Nos últimos nove meses um dos assuntos mais comentados – se não o mais comentado – certamente foi Coronavírus (COVID-19), estamos vivenciando uma pandemia nunca vista antes. O mundo lutando contra um vírus invisível a olho nu, sem um padrão exato de sintomas e o pouco que sabemos sobre a doença vem em decorrência das experiências vividas pelos casos positivados e estudos realizados através destas, o que tem gerado muitas controvérsias como o caso da cloroquina, vitamina D, mel com alho, entre outras “curas” surgidas no desespero de se agarrar a um fio de esperança.
Não temos hoje um tratamento preventivo com eficácia comprovada, temos vacinas em aprovação pelos órgãos regulamentadores, sem um prazo determinado para iniciar a imunização da população no Brasil. Sendo que o único modo de controlar a circulação do vírus é com pelo menos 70% da população imunizada. O que temos certeza é que se trata de uma doença transmissível.
Essa situação deveria unir as pessoas, gerar mais solidariedade, empatia, pessoas pensando no coletivo para o bem comum. Porém, é exatamente o oposto que podemos ver retratado em muitos comentários de matérias e notícias referente o assunto nas redes sociais. Dentre os mais variados casos, pessoas negacionistas alegando ser jogo político, opiniões conflitantes referentes à quarentena – o que vale mais: VIDA x ECONOMIA? Como se vive sem economia? Como se tem economia sem vida? –, quanto ao uso de máscaras, sobre os estabelecimentos autorizados a abrirem suas portas e os que permanecem fechados, sobre as aulas suspensas e o que mais me assusta: pessoas criticando as informações repassadas sobre quantidade de casos e mortes. Não que todos os demais sejam menos assustadores, mas, a que ponto a sociedade chegou? Comentários como “Não se tem outras notícias?” “só morre de Covid-19 agora!”, “fulano não morreu de Covid-19 ele tinha câncer”, entre outros absurdos, fazem parte do cotidiano.
Gostaria de dizer que não, as pessoas não morrem somente de Covid-19 ou em decorrência dela. Continuam existindo os falecimentos decorrentes de câncer, insuficiência cardíaca, infarto, AVC, pneumonia, fatalidades no trânsito, entre outras causas. O que me deixa indignada é o fato de as pessoas terem esquecido que cada uma dessas mortes, seja por qual for a causa, era UMA VIDA. Era familiar, amigo querido de alguém. Uma pessoa assim como eu ou você. Nada nos dá o direito de desrespeitar a dor do próximo.
Ouvi dizer que a pandemia tem aflorado o que há no interior das pessoas, concordo com a colocação e me sinto assombrada com a sociedade que está se criando. Tamanho individualismo, egoísmo. Uma sociedade em que se a dor não for consigo, se não pesar no seu bolso, está tudo bem o que acontecer com o outro. Uma sociedade que julga sem conhecimento, que busca apontar os defeitos e não lutar pela solução.
A estas pessoas que questionam em redes sociais a fora “porque só falam das mortes por Covid-19 agora? Não se morre mais de câncer?” eu os quero dizer: a sutil diferença entre Covid-19 e câncer é que você não pega câncer por ter tido contato com uma pessoa com a doença. Esse pequeno detalhe, é o motivo de ser tão falado nas mídias atualmente. O fato de ser algo novo, desconhecido e transmissível. Ou seja, nós precisamos nos cuidar. E cuidar uns dos outros. Ter verdadeira empatia, colocar-se no lugar do outro e sentir sua dor. Mas, se isso não for possível, que no mínimo se tenha respeito.
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