Reunião na Câmara de Blumenau discute tempo de espera nos prontos socorros

Foto: divulgação

A Câmara de Blumenau abriu mais uma vez, nesta quarta-feira, 8, espaço para debater situações relacionadas à saúde de Blumenau. Na terça-feira foi a vez do vereador Marcelo Lanzarin, atual secretário de Saúde, ocupar a tribuna livre para explicar a falta de médicos na rede pública municipal e nesta quarta aconteceu uma reunião extraordinária, mais uma vez com o secretário Municipal de Saúde e representantes dos hospitais Santa Isabel (HSI) e Santo Antônio (HSA), para tratar sobre a situação dos prontos-socorros e a alta demanda no pronto-atendimento dos hospitais.

A iniciativa foi da Comissão de Saúde, presidida pelo vereador Professor Gilson de Souza (Patriota). Além delem estiveram presentes a vice-presidente Cristiane Loureiro (Podemos), o líder do governo, Jovino Cardoso (SD), o secretário de Saúde Marcelo Lanzarin, a diretora técnica do HSA, Dra. Maria Beatriz Silveira Schmitt Silva; o gerente assistencial do HSA, Rafael Branco Bertuol; o diretor de operações do HSI, Dirceu Rodrigues Dias; o coordenador médico da emergência do HSI, Dr. Alexandre Diniz Lacerda, e a coordenadora da emergência do HSI, Andrea Souza.

O vereador Gilson de Souza, presidente da Comissão, abriu a reunião e disse que a Câmara tem recebido muitos questionamentos em relação à falta de médicos e à demora do atendimento, dois dos problemas que mais afligem a população. “Temos a oportunidade para fazer esse diálogo, porque essa Casa não pode ser uma mera repassadora de recursos e de remanejamento de recursos”, ressaltou, afirmando que é certo que quando a atenção primária não vai bem, impacta no atendimento de emergência dos hospitais. Destacou que a Comissão quer ajudar a buscar soluções.

O gerente assistencial do HSA, Rafael Branco Bertuol, apontou que em comparação com o mesmo período de 2021, a unidade registrou um aumento de 27% nos atendimentos, e que nos últimos dois meses praticamente dobrou o número atendimentos pediátricos. Assinalou que percebeu que mais de 70% dos pacientes atendidos são classificados como pouco urgente e não urgente, e que esses poderiam ser atendidos na atenção primária. “Percebemos a necessidade de ter uma unidade intermediária para atender casos que necessitem de um exame básico para oferecer um diagnóstico mais preciso. Isso desafogaria muito os hospitais”. Ele também disse que pelo aumento dos casos de síndromes respiratórias, em especial pediátricas, o hospital está operando no limite de atendimento.

A coordenadora de Emergência do HSI, Andrea Souza, falou sobre o quanto o cenário se diferenciou de 2021 para 2022. Alertou que os atendimentos de dengue, além das doenças respiratórias, levaram a um aumento de 40% na porta da emergência do hospital.  Observou ainda que com o advento da Covid, patologias crônicas, como as de ordem cardiológicas, também impactaram o atendimento no pronto-socorro, em razão do agravamento de casos.  Ressaltou que nos últimos tempos 76,6% dos atendimentos na emergência são destinados a pacientes poucos urgentes ou não urgentes. “A gente entende que o adoecimento da população, dos crônicos de Blumenau, está se agravando e não termos essa unidade intermediária impactou muito no aumento dos atendimentos de emergência e não temos como suprir essa demanda”. Assinalou que o hospital buscou alternativas para agilizar o atendimento no pronto–socorro e ressaltou que a demanda excessiva, que vem se ampliando com as doenças de inverno e a dengue, está demais para as duas unidades hospitalares.

O diretor de operações do HSI, Dirceu Rodrigues Dias, ressaltou que antes da pandemia já existia essa situação de atendimento de pacientes não graves nos pronto-socorros do hospital. Segundo ele, com o agravamento da pandemia essa situação piorou, e também apontou que a unidade opera no limite da capacidade de atendimento. “Fizemos várias ações internas de melhorias de processos, mas estamos no limite da capacidade. Precisamos unir forças para encontrar soluções e melhorar esse atendimento à população”.

O coordenador médico da emergência do HSI, Dr. Alexandre Diniz Lacerda, assinalou que houve mudanças pontuais no número de atendimentos nas últimas semanas, em torno de 70%, e que nenhuma estrutura está preparada para isso. Afirmou que já conversou com a Secretaria de Saúde sobre essa questão, que pode ter sido agravada pela mudança nos horários de atendimento nos AGs e ESFs e falta de profissionais médicos na atenção básica.

Também frisou que os dois hospitais são de alta tecnologia, para atendimento de pacientes mais graves, mas acabam realizando 80% de atendimentos não graves porque os pacientes procuram as unidades de saúde e são encaminhados aos hospitais de maneira inadequada. “É fácil dizer que o médico no postinho não tem preparo para atender, mas isso também acontece porque o profissional precisa de um exame como raio-x ou hemograma, e não tem disponibilidade na unidade, e por isso encaminha aos hospitais”. Defendeu que a saída é a implantação de um atendimento intermediário, de atendimento 24 horas, para realizar uma triagem e indicar qual paciente realmente precisa procurar o atendimento nos hospitais.

O secretário municipal de Saúde, Marcelo Lanzarin, apontou que apesar de o mundo inteiro passar por um momento muito diferente, a situação com os problemas antes observados em grandes cidades é recente para Blumenau.  Assinalou que é impactante ver pessoas e macas e em cadeiras de rodas aguardando pelo atendimento nos prontos-socorros e outras situações de superlotação, que passaram a fazer parte do dia a dia da cidade.

Destacou que o grande volume de atendimento é verificado não só na rede pública, mas também na rede privada.  Reforçou que o atendimento pediátrico é outra situação que tem impactado o serviço, assim como o aumento significativo de casos de dengue e das síndromes respiratórias. Apontou que aliado a essa situação, houve também um grande déficit de profissionais médicos na atenção primária e explicou os motivos.  Disse que como gestor sua principal tarefa é trazer mais médicos para atenção primária e esclareceu que o município abriu a terceira chamada para a contração de profissionais. Afirmou que dos 44 profissionais faltantes, ainda faltam 16.

Afirmou também de que a gestão está ciente de que a cidade precisa de uma estrutura intermediária para desafogar os prontos-socorros. Explicou os motivos de Blumenau não ter aderido ao programa de UPAs do Ministério da Saúde, em razão do alto custo de manutenção, que hoje está orçado em R$ 1,5 milhão por mês. Disse que já solicitou um estudo para analisar uma segunda alternativa, que seria uma estrutura dentro dos ambulatórios gerais, com apoio ao diagnóstico, dando oportunidade ao cidadão de ser atendido dentro da atenção primária. “Enquanto gestor acho que se pode fazer melhor uso de um milhão e meio mensal, inclusive com auxílio aos hospitais. Acho que em Blumenau é possível acharmos um caminho alternativo”, defendeu.

Enfatizou que além de ampliar o atendimento na atenção primária, outro objetivo da gestão é ampliar a cobertura vacinal, principalmente de crianças e idosos.  Lamentou que as campanhas de vacinação tiveram o pior resultado da última década, o que impactou no atendimento dos prontos-socorros.  Também destacou que é necessário criar uma rede de apoio tanto na atenção primária quanto no pronto socorro para ter um caminho de duas vias.

O vereador Professor Gilson fez algumas intervenções, ressaltando que a estrutura intermediária precisa ser melhorada. “Sabemos que a demanda aumentou muito. Estou há muitos anos em Blumenau e sei que o pronto-socorro é um caos há muito tempo”, observou. Enfatizou que além da Câmara ser a caixa de ressonância da sociedade ela se coloca à disposição para contribuir e melhorar a situação.

O Dr. Alexandre Diniz Lacerda falou ainda sobre a tendência mundial de instalação de “Points of Care”, em que farmácias possuem kits e equipamentos para a realização de exames. “Podemos aproveitar essa tecnologia, que envolve aparelhos simples, também na rede pública, para que o paciente se sinta mais assistido e o médico mais seguro no diagnóstico”.

O secretário Marcelo Lanzarin afirmou que está em andamento na Secretaria de Saúde um estudo sobre a descentralização de exames de apoio, que poderiam ser oferecidos em estruturas nos bairros de maior densidade populacional, e que ainda no segundo semestre espera que já esteja desenhado o cenário para implantação dessas estruturas. Outro ponto levantado pelo secretário foi a necessidade de identificar os profissionais que apresentam mais dificuldade em fechar os diagnósticos de situações não graves sem encaminhar aos hospitais para exames complementares, e então capacitá-los a fim de reduzir esse problema.

A vereadora Cristiane Loureiro questionou se os recursos recebidos pelos hospitais do governo do estado preveem que essas unidades atendem também outros municípios. A diretora técnica do HSA, Dra. Maria Beatriz, explicou que os hospitais são habilitados para atendimento de determinadas especialidades para determinadas regiões. Já na baixa e média complexidade, a vinda desses recursos depende de um pacto entre os municípios. Ela ainda assinalou que o Hospital Santo Antônio recebe recursos do município de Blumenau, mas a maioria dos demais municípios atendidos não investem no hospital.

Questionada pelo vereador Professor Gilson sobre como resolver o problema no atendimento na pediatria, Maria Beatriz disse que a Covid modificou o perfil de atendimento de crianças na unidade, e opinou que há a necessidade de se pensar em um hospital pediátrico que atenda a região do Vale do Itajaí. “Temos projetos de ampliação da pediatria, da oncopediatria, de UTIs neonatal, mas pela maneira como a situação vem caminhando, há a necessidade de ampliação desse atendimento”. Ela apontou que diariamente 4 a 5 crianças ficam aguardando uma UTI neonatal no Vale. Rafael Bertuol assinalou que a situação da lotação no pronto atendimento pediátrico poderia ser facilmente resolvida se houver o atendimento dos casos leves na atenção primária.

O vereador Jovino Cardoso, líder do governo, disse que tem presenciado o movimento nos pronto-socorro de ambos hospitais. Destacou a importância da construção de um mini hospital no Badenfurt, com exames de raio X.  Disse que é preciso analisar forma de se fazer a triagem dos pacientes e comentou que ele foi um dos que pediram à Comissão a realização da reunião para debater as dificuldades que acometem a população.

O secretário Lanzarin alertou que é preciso fazer uma leitura diferente para o que se está sendo vivenciado na saúde agora. Ressaltou que por um lado se faz necessário criar uma estrutura intermediária e que de outro há uma situação pontual. “Não vivemos nada parecido com o que está acontecendo no momento em termos de volume de atendimento, somente na primeira onda da Covid”.  Disse que antes não havia superlotação de leitos de enfermarias e de UTIs pediátricas, porque sempre suportaram a demanda.  “Nos últimos três meses mudou nossa realidade, que com certeza será algo transitório, por isso temos que pensar em não criar estruturas que depois podem nem ser necessárias”, salientou.

Por fim defendeu que é melhor que o Estado invista e garanta os recursos para os hospitais Santo Antônio e Santa Isabel, do que investir na construção e implantação de uma terceira unidade hospitalar, no casou hospital regional, porque este ainda vai competir com a disponibilização de recursos já tão escassos.

O vereador Professor Gilson discordou do secretário, e defendeu que diante da população crescente da região, é preciso buscar mais investimentos e avançar na busca de recursos para os dois hospitais e ampliação dos atendimentos. “Saio daqui bastante preocupado com o que ouço. Estamos no limite da capacidade de atendimento. Entendo o que causou a demanda maior e espero que possamos ter um planejamento desse atendimento intermediário para o quanto antes desafogar os pronto-socorros”.

A vereadora Cristiane Loureiro lembrou que muitas pessoas acham que os hospitais da cidade são públicos, mas na verdade são filantrópicos e recebem recursos públicos do município para cobrir esses atendimentos realizados. Ela também pediu que os hospitais reforcem a atenção aos pacientes na recepção dos pronto-socorros, assinalando que a humanização no atendimento faz a diferença.

O vereador Gilson, ao final, disse que os vereadores continuarão atentos para que os planejamentos do atendimento intermediário saiam do papel e a população possa sentir a melhoria nos serviços de saúde.

Fonte: da redação, com informações da CMB

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