“Na vida duas coisas são certas: o amor e a morte”, diria Platão. O que o filósofo esconde em sua frase é tentativa do homem em romper com o último destino inevitável a todos. Antes mesmo de Cristo passar e marcar os anos, existiam aqueles que gastavam um tempo pensando na possibilidade de viver eternamente. Mergulhado em ácaros, alguns fragmentos trazem a busca, bastante antiga, da criatura humana pela imortalidade. Nunca conseguimos. Mas, parece, estamos perto de mudar esta história.
Vencer a morte, esta senhora enlutada com uma foice na mão, que decide ao seu gosto quem passa para um lado ou para o outro, pode encontrar seu fim graças o avanço da ciência. Estão descartados os rituais, desejos e ocultismos para promoção da vida. A capacidade intelectual, no avançar dos séculos, o poder computacional e o registro compulsório de cada virgula sobre os acontecimentos que cercam, unem a porção que permitirá a continuação dos nossos pensamentos muito além dos dias de existência na terra.
Nesta semana, um tabloide alemão emulou – criminosamente – uma entrevista com o heptacampeão de Formula 1, Michael Schumacher.
O ex-piloto está vivo, é verdade, porém permanece incomunicável há quase 10 anos, após um acidente enquanto esquiava. Utilizando uma tecnologia de inteligência artificial, a publicação tornou o diálogo real e próxima do padrão de declarações antigas. As respostas pareciam verdadeiras, enganaram os leitores e os íntimos. Toda produção não contou com o consentimento da família, que discretamente guarda em segredo as informações sobre as reais condições de saúde de Michael.
Recentemente, em uma das datas que marcam o ano, utilizei das ferramentas disponíveis para reviver os traços de um de meus avôs já falecido. Ele partiu quando meu pai tinha menos de 4 anos de idade. Tudo que restou foi uma foto em preto e branco, bastante desgastada dos efeitos do tempo. Com alguns cliques, a máquina devolveu um retrato colorido e um video do rosto em movimento. Estava ali, vividamente, diante os olhos, a emoção de quase poder tocar a face – nunca vista em cores – de um alguém que partiu fazem mais de seis décadas.
Nunca mais vamos morrer. Em poucos anos a internet será o velho jornal impresso, o antigo rádio, o aparelho de TV. E revolução que nasce com a integração de máquinas e humanos, de altíssimo processamento de dados, de inteligência nas coisas, torna inevitável a continuação da vida mesmo após o padecimento do corpo.
Diálogos poderão ser criados, os conselhos das pessoas que mais amamos estarão ali, sempre prontos. É bem possível que até mesmo o calor do abraço, a voz doce e o gosto peculiar de cada um ganhe vida eterna.
Tudo que escrevemos, gravamos, postamos nas redes estão aí, construindo um calendário de vitórias, feridas e passagens. Cada coisinha guarda um montão de informação. Hoje os computadores mais potentes já conseguem interpretar, reproduzir, descobrir, pensar como o nosso íntimo criativo pode agir em cada situação. Estamos a um clique da imortalidade…
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