Opinião | Vento progressista no coração de Blumenau

Foto: Rota de Lazer/Reprodução

As cores, cheiros e os sabores ganharam espaço no centro de Blumenau, mais uma vez, neste domingo, 3 de março. É engraçado,  para os que moram faz muito na cidade, esta mistura de bichos grilos, artesãos, artistas e vendedores de importados (comunistas) chineses, em formato de feira de rua, destoa muito da imagem tradicional que sempre ocupou a paisagem da XV de Novembro. Sai o joelho de porco, o marreco recheado e toda culinária alemã e chega ao balcão o bom cachorro quente brasileiro, o pastel português, o sanduíche de pão com mortadela. O coração da cidade,  com perfume doce de açaí do norte do Brasil, pulsa, ao menos um pouquinho, um sopro progressista.

Sob o sol escaldante, a atmosfera vibrava com a energia contrastante entre tradição e modernidade. A Feira do Brique é legal de mais. Aos pouquinhos ela acrescenta uma característica de atrair participantes de toda região, e até fora dela. Com isso, um  sopro de rebeldia, ousadia e alegria vai ganhando, pairou nesta emblemática via blumenauense.  Um frenesi de descobertas e encontros que pinta o local com sua paleta diversificada de talentos e produtos.

Entre o burburinho das negociações e o aroma de especiarias, a rua XV de Novembro ganha vida de um jeitão bem diferente, ecoando histórias e sonhos. Apontando para uma direção mais plural, que levanta a cabeça, bebe cachaça, faz sua fumaça e esquece os estereótipos locais.

Enquanto isso, ao cair da tarde, quando as sombras se alongavam e os raios de sol começavam a arrefecer, a Marcha da Maconha rompia com os padrões estabelecidos, desafiando a ortodoxia política local. Passos determinados entoavam gritos e canções, acompanhados pelo pulsar de corações inquietos, ávidos por mudança e liberdade de expressão, de fazer o que bem entender com o seus pulmões.

É curioso lembrar que a função de um legislador vai muito além de aplaudir e aprovar leis, mas, fiscalizar aquilo que aponta a legislação. Pouco adianta ter a veia rompendo o pescoço para mostrar na internet e esconder-se diante da manifestação. Talvez, vai saber, seja a consciência que, na verdade, pesa ao atentar-se para realidade, sabendo que o que defendia é um vergonhoso retrocesso inconstitucional.

Na mesma XV de Novembro, onde os traços da tradição se entrelaçam com os anseios do presente, a dualidade de eventos revela a complexidade deste novo tempo. Enquanto alguns celebravam a arte, o empreendedorismo e a cultura, outros levantavam suas vozes em prol de causas que desafia tabus e preconceitos arraigados. Esta mistura de propósitos – e até conflitos – é o que permite avançar como sociedade.

Como uma sinfonia de vozes, uma tela mais colorida que obra de Romero Britto, Blumenau vai se reinventando. Graças aos não nascidos aqui, os nativos e apaixonados, mesclando os ventos da tradição com a brisa fresca do progresso, as coisas vão misturando tintas e impressões. Enquanto uns revisitam as raízes, outros plantam as sementes do futuro, numa dança incessante entre o passado e o porvir.

Assim, ainda que  reacionários dominem e façam muito barulho, que o voto, em sua maioria, esteja momentaneamente ao lado de que grita mais, manipula mais mentes, o vento progressista sopra, embalando os sonhos e as aspirações de uma comunidade em busca de sua própria identidade. Como neste domingo, que a XV de Novembro testemunhou não apenas um evento, mas sim uma manifestação viva da alma de uma cidade em constante transformação.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

4 Comentário

  1. Maconheiro é maconheiro, quer se drogar, faça-o em sua casa. Para ter maconheiro, é preciso ter o traficante, como todo traficante é bandido, apologia as drogas é apologia ao crime.

  2. O mundo já traz uma podridão nata; ao aprovar a lei da maconha, outros males virão e, mais uma vez, os cidadãos de bem, trabalhadores honestos pagarão um alto preço.
    A falta de conhecimento leva à burrice e à miséria.

  3. Excelente artigo!
    E, que essa onda do atraso encontre logo seu destino, qual seja, o esgoto de onde nunca deveria ter saído!!

  4. É engraçado destruir a cultura dos outros, só não pode a deles.

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