O dia 8 de setembro chegou. Brasília se articula agora para reagir às manifestações do Dia da Independência.
Havia imensa expectativa em torno do volume dos protestos e do tom que seria adotado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em seus discursos. Como ele seguiu beligerante, seus seguidores e adversários afinam suas falas — e ações — para responder de acordo.
Uma das reações mais aguardadas deve acontecer na abertura da sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) desta quarta, 8, às 14h.
Em nota na noite desta terça-feira, a assessoria do Supremo informou que o presidente da Corte, Luiz Fux, deve se manifestar publicamente sobre os atos logo no início da sessão.
Ao longo da terça-feira, apenas os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, os mais atacados por Bolsonaro, fizeram declarações sobre os atos em redes sociais.
Moraes escreveu: “Comemoramos nossa Independência, que garantiu nossa Liberdade e que somente se fortalece com absoluto respeito a Democracia”.
Em sua postagem, Barroso defendeu “eleições livres, limpas e seguras” e lembrou que “desde 88, a vontade do povo: Collor, FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro”.
Fux se reuniu, de acordo com apuração da analista Thaís Arbex, no começo da noite por teleconferência com os demais ministros para discutir as manifestações e a reação do STF às falas de Bolsonaro.
O presidente afirmou, no discurso que fez em São Paulo, que “qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá”.
Outra fala dura do presidente, também em São Paulo, foi direcionada “àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: ‘só Deus me tira de lá’. Aviso aos canalhas: não serei preso.”
Apuração do analista Caio Junqueira revela que ministros de cortes superiores avaliaram que os discursos de Bolsonaro agravaram a situação política dele em relação ao Judiciário e, ainda no início da noite de ontem, começaram a debater caminhos para a reação no âmbito jurídico.
Segundo um ministro de um tribunal superior ouvido pela CNN Brasil, a situação é grave e cresce a tese da inelegibilidade de Bolsonaro em 2022. Mas ela só avançará se o Congresso sinalizar que vai apoiar.
Legislativo e partidos
Parte do Congresso ainda não deu sinais claros de como vai reagir ao 7 de Setembro. Arthur Lira, presidente da Câmara, se absteve de comentar os atos nas redes sociais ao longo de todo o dia. Tarde da noite, segundo apurou a repórter Bárbara Baião, Lira convocou uma reunião para esta quarta-feira, às 12h.
Já Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, foi às redes logo cedo e escreveu: “Ao tempo em que se celebra o Dia da Independência, expressão forte da liberdade nacional, não deixemos de compreender a nossa mais evidente dependência de algo que deve unir o Brasil: a absoluta defesa do Estado Democrático de Direito”.
Na noite de terça, o Senado divulgou nota informando que “estão canceladas as sessões deliberativas remotas e as reuniões de comissões previstas para os dias 8 e 9 de setembro”, sem maiores detalhes.
Os partidos políticos, por sua vez, começaram a se movimentar com mais firmeza rumo à ruptura com o governo — e contando com um elemento surpresa, o Centrão.
Conforme revelaram as analistas Daniela Lima e Renata Agostini, partidos do Centrão decidiram consultar suas bancadas sobre a adesão a um pedido de impeachment do presidente.
O presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, diz que vai reunir sua bancada na semana que vem. Baleia Rossi, presidente do MDB, também vai consultar os principais líderes de sua bancada — Moraes foi indicado ao Supremo por Michel Temer.
À CNN Brasil, Gilberto Kassab, presidente do PSD, disse que “momento de pedido de impeachment está se aproximando”.
Já o analista Gustavo Uribe apurou que, em movimento capitaneado por Carlos Lupi, do PDT, siglas do centro também devem se articular.
Lupi afirmou que vai convidar para um encontro líderes do PSDB, MDB e PSD. Mais cedo, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, também havia anunciado que a sigla deve se reunir ainda hoje para debater o apoio ao impeachment.
O PT também informou em nota que “parlamentares vão exigir devolução da MP 1068 e ampliar conversas com partidos de centro que se mostram propensas a apoiar o impeachment”.
A MP 1068 foi a medida provisória assinada por Bolsonaro no dia 6, véspera das manifestações, alterando o Marco Civil da internet e restringindo os mecanismos de redes sociais para moderar conteúdos e perfis.
Na noite desta terça, o senador Randolfe Rodrigues (Sustentabilidade-AP) entrou com notícia-crime no Supremo contra Bolsonaro, ao pontar contra o presidente possíveis crimes relacionados a sua participação nas manifestações, como atentado contra a ordem constitucional e a separação dos Poderes, além de investigação sobre financiamento e suposta utilização indevida de dinheiro público nos atos.
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