A produtividade é um elemento crucial para o desenvolvimento econômico de um país. Enquanto na economia dos Estados Unidos a Produtividade Total dos Fatores (PTF) cresce cerca de 1% ao ano desde 1950, no Brasil, a realidade, lamentavelmente é distinta. Aqui, nossa PTF está estagnada desde os anos 1980, o que reflete a incapacidade de nossa economia em absorver tecnologia e melhorar sua eficiência. O último grande ciclo de crescimento de produtividade no Brasil ocorreu nos anos 1970.
O crescimento de uma economia depende basicamente dos seguintes fatores: recursos naturais, quantidade de mão-de-obra disponível, nível de educação dos trabalhadores, tecnologia e capital físico composto por bens duráveis utilizados na produção de outros bens e serviços. Ocorre que, a capacidade de utilizar esses fatores de produção de forma mais eficiente e produtiva, praticamente não evoluiu no Brasil, ao longo das últimas quatro décadas. Isso refletiu diretamente na remuneração dos trabalhadores, que está intrinsicamente ligada à produtividade a longo prazo.
A história recente mostra que, a realidade do Brasil é deveras preocupante. Na última década, uma sucessão de choques econômicos negativos, a exemplo da recessão econômica profunda entre 2015 e 2016 (-3,8% e -3,3% de crescimento negativo do PIB), causada pela desastrosa Nova Matriz Econômica (NME) no Governo Dilma levou o país ao pior crescimento em 120 anos. A recuperação econômica foi bruscamente interrompida pela pandemia do Covid-19. Resumo da ópera: mais uma década perdida (2011-2020) de desenvolvimento econômico para o Brasil, além do decênio 1981-1990.
Deveríamos estar nos dirigindo para o rumo oposto, absorvendo tecnologia e nos organizando para atingir níveis de eficiência superiores. A estagnação da nossa Produtividade Total dos Fatores é preocupante para o futuro do país. Se medidas efetivas não forem tomadas, as gerações futuras olharão para trás e lamentarão o descaso com a PTF, esse indicador tão essencial que mede a eficiência e a capacidade tecnológica de uma economia.
O crescimento potencial do Brasil, que é a taxa máxima sustentável na qual uma economia pode se expandir ao longo do tempo sem desencadear pressões inflacionárias ou desequilíbrios macroeconômicos possui estreita relação com a produtividade. Logo, uma maior produtividade contribui diretamente para elevar o crescimento potencial da economia, permitindo um desenvolvimento mais robusto e sustentável ao longo do tempo.
Mas, nem tudo andou para trás. O ótimo desempenho da agricultura brasileira, que registrou um crescimento médio de 3,7% ao ano nas últimas quatro décadas, contrasta com o baixo desempenho do setor industrial. Dados do Observatório da Produtividade do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas mostram que, em 1995, a produtividade por hora trabalhada na agropecuária era de R$ 5,90, valor que foi a R$ 25,50 em 2022. Já, a produtividade da indústria de transformação brasileira caiu quase 1% ao ano, em média. Isso significa que, se em 1995 cada hora trabalhada no Brasil gerava R$ 45,50 em produtos, em 2022 eram apenas R$ 36,50 por hora trabalhada.
O economista Fabio Chaddad destacou que os impulsionadores desse crescimento foram as inovações tecnológicas, o comércio internacional, o empreendedorismo e as melhorias na gestão. A pesquisa em tecnologia agrícola, tanto por entidades públicas quanto privadas, contribuiu para esses ganhos significativos de produtividade.
Fato é que se, implementarmos reformas efetivas que melhorem o ambiente de negócios, há a possibilidade de alcançarmos um crescimento anual mais robusto girando ao redor de 5%. Entre as mudanças necessárias para impulsionar a produtividade, são necessárias melhorias abrangentes em áreas-chave. Isso inclui investimentos principalmente na educação básica, na capacitação dos trabalhadores, estímulo à inovação e tecnologia, simplificação do ambiente de negócios, maior liberdade econômica, aprimoramento da infraestrutura e logística, reformas institucionais para fortalecer o Estado de Direito, reformas tributárias e regulatórias para incentivar a competitividade, além de melhorias no acesso ao crédito para empresas. Essas medidas, se implementadas de maneira consistente, impulsionarão a produtividade, fortalecendo o crescimento econômico sustentável no Brasil.
Estas mudanças não apenas afetariam o ambiente de negócios, como produziriam um impacto direto na vida das pessoas, incluindo a qualidade de vida futura de nossos filhos e netos.
Mas, o cenário atual é desolador. O Brasil está na 60ª posição em uma lista de 64 países, à frente apenas de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela no ranking de competitividade mundial, medido pelo IMD Competitiveness Center.
Além disso, o futuro da capacidade de produzir do país já está comprometido. O Brasil está na 52ª posição no ranking Pirls (sigla em inglês para Estudo Internacional de Leitura), que avalia crianças do 4º ano do ensino fundamental em 57 países. Isso coloca o país atrás da Albânia, Cazaquistão, Azerbaijão e Uzbequistão, e outros.
No Ranking de Liberdade Econômica, que avalia o grau de liberdade e abertura econômica de um país da Heritage Foundation, o Brasil ocupa a posição 127 entre 186 nações, atrás de Panamá, Sérvia, México, Vietnã, Rússia, dentre outros. Esse índice analisa uma série de indicadores econômicos, como liberdade de comércio, direitos de propriedade, eficiência regulatória e abertura ao investimento estrangeiro. Com base nessas métricas, os países são considerados mais propensos a promover um ambiente favorável aos negócios e ao desenvolvimento econômico.
Sem essas reformas, é difícil vislumbrar um crescimento econômico sustentável para o Brasil. É urgente priorizar esse debate e implementar as mudanças necessárias para impulsionar a produtividade.
Lamentavelmente, o Brasil não tem feito a lição de casa. Uma frase do economista Marcos Lisboa ilustra bem a realidade brasileira: “Não conseguimos produzir e gerar mais renda e bem-estar com a mesma quantidade de capital de trabalho. Não somos bons em crescimento econômico, mas somos bons em gerar crises e inflação, assim como em distribuir subsídios e benefícios para grupos privados”.
Jorge Amaro Bastos Alves, economista
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