Opinião | Prostitutas são mais puras em suas intenções que muitos dos homens públicos

Imagem: "da série Axs Nossxs Filhxs", Lia D Castro/Divulgação

Tinha sua paz o homem Jesus quando protegeu as prostitutas. Ninguém possui dúvidas, as mulheres que entregam o corpo, como oferenda ao prazer, fazem assim com as intenções mais lúcidas e transparentes possíveis. Trocam o acesso ao íntimo, como em uma relação comercial, um tanto de dinheiro por satisfação do desejo do outro. Pode não existir nobreza na profissão, a moeda talvez nem pague a justiça de todo o uso, abusos tolerados na alma, e, mesmo com a sociedade torcendo o nariz, é impossível negar a pureza sincera do cliente, da trabalhadora, dos gestos, palavras e movimentos. Um punhado daqueles que deleitam-se de cargos eletivos, por sua vez, agem desonestamente na subjetividade, ocultando a verdadeira vontade final.

Utilizando as palavras de Marco Antônio no velório do imperador Júlio César, não quero falar de todos homens honrados. Longe disso, o que trago causa tristeza, revolta, a dureza da realidade. Acompanham meus pensamentos um número grande de dúvidas: perdemos o exercício natural de ajudar? O prazer missionário do servir ficou para os santos?

Ao que parece, socialmente convivemos melhor com o asco das aparições, discursos demagógicos, vazios e mentirosos de representantes públicos que o convívio inofensivo com uma criança cuja mãe é prostituta. Vai saber, inconscientemente, sei lá, a sociedade encontra mais pureza e honestidade entre os que buscam votos e promoção de imagem como caçadores do caos, tragédias, “likes”…

Veja o caso mais recente, do barbáro crime na creche. Correm apressados os honrados. Deitam palavras fofas, propostas tão prontas que ficam nuas frente a dureza que o desafio impõe. Que “puteza” desonesta é esta que fazem brotar recursos que faltavam até ontem, impendido o avançar da segurança, saúde, educação? É um ritual odioso para seduzir e provar-se ereto no tempo, dúbiamente prometendo um norte de paz para entrar um sul raivoso.

Henry Louis Mencken, um jornalista americano racista liberal de direita, que viveu no final do século XIX, cometeu inúmeros equívocos em sua avaliação do mundo. Porém, uma de suas teorias venceu os dias e, hoje, presta como exemplo as respostas que assistimos dos conservadores no Brasil, nas faces do planeta. Dizia Mencken que “para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada”. Estava certo!

A onda de pavor nas escolas desencadeou, também, um grave problema emocional no país, causando a paralisia do discernimento coletivo. As simples e elegantes ações para solucionar o risco a vida das crianças vão, com o avançar das semanas, demonstrando lentamente que estavam ali, completamente erradas, para seduzir, causar o desejo sem revelar a mais pura das intenções.

As prostitutas diriam, como Oscar Wilde, que “tudo no mundo é sobre sexo, exceto o sexo, que é sobre poder”. Muitos honrados homens públicos, por seus atos, reescreveriam declarando que “tudo em meus atos é sobre voto, exceto o voto, que é sobre poder”.

Tarciso Souza, jornalista e empresário.

3 Comentário

  1. Sr. Tarcíso.
    Finalmente, um artigo que merece elogios nesse noticiário tendencioso.
    Parabéns.

  2. Sensacional… e praticamente tudo na política é assim mesmo, com o perdão das prostitutas, não passa de uma “putaria”, do voto vendido as reportagens compradas. Depois de um tempo, quem na política pratica o correto, sente-se como uma freira no prostíbulo, precisando fazer vistas grossas, sendo inclusive ameaçado pelos pilantras. Entretanto os pilantras estão lá porque foram eleitos, e daí vale aquela máxima: “cada povo tem os governantes que elege”

  3. Por isto que não podemos xingar alguns políticos de “FDP’s” , ofende as prostitutas..
    Concordo com o leitor Edson , “cada povo tem os governantes que elegem”.

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