Opinião: sem fé é impossível agradar os eleitores…

A instalação do crucifixo no plenário do Supremo. Fonte: Jornal do Brasil

Há temas que teimam em permanecer no centro da esfera pública. Um deles é a laicidade do Estado.  O conceito que tem origem nas revoluções liberais, portanto, não é coisa de comunista e prevê que institucionalmente o Estado deve ser separado das organizações religiosas. Essas também não devem interferir nos assuntos públicos. Essa crença faz parte do que entendemos como princípios fundadores do mundo moderno.

Nacionalmente o tema voltou à baila por conta da eleição do Pastor Presbiteriano e Jurista André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF). A chegada daquele que nas palavras do presidente é terrivelmente evangélico a Suprema Corte foi motivo de efusivas comemorações por parte de integrantes do governo e parlamentares bolsonarista.  Até a primeira dama entrou na roda. Tudo por conta de um vídeo que Michele Bolsonaro aparece em uma espécie de transe, comum nas igrejas evangélicas.

Na esfera local, o debate entre religião e Estado se deu por conta da informação que o Ministério Público de Santa Catarina (MP) entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade para acabar com o Momento Bíblico na Câmara Municipal de Blumenau. Sim, nossos valorosos edis, no início de cada seção, escolhem livremente um texto bíblico para ler na tribuna.

Pelo que consultei com nossos vereadores, o momento não tem muito critério. Há uma escala, que é seguida conforme a presença em plenário. Durante a leitura normalmente ninguém presta atenção. Também não há registro que o fator de ler a bíblia antes de começar os trabalhos, melhore os discursos sobre buraco de rua, as festas das cucas, eleição de rei e rainha do tiro, carteirada em guarda de trânsito, entre outros.

A louvada iniciativa do MP, fundamenta-se no fato que “não pode o legislativo municipal impor a leitura do livro sagrado de uma religião em detrimento de todas as outras e que a prática não se coaduna com os princípios da laicidade do Estado e da liberdade religiosa e vão de encontro aos princípios da isonomia e da impessoalidade”, 

No final de semana ainda tivemos o episódio do senador Jorginho Melo (PL), que segundo o colunista Upiara Boschi, extraiu uma imagem da Nossa Senhora Aparecida do peito para se fazer presente num evento evangélico na Assembleia Legislativa. Fez isso para garantir aos Republicanos em sua chapa para govenador. Para garantir voto dos evangélicos, nosso senador decidiu dar um descanso para a padroeira nacional.

Na história da humanidade, política e religião sempre andaram em paralelo. Na maioria das vezes se confundem. Há quem diga que quem não entende de política, não compreende a religião, e o inverso também é verdadeiro. Essa relação amplifica-se num país que começou com uma missa, e que a maioria das cidades cresceram a reboque das dioceses locais.  Temos mais feriados religiosos do que feriados civis.

O que temos de novidade é que as últimas décadas, os evangélicos decidiram sair do armário e instrumentalizaram a política, assim como, se deixam instrumentalizar por ela.  Pentecostal é barulhento e decide fazer no Senado Federal o que antes só faziam em suas igrejas. Uma língua estranha para o Estado Laico. O MP vai precisar de sorte ou de um milagre!

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