Há a notícia de que alguns países no mundo iniciarão a vacinação de suas populações. A esperança de que poderemos ter, em 2021, algo próximo do que era a vida antes do coronavírus parece surgir no horizonte. Aliás, o ano que termina foi testemunha de um esforço extraordinário de governos, universidades e laboratórios que se uniram em busca de um imunizante para o vírus. Apreendemos também novos hábitos de higiene e cuidados sanitários.
Porém, dizem os especialistas que mesmo com o cenário de populações imunizadas, os cuidados devem ser um hábito frequente no mundo pós-pandemia. O vírus, um intruso que chegou no final de 2019, paralisou o mundo em 2020, mesmo com a vacina, não deve facilitar as nossas vidas em 2021.
Se, com muito esforço, adquirimos novos hábitos e encontramos a vacina para a doença, no mesmo período o mundo não foi capaz de unir as mesmas forças em torno do maior problema que o COVID-19 mostrou: as desigualdades existentes no sistema capitalista. O vírus não somente adoeceu e matou milhares de pessoas, ele desnudou um mundo marcado pela desigualdade e pela concentração de riquezas.
Uma realidade que mesmo antes das medidas sanitárias restritivas, colocadas em práticas pelos governos, já mostrava índices pandêmicos. As políticas econômicas colocadas em curso no mundo durante as últimas duas décadas, produziram um cenário sem igual de concentração de riquezas e produção de misérias.
No cenário nacional as reformas econômicas colocadas, em curso desde 2016, não produziram o efeito prometido. Pelo contrário, o desemprego cresceu, a concentração de riquezas, que já vinha em ascensão, explodiu e a pobreza voltou à cena nacional. Com o fenômeno da pandemia, essa catástrofe social torna-se ainda mais aguda.
Segundo estudo da Oxfam Brasil, durante a pandemia ampliou-se as dificuldades de sobrevivência dos mais pobres e se fez crescer o patrimônio dos mais ricos. Enquanto os 25 maiores bilionários do mundo aumentaram sua riqueza em U$ 255 bilhões nos três primeiros meses da pandemia, milhares de pequenos negócios foram à falência. No Brasil segundo a mesma instituição, menos da metade dos pequenos e médios empreendimentos conseguiram acesso aos créditos bancários. No mesmo período, o governo Bolsonaro investiu cerca de 1,2 trilhão de dinheiro público para comprar dívida de bancos, sem contrapartida. No Brasil mais de 700 mil autônomos ficaram sem renda, a maioria mulheres e negros.
O que fica evidente neste cenário é a própria incapacidade da economia capitalista de promover distribuição de riquezas e promover justiça social. Se encontramos a vacina para a COVID-19, criamos novos hábitos, poderíamos também encontrar a solução para a pobreza e para a desigualdade. Pensar em uma economia que seja organizada de forma justa e solidária.
Essa forma de pensar a economia busca apenas a relação de preços justos na produção econômica, mas, como consequência, um projeto alternativo de sociedade, em que todas as pessoas possam ter iguais condições de vida, revertendo a lógica de exclusão presente na forma de produção capitalista. Investir em formas solidárias de produção econômica é buscar a cura de nossas maiores doenças: a desigualdade e a pobreza. Investir nesta forma de organização econômica é, sem dúvida, uma saída inovadora para a crise.
Excelente reflexão. Parabéns, Josué e obrigado pelo olhar sensível.