Opinião: quando a mulher aumenta o tom de voz

Foto: reprodução

Em 2019, numa jogada de marketing para divulgar o seriado Coisa mais Linda, de Heather Roth e Giuliano Cedroni via-se as personagens Malu, Lígia, Adélia e Thereza, que vivem nos anos 50 falando frases carregadas de machismo, típicas daquela época. Mas em seguida, para surpresa de todos, ao finalizar a chamada, elas revelam que as frases foram tiradas das redes sociais de mulheres da nossa década, pra ser mais exata, captadas em 2019.

Ainda esta semana, em uma cena de novela de época, a personagem mais velha explica para a mocinha recém casada – por obrigação e com escolha do marido pelo pai – os motivos pelos quais deveria se deitar com o recém marido, com a seguinte frase: “É de dever da vaca, da porca, da galinha e da mulher, se deitar pra dar filhos”.

Sim, era o costume da época.
Sim, nada pode ser feito hoje para mudar o que aquelas mulheres passaram.

Mas num reverso, é dever de todas nós que isso nunca mais aconteça. Em alguns rincões desse nosso país, mulheres ainda se submetem a isso. Em alguns lugares do mundo mulheres ainda tem suas vidas intimas decididas por homens (como se não bastasse eles, em maioria, decidirem tudo na política).

Na época do imperador, nossa função se resumia em se deitar para pegar barriga, hoje, votamos e podemos ser votadas, escolhemos com quem casar e podemos optar por não casar.
Nos é permitido inclusive o divórcio, apesar de que, acreditem, é um ato juridicamente possível com menos de 50 anos. A juíza de paz fluminense, Arethuza de Aguiar, foi a primeira, somente em 1977!

Somos presidentes, governadoras, prefeitas e vereadoras, empreendedoras, CEOs, médicas, engenheiras civis, cientistas, mães, donas de casas e o que mais quisermos ser.
Somos suficientes, mesmo que em algumas mesas, quando o tema é negócios ou política não tenhamos um único espaço e então elas ficam ocupadas somente por mais 15 homens brancos, de classe média, daqueles que em seus lindos discursos defendem – a contra gosto – nosso protagonismo.

Mas por que é, então, que eu estou reclamando?

Porque sempre que uma mulher levanta a voz, ela é taxada de desequilibrada.
Porque sempre que ela contraria um homem, todo seu estudo, trabalho e intelecto é posto a prova.
Porque chegar aonde chegamos e termos os direitos que conquistamos precisamos sempre nos empenhar duas, três vezes mais do que qualquer homem.
Porque quando um homem grita no senado, todos param para ouvir e o aplaudem.

Quando uma mulher aumenta o tom de voz no senado, é questionada se está de TPM, se é falta de sexo e por aí vai.

Não quero ganhar nada no grito. Quero é ser respeitada podendo falar baixo e vencer na argumentação, mas se eu chegar no ponto de ter que aumentar o tom da minha voz , quero ser ouvida com o mesmo respeito e deferência que um homem.

Quando uma mulher aumenta o tom de voz, não é por falta de argumentos, é porque estamos cansadas de ter nossas vozes caladas, interrompidas pelo desrespeito de quem nos vê inferiores apenas por sermos mulheres.

1 Comment

  1. “…pelo desrespeito de quem nos vê inferiores apenas por sermos mulheres.”

    Desconfio muitíssimo dos homens que vêm inferioridade nas mulheres…

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