Opinião | Sobre a Educação em Platão

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Segundo Platão, “a educação é a habilidade de virar a alma” (518 d3-5), “conduzindo-a das trevas para a luz…” (518 d5-7). Explique em detalhes o que isso quer dizer.

No livro VII de A República, Platão, através da apresentação do Mito da Caverna, expõe sua opinião de que os homens do mundo, em geral, vivem em contato não com a parte real do ser, o ser-em-si. Vivem sim, em contato com o existencial deste ser, seu devir. Portanto não tem uma ideia real dos seres, mas apenas contato com devires que o estimulam a ter opiniões apenas sobre o que consegue apreender deste contato. Não têm a real ideia, o saber puro daquele ser, o saber-em-si.

Na alegoria do supracitado mito, seria como se os homens vivessem nas trevas da caverna, e tirassem suas conclusões e tivessem opiniões apenas através de sombras projetadas na parede e advindas do mundo real. Estes homens só entrariam em contato com o ser real quando lhes fosse mostrado a verdade através da ascenção do mundo existencial para o mundo universal das formas ou ideias. Antes disto, suas impressões mundanas seriam erigidas em cima de seu contato com os seres a eles visíveis, ou os seus existenciais. No caso as sombras.

Na alma do homem, porém, estão impressos desde o nascimento e de maneira herdada de vidas pregressas, todas as formas reais dos seres do mundo. Mas o homem, ao nascer não sabe disto, e, portanto, não tem acesso espontâneo a estas formas que estão em sua alma presentes. Vive num mundo de seres em devir. E se a ele nunca for permitido descobrir, nunca terá contato com estas ideias universais.

Platão entende que a tarefa maior de um educador é exatamente conduzir seu pupilo da profundeza da caverna, da realidade em que só se conhece os existenciais e as opiniões sobre os seres, em direção ao lado de fora da caverna, ao mundo do real, das formas universais. E esta condução se dará através do direcionamento feito pelo mestre ao seu aluno, onde este o guiará na busca do saber.

Na tentativa de justificar os universais, Sócrates cita que nas ciências, estudando os existenciais empíricos do mundo, tende-se necessariamente a separar os problemas próprios e afeitos a cada área do conhecimento específico. Daí termos, aqui, a explicação platônica para justificar o conhecimento humano estar separado em diversas áreas científicas. As inúmeras ciências diferentes captam apenas alguma parte do ser, mas mesmo se valendo do ser, não o explicam. E isto se deve ao fato de que jamais apreender-se-á o ser-em-si através da maneira científica compartimentalizada de entender o ser.  Apenas pela via somatória dos mais diversos saberes científicos pode-se aproximar do conhecimento do universal deste ser. Porém, nunca uma tal profundidade de conhecimento do ser será alcançado por via científica a ponto de se permitir, através desta abordagem, conhecer a plenitude do ser-em-si.

O professor, na medida que vem ensinando as inúmeras áreas do saber, está despertando em seu ensinado um aproximar cada vez maior deste aprendiz com o mundo do universal, do ser-em-si, das formas ou ideias. O mestre auxilia o aluno a dominar os mais diversos campos do saber, seja científico, seja religioso, seja filosófico. E, quanto mais detentor dos inúmeros saberes for um homem, mais próximo do mundo ideal este se encontrará; mais apto, sensato e circunspecto este se encontrará. Homens com estas qualidades fazem-se essenciais à sociedade e ao Estado.

A Dialética, com o auxílio apenas do raciocínio e sem os sentidos, segundo Platão, consegue atingir a essência de todas as coisas. Assim, via Dialética, alcançam-se os limites do mundo inteligível, tal como a visão atinge os limites do mundo sensível. As disciplinas diferentes da Dialética captam apenas algumas partes do ser. E mesmo se valendo deste ser, não o explicam.

Por fim, em A República, de Platão, conclui-se que a função do educador se centra em conduzir, valendo-se da Dialética, uma anamnese em que o aluno resgate, sob orientações deste mestre educador, os conhecimentos universais e se torne o mais preparado possível a viver em um Estado. Qual é a posição que Platão adota em relação à poesia homérica, no que diz respeito à formação do homem grego?

Desde os primórdios da cultura grega, relatos poéticos, principalmente os advindos dos textos de Homero, eram usados como veículos de educação dos mais jovens, principalmente no tocante a amor ao Estado, civilidade, honra, justiça.

No livro X de A República, Platão afirma que a poesia deve se manter longe de uma República bem administrada. A oposição entre filosofia e poesia se baseia na constatação, feita por Platão, de que a filosofia busca e trabalha com o ser-em-si ou formas ou ideias, enquanto a poesia trabalha com ficção. E admitindo-se que a ótima formação moral e cívica do jovem se dará quão mais próximo do conhecimento real este estiver, a poesia, ao contrário da filosofia, deve ser desestimulado em ser reproduzida. Em, então, Platão, a ficção deve se manter longe de uma República bem administrada. A oposição entre filosofia e poesia é de que a filosofia trabalha com a essência do ser-em-si (formas/ideias) enquanto a poesia trabalha com ficção.

Alarga seu repúdio para além da poesia, estendendo-o a qualquer tipo de arte. Sócrates, em A República, estabelece três níveis possíveis de conhecimento do ser: Universal (das ideias ou formas ou não-ser ou ser-em-si ou das essências), o Existencial (das ciências ou das opiniões) e o da Arte (imitações dos Existenciais ou ilusão). Ou seja, as artes mostram um grau do real das formas/ideias tão longe que em nada auxilia o homem em descobrir a verdade e se preparar para viver por um e em um Estado.

Ainda contra as artes, Sócrates declara que estas, quando em contato com o homem, excitam nele as paixões e as mais inferiores porções da alma. Por Jaeger:

“A Poesia estraga o espírito dos que a ouvem, se eles não possuírem o remédio do conhecimento da verdade.”

“Segundo Platão, desde Homero os poetas não fizeram mais que representar as imagens reflexas da Arete humana, sem, porém, captarem a verdade, razão por que não podiam ser autênticos educadores dos homens.”

“Segundo Platão, o poeta não é homem de saber, no sentido filosófico da palavra, nem sequer de verdadeira opinião, no sentido dos pragmáticos não filósofos, mas imita a vida na medida em que a multidão a considera boa e formosa.”

E sobre a educação moral, que nos tempos platônicos da Grécia, como antes já dito, sabidamente estava apoiada maiormente nos exemplos advindos dos textos do poeta Homero. Platão coloca-se abertamente contrário a isto. Como cita Paviani:

“A condenação às artes no Estado ideal é coerente com a concepção de Platão, que pretende diminuir a importância que os gregos davam a Homero como educador da pátria. Para ele, Homero e os demais poetas não poderia ser fonte de educação moral.”

Define-se, então, que, em sendo um crente no Mundo das Ideias como origem de todo o saber humano, Platão estabelece que a busca do conhecimento, quando estimulado pelo mestre, através de uma anamnese e este tutor valendo-se da Dialética, é a melhor fonte para encorajar o aluno à busca do saber. E, principalmente, através disto, aproximar este aprendiz, via acúmulo de conhecimentos, o mais possível do mundo ideal, das ideias ou formas ou do não-ser ou ainda do ser-em-si.

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