Entre os dias 1 e 14 de julho último, foi realizada a sétima edição do (VII) Prêmio Queijo Brasil, na Vila Germânica, em Blumenau. Na perspectiva da antropologia do desenvolvimento de Santa Catarina da nossa coluna, vale relacionar o evento aos dois temas fundantes da nossa recorrente análise: o capital humano e o capital social, que constituem o background do nosso estado e desses empreendimentos culturais e turísticos. Jovens inteligentes estão maximizando as tradições e promovendo o desenvolvimento.
Quando esse festival nacional de queijos foi transferido de São Paulo para Santa Catarina, a alegação geral dos organizadores foi a de que a estrutura e a capacidade de organização de eventos é mais completa por aqui. É claro que São Paulo é São Paulo e Minas gerais é indiscutivelmente a maior referência na produção de queijos no Brasil. Mas a atração que Santa Catarina exerce em termos de eventos nacionais e internacionais é fruto do nosso capital humano.
O fator logístico é essencial. Requer coordenação e operação minuciosas, em que tudo precisa estar no devido lugar e funcionar como um relógio suíço. Isso envolve a gestão do fluxo de mercadorias, informações e recursos entre origem e destino de produtos e serviços. Envolve, fabricação, transporte, armazenagem, estoque, atendimento, cadeia de suprimentos, comunicação, divulgação, limpeza, decoração, rede de apoiadores e tudo o mais que só de pensar tira o fôlego.
E quem já organizou eventos sabe que até chegar ao sucesso, o caminho de preocupações e conflitos é praticamente inevitável, mas minimizado quando se tem capacidade de organização em rede. E isso depende do capital social, um conceito – antes mesmo, um fenômeno antropológico – existente em cada sociedade, cada comunidade. Nem é preciso muito altruísmo, mas a compreensão de que a cooperação traz ganhos a todos, vontade e atitude.
E o capital humano é, em grande parte, decorrente deste fator comunitário. Onde não há simplesmente lideranças autoritárias, onde existe senso de igualdade entre pessoas que cooperam, ali o estímulo à instrução, à formação profissional e a ambição de realizar coisas que se desenvolvem naturalmente. Isso nos conduziria a inúmeros fatores de ordem histórico-antropológica que têm a ver com a colonização e o desenvolvimento de SC – uma longa e interminável conversa.
Não obstante, esse capital humano não apenas demonstra a capacidade logística, mas também a capacidade de aprender, aprender com os outros, inclusive. É isso que o Prêmio Queijo Brasil nos demonstra, além da óbvia, mas ainda surpreendente, qualidade dos produtos expostos. Brasileiros de outros cantos vêm trocar informações e incentivam catarinenses a aperfeiçoar os seus produtos. E o resultado, para visitantes leigos como Eu, é extraordinário.
Esquece o queijo mozzarella das prateleiras dos supermercados – sem demérito algum. Mas, o que o Brasil e Santa Catarina estão produzindo em termos de queijos (fora outros atrativos), está se transformando rapidamente em um padrão internacional. Aquele queijo das primeiras colônias fez uma viagem estupenda no tempo. Começa na mesa da família, se transforma no produto das grandes marcas nacionais catarinense, para se transformar no queijo nobre de sabores indizíveis.
Jovens inteligentes e instruídos, origem rural e mentalidade empreendedora, estão incrementando a economia e permanecendo nas cidades pequenas. Estão somando suas formações universitárias ao conhecimento de pais e avós, sem inflar as cidades grandes, gerando desenvolvimento sustentável e enraizado na tradição. Nem é fácil dizer como tudo começou e quando. Mas é inevitável relacionar isso ao capital social e humano e afirmar que isso explica o que é Santa Catarina.
Walt Birkner, Sociólogo
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