros, florestas preservadas e sua biodiversidade, entre outros. Bonito e Alcobaça que o digam. Mas Santa Catarina possui um potencial fantástico para o Turismo de Natureza, pela variedade enorme de paisagens em regiões distintas, mas não muito distantes umas das outras. Felizmente, várias dessas atividades estão tendo um desenvolvimento rápido por aqui, como a visitação aos cânions, às termas, aos parques naturais e as caminhadas em montanhas.

Mas há uma que merece um destaque especial, por ser pouco impactante e de elevado interesse econômico: o cicloturismo. Pedalar junto à natureza é algo que tem sido expandido no mundo todo e aqui não é diferente. O destaque é para o Médio e para o Alto Vale do Itajaí. Cidades destas regiões estão cada vez mais cheias de ciclistas. Estes se organizam, hospedam-se em hotéis e pousadas, contratam guias, utilizam o comércio e ajudam a criar uma nova economia e também uma nova cultura nessas cidades. Pessoas locais estão cada vez mais interessadas pelas bicicletas, prefeituras investem em ciclovias e ciclofaixas, ainda que de forma bem incipiente, por ora. Por tudo isso, esta parece ser uma vocação muito natural para o nosso estado, além de um olhar mais sistêmico sobre o potencial do Turismo de Natureza por aqui, gerando desenvolvimento social, econômico e preservação ambiental.

Pode existir economia mais sustentável que essa?

José Sommer, professor, biólogo e educador ambiental.

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