Águas turvas de um mar bastante agitado é o que o guia planejou como desafio para o nosso barco destes tempos estranhos. Bem-vindos a mais um fim de domingo de uma semana repleta de nuances históricas.
Que momento fomos escolhidos para viver. Aos nossos pés, obstáculos nada sólidos e, aos olhos, confusas cartas de navegação. Lançamos, nestes dias, mensagens ao futuro enclausuradas em garrafas, torcendo para que encontrem uma travessia confortável e a atenção acolhedora ao chegar em um incerto destino.
Pequenas pílulas que, certamente, terão relevância para as gerações que virão. Hoje, podemos imaginar, sonhar… mas, estamos distantes de avistar a segurança de um porto no horizonte.
“Navegar é preciso; viver não é preciso”, já diria Fernando Pessoa. Para mim, nenhuma frase é capaz de reunir melhor expressão enigmática sobre o tempo, sobre agora, sobre o amanhã, e os balanços que enfrentamos desde o primeiro segundo que partimos do cais, que o fragmento escrito por este poeta português. Hora estamos no topo, outras descendo uma onda gigante de Nazaré. Naturalmente a inquietude e mudanças bruscas tocam o estomago. Que sejamos coerentes para não confundir o desejo deste órgão.
Serenidade para não titubear ou enlouquecer.
É verdade que o crime, a barbárie nasceu bem antes de Cristo. Domesticamos os animais mais ferozes e negligenciamos o adestrar das ações (des)humanas. Guerra nenhuma compensa! A morte é um preço alto de mais para ser pago por qualquer evolução. Infelizmente, são em momentos de profunda confusão mundial que sutilmente transformamos o mapa, a tecnologia e a história.
Sou um iludido, não leve a sério meus devaneios. Não creio em teorias conspiratórias, nem em acasos que resultam em alterações hegemônicas. Acredito que estamos assistindo o poder mudar o eixo de sustentação do planeta. O soviético Lenin diria, em meu lugar, que “há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Para mim, nunca foi tão real! Concorda?
Ao lembrar do revolucionário comunista não posso deixar de pensar na Rússia e a sua guerra. Será mesmo que eles não previam o que aconteceria ao investir contra a Ucrânia? A força energética deles não permite aos europeus – e ao mundo – encontrar no curto e médio prazo quaisquer substitutos ao gás, petróleo e insumos de lavoura. Por coerência precisamos aceitar que uma onda inflacionária chega acompanhando o imediato cancelamento de um dos maiores povos.
Percebe que está tudo interligado quando buscamos ser retos em nossa conduta e opiniões? Faz sentido defender um bloqueio da propriedade privada, do dinheiro e toda sorte financeira dos russos e ser contra a alta dos preços de combustíveis e alimentos? Qual a coerência de lutar pela liberdade e censurar as ferramentas? Que honestidade existe em pregar, durante o dia, com uma parte de uma história fora de contexto para defender a honra da família tradicional brasileira e, à noite, seguir para casa de swing?
Vou repetir: não acredite em mim! Mas, por favor, mantenha um tanto de coerência na mão quando o barco balançar. Se você deseja defender o liberalismo, o Estado mínimo, abra mão dos incentivos governamentais e afaste-se do poder antes de discursar desonestidades. Ao lamentar a destruição de uma guerra, do sofrimento de uma nação distante, faça o seu máximo para ajudar os afetados por tantos dramas próximos de você. Chora por um refugiado ucraniano? Existem milhares de humanos que fogem de conflitos esperando atenção nos semáforos das cidades. Se deseja resgatar uma vida mais próspera, por exemplo, de nada adianta persistir no mesmo caminho.
Coerência, coerência, coerência! Pense e ajuste as velas da embarcação para a mesma direção. Forças contrárias são como água invadindo o convés, afetando estruturas, naufragando. Mantenha o leme firme para que sopro algum altere o caminho que você deseja aportar.
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