Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Lacen-GO (Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás) sequenciaram, pela primeira vez, um genótipo cosmopolita (linhagem) do sorotipo 2 do vírus da dengue no Brasil.
O achado aconteceu em fevereiro, em amostra vinda de Aparecida de Goiânia (GO) e as descobertas foram publicadas na plataforma de pré-print medRxiv, que permite a divulgação rápida de resultados, antes do processo de revisão por pares.
Segundo a Fiocruz, esse é o segundo registro feito nas Américas após um surto no Peru, em 2019. A linhagem é presente na Ásia, Pacífico, Oriente Médio e África.
A identificação foi comunicada às secretarias estaduais e municipais de saúde e ao Ministério da Saúde.
Vírus da dengue
O vírus causador da dengue pertence à família dos flavivírus e é classificado no meio científico como um arbovírus.
Ele possui quatro sorotipos, nomeados como 1, 2, 3 e 4, e cada sorotipo pode ser subdividido em diferentes genótipos ou linhagens — classificadas pelas variações genéticas. A linhagem cosmopolita é uma das seis do sorotipo 2 do agente causador.
Para que o vírus infecte os humanos, a femêa do Aedes aegypti, mosquito vetor da dengue e está amplamente distribuído por todo o território Americano, precisa picar as pessoas.
Nas Américas, apenas o Canadá e o Chile continental estão livres da dengue e do vetor. O Uruguai não tem casos de dengue, mas tem o Ae. aegypti, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde.
Chegada do genótipo ao Brasil
Os pesquisadores ainda não sabem como será a proliferação do genótipo cosmopolita no Brasil. Existe a possibilidade de a linhagem se disseminar de forma mais eficiente do que a linhagem asiático-americana, também conhecida como genótipo 3 do sorotipo 2, que atualmente circula no país.
Segundo a Fiocruz, as análises iniciais realizadas pelos cientistas mostram que o patógeno detectado no Brasil é semelhante a dois microrganismos isolados durante o surto registrado na província de Madre de Dios, no Peru, em 2019.
A origem do vírus no país ainda é desconhecida. O coordenador da pesquisa, Luiz Carlos Júnior Alcantara, pesquisador do Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz, disse em comunicado que para compreender a dinâmica da dispersão no continente americano é preciso ter mais amostras sequenciadas.
Os pesquisadores também não sabem como o genótipo cosmolita 2 irá se comportar no Brasil.
“Mundialmente, ele é muito mais distribuído e causa mais casos do que o genótipo asiático-americano, que circula no Brasil há anos. O quadro global indica que a linhagem cosmopolita tem capacidade de se espalhar facilmente”, disse Júnior Alcantara.
O pesquisador ressalta a importância da vigilância genômica do vírus e destaca que o objetivo é que esses dados [coletados] possam servir de apoio para políticas públicas de saúde no combate à dengue.
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