A produção industrial brasileira desabou 18,8% em abril, na comparação com março, atingindo o nível mais baixo já registrado no país, conforme divulgou nesta quarta-feira, 3, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tombo recorde evidencia a dimensão do impacto da pandemia de coronavírus e das medidas de isolamento social na atividade econômica.
“É a queda mais intensa da indústria desde o início da série histórica, em 2002, e o segundo resultado negativo seguido, com perda acumulada de 26,1% no período”, informou o IBGE.
Em março, a produção já havia recuado 9% frente ao mês anterior — variação que foi revisada pelo IBGE ante queda de 9,1% anteriormente divulgada.
Com o tombo de abril, o patamar da produção industrial no país ficou 38,3% abaixo de pico histórico, registrado em maio de 2011. “É o patamar mais baixo da série histórica na pesquisa. Estamos no piso da produção industrial”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Na comparação com abril do ano passado, a queda foi ainda maior, de 27,2%, o sexto resultado negativo seguido nessa comparação e também recorde negativo da série histórica da pesquisa.
Apesar da forte queda, o resultado de abril veio menos ruim que o esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de queda de 29,2% na variação mensal e de 33,1% na base anual.
No ano, de janeiro a abril, a produção industrial encolheu 8,2%, e nos últimos 12 meses, passou a acumular retração de 2,9%.
“O resultado de abril decorre, claramente, do número maior de paralisações das várias unidades produtivas, em diversos segmentos industriais, por conta da pandemia. Março já tinha apresentado resultado negativo. Agora, em abril, vemos um espalhamento, com quedas de magnitudes históricas, de dois dígitos, em todas as categorias econômicas”, destacou Macedo.
22 dos 26 segmentos tiveram queda
A queda da produção foi generalizada, alcançando todas as grandes categorias econômicas e 22 dos 26 ramos pesquisados, sendo que 15 registraram queda recorde.
Segundo o IBGE, a maior influência em abril veio da paralisação quase que completa da indústria automobilística.
A produção de veículos automotores, reboques e carrocerias desabou 88,5%, na comparação com março e 92,1% na comparação anual, pressionada, em grande medida, pelas paralisações e interrupções na maioria das fábricas do país. Foi a queda mais intensa desde o início da série histórica. Considerando apenas a produção de automóveis, o recuou chegou a 99,9% na comparação com abril do ano passado.
A interrupção da produção de veículos impactou outros segmentos industriais, como metalurgia (-28,8%), produtos de borracha e de material plástico (-25,8%) e máquinas e equipamentos (-30,8%).
Outros recuos relevantes no mês foram observados nas atividades de couro, artigos para viagem e calçados (-48,8%), bebidas (-37,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,5%), máquinas e equipamentos (-30,8%) e produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%).
A produção só cresceu nas nas atividades relacionadas a itens essenciais e a mudanças de hábitos de consumo em meio à pandemia. Produtos alimentícios (3,3%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,6%) voltaram a crescer após recuarem em março (-1,0% e -11%, respectivamente). O ramo de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal também teve alta (1,3%), enquanto o setor extrativo ficou estável.
Alta na produção de caixões e bicicletas ergométricas
O gerente da pesquisa destacou que, embora tenha apresentado queda de 30,6%, a atividade de produtos diversos registrou alta na produção de itens que estão relacionados com o consumo durante a pandemia. Entre eles, estão os caixões.
“Por questões de confidencialidade da pesquisa, não podemos informar a taxa de crescimento da produção dos itens individuais. Mas destaco que outros itens tiveram crescimento ainda maior que o de caixões, como as bicicletas ergométricas, o que pode estar associado à maior demanda por atividade física dentro de casa”, ponderou.
Resultado por grandes categorias
Entre as grandes categorias econômicas, as quedas mais acentuadas em abril foram entre os bens de consumo duráveis, em grande parte, pela menor fabricação de automóveis. O tombo de quase 80% foi o maior desde o início da série histórica e marcou o terceiro mês seguido de queda.
bens de consumo duráveis: -79,6%
bens de capital: -41,5%
bens de consumo semi e não-duráveis: -12,4%
bens intermediários: -14,8%
Segundo Macedo, bens intermediários e de bens de consumo semi não duráveis tiveram quedas menos acentuadas por conta do crescimento na produção de alimentos, na indústria farmacêutica e no segmento de perfumaria, sabão e produtos de limpeza. “São essas três atividades que vêm na contramão da indústria geral”, destacou.
Perspectivas
No 1º trimestre, a produção industrial registrou queda de 2,6%, na comparação com o 4º trimestre, refletindo apenas os primeiros reflexos da pandemia no país e no comércio exterior. Já o PIB (Produto Interno Bruto) do setor industrial caiu 1,4% nos 3 primeiros meses do ano, na primeira retração desde o 4º trimestre de 2018.
Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o nível de utilização da capacidade de produção da indústria brasileira caiu para 49% em abril. Ou seja, a indústria brasileira operou com metade de sua capacidade de produção.
Os primeiros indicadores de maio apontam que a atividade do setor se manteve em nível crítico. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas avançou 3,2 pontos em maio, para 61,4 pontos, mas mesmo assim registrou o o segundo menor valor da série histórica da pesquisa, só ficando atrás da marca de abril (58,2 pontos).
Questionado sobre as perspectivas para o resultado da produção industrial em maio, o pesquisador do IBGE disse não ser possível fazer previsão, mas ponderou que a perda de fôlego do setor é evidente.
“Temos uma grande quantidade de empresas que mantiveram paralisações. A forma como isso vai se refletir no mês de maio, a gente precisa aguardar. Mas é claro que o setor industrial está em um movimento importante de perda de ritmo. Isso fica muito traduzido pelo resultado de abril”, avaliou.
Com a economia à beira de uma nova recessão, os economistas do mercado financeiro reduziram novamente a previsão para o PIB neste ano, conforme boletim “Focus” do Banco Central divulgado na segunda-feira. A projeção passou de queda de 5,89% para um tombo de 6,25% em 2020. Caso a expectativa se confirme, será o pior desempenho anual desde 1901, pelo menos.
Já projeção do mercado para a produção industrial em 2020 é de uma retração de 3,59%.
Fonte: G1
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