A morte de Arthur Monteiro deixa triste os amigos e quem gostava do jornalismo “da antiga”. Ele era (É) a cara desta expressão. Convivi pouco com ele, mas sempre acompanhava suas boas histórias. Para ser mais fiel a ele, pedi que quem conviveu escrevesse sobre a partida deste gremista que deixa nos amigos a lembrança gostosa de se fazer jornalismo.
Por Celso Rosa,
jornalista
Às 13 horas desta quinta-feira, dia 5 de julho, recebo a notícia que me inquietava há alguns dias: meu velho companheiro de lides e bares, Arthur Tadeu Dutra Monteiro, havia partido há pouco mais de uma hora.
Simplesmente Monteiro para mim, Arthur Monteiro para muitos, era um daqueles jornalistas em extinção: bem informado, consciente, íntegro, corajoso. Um “chato” que ousava denunciar, como fez aqui em Blumenau, quando publicou o “arco-iris” que indústria têxtil do Bom Retiro provocava no ribeirão do bairro com suas tinturas e quando alertou para a demolição iminente do “Cavalinho Branco” (prédio da antiga maternidade Johannastiff) e evitou com isso a derrubada do histórico imóvel.
Antes, muito antes, fora um contestador com seus textos e opiniões na Folha da Manhã, jornal da extinta Companhia Caldas Júnior, repórter de uma inovadora editoria de economia a partir de 1972, mesmo ano em que fui seu vizinho de redação, como “foca”, da Folha da Tarde. “Guerreiro” como jornalista, era um brincalhão incorrigível, sempre pronto para armar uma “pegadinha” para colegas, criar um trocadilho como fez até os últimos minutos – agora no facebook – que o devastador câncer permitiu.
Em meados da década de 70, questões pessoais o levaram a transferir-se para Blumenau, como correspondente dos jornais da Caldas Júnior. E sua atuação logo o transformou em um personagem da cidade. Aqui voltamos a nos encontrar no final de 1988. Continuava o “velho” Monteiro, jornalista perspicaz, atento aos crimes ambientais, aos desmandos de governantes, oktoberfesteiro de primeira hora, chefe de reportagem do Jornal de Santa Catarina e dono de bar (hoje diria boteco). Por causa dele terminei ficando. Afinal, garantiu-me, quando perguntei sua opinião sobre a cidade, que Blumenau era uma cidade cosmopolita.
Deixou o jornal em consequência de uma greve, a primeira e única de jornalistas aqui em Santa Catarina, deflagrada em maio de 1990. Foi porta-voz dos jornalistas e negociador junto à direção do veículo, que na época pertencia às oito “grandes” do setor têxtil local. Não foi demitido como os demais, pela condição de dirigente sindical, mas afastado. Anos depois, lá por 1999, ele trocou Blumenau por Brasília. Criou uma agência de noticias para divulgar fatos de interesse de Santa Catarina e opinar, em coluna semanal, sobre a atuação dos parlamentares do Estado. Até recentemente, não sei exatamente quando, ter se aposentado definitivamente.
Assim como eu, Monteiro iniciou a vida profissional como desenhista em escritório de arquitetura. “Nasceu” jornalista lá por 1963, meio casualmente, contava, por uma falta eventual de repórter no Jornal do Comércio, em Porto Alegre, onde era revisor de texto. Gremista, foi ardoroso torcedor, transmitindo aos filhos e netos esta paixão. E a mesma coerência exibia ao defender o trabalhismo de Leonel Brizola, mesmo tendo assessorado, e bem, o ex-prefeito medebista Renato Vianna. Agora se declarava eleitor do candidato Ciro Gomes.
Compartilhávamos coincidências profissionais, futebolistas, preocupações sociais. Agora, ambos aposentados, curtíamos (eu ainda) trabalhar com madeira, marceneiros neófitos. Monteiro há tempos me provocava para colocar ferramentas na mala e ir à Brasília. “Comprei um lote de madeiras de um negociante que encerrava a atividade, dá pra fazer muita coisa”, incentivava. Não deu.
Fui apenas em novembro passado, sem ferramentas. Nos encontramos, ele com a amável companheira Thelma, eu com minha filha Cristina. Ele na expectativa de cirurgia marcada para o final do ano, mas sem perder o bom humor, o alto astral que caracterizou sua vida. Tivemos coisas em comum, menos sua grande capacidade de contar histórias, de fazer amigos, de cativar as pessoas. Com sua partida, ficará a saudade e o privilégio de ter compartilhado redações de jornais, mesas de bares e, sobretudo sua amizade.
Tive a alegria de conhecer o Arthur , realmente o céu deve estar mais feliz com a sua chegada. Era colega de meu pai, na Prefeitura e algumas vezes almoçava na minha casa, sua presença era sempre motivo de brincadeiras e boas risadas.
Parte deixando boas lembranças e grandes amigos !!!!!