Como é de conhecimento de todos, o Informe Blumenau não posta notícias relacionadas a ocorrências policiais, de trânsito e nem de incêndios, por uma postura editorial, visto que muitos colegas fazem esta tarefa bem.
Mas me chamou a atenção a realidade por trás do triste incêndio ocorrido na madrugada desta terça-feira, bem no centro de Blumenau, a partir de um relato que li nas redes sociais da jornalista Danubia de Souza, do grupo ND, a principal jornalista de televisão da região na atualidade, com várias qualidades, em especial pela visão social que traz dos fatos que narra.
Ela revela a situação naquela casa queimada pelo fogo, onde um casal morreu, sendo que a mulher estava grávida de sete meses.
A Danubia conta que 18 pessoas moravam nessa casa abandonada, na maioria imigrantes, argentinos, colombianos, venezuelanos, pessoas como muitos – inclusive eu – que vieram em busca de uma vida melhor em Blumenau. O local não tinha água encanada e nem energia elétrica, a comida era feita no chão e no espaço havia várias garrafinhas de água, que eles enchiam nas proximidades e usavam para banho, para ingerir.
A provável causa do incêndio é acidente, um fogo acesso para aquecer as últimas madrugadas frias.
E ela finaliza: “Isso mesmo, tem pessoas pertinho da gente que vivem nessas condições.”
Pois é. Uma realidade que Blumenau gosta de ocultar ou pelo menos fingir que não existe. E quando falo Blumenau, não me refiro ao Poder Público – ele também! – mas a todos nós que moramos aqui e temos uma condição melhor de vida.
Somente hoje, nesta quinta-feira, num trajeto da Alameda até a Prefeitura, vi pessoas, seres humanos, em todas as quatro sinaleiras que parei, vendendo balas ou pedindo esmolas. Gente que eu não sei a história de vida, não sei a dificuldade que passou, onde o destino colocou o caminho errado…
Gente como a gente, como eu, e você. Bem no coração de Blumenau e que podem até parecer invisíveis, mas não são.
Confira o relato da Danubia:
“Na madrugada de terça-feira um incêndio de grandes proporções destruiu uma casa em Blumenau. Um casal morreu carbonizado. A mulher estava grávida de 7 meses…
O caso, é claro, gerou repercussão em todo Estado (veja nesse link – https://youtu.be/eRyKCZsoIWU – a reportagem que entrou no Balanço Geral com todos os detalhes da história).
A tragédia, por si só, já é de cortar o coração. Mas, é impossível não falar também do que vi nos “bastidores”.
18 pessoas moravam nessa casa abandonada. A maioria imigrantes. Argentinos, Colombianos, Venezuelanos, que vieram em busca de uma vida melhor em Blumenau. Também havia catarinenses no local.
A casa não tinha água encanada e nem energia elétrica! A comida era feita no chão. Havia várias garrafinhas de água, que eles enchiam nas proximidades e usavam para banho, para ingerir..Isso mesmo, tem pessoas pertinho da gente que vivem nessas condições.
Conversei com um jovem de 22 anos, de Florianópolis, que morou 4 anos nessa casa abandonada. A família não tinha dinheiro para pagar aluguel, o jeito foi morar ali. Assim como um cadeirante de Blumenau que ficou sem salário e também se viu obrigado a morar ali para não viver na rua.
As autoridades desconfiam que o incêndio foi acidental. Foi justamente num período com madrugadas frias..e são nesses dias que as pessoas (sem energia) fazem fogo para se aquecer.
No local também havia um cachorro carbonizado. Ele morreu certinho em cima da cadeira, provavelmente tentando fugir do fogo. Questionei o por que de ter tantos cães no local. E recebi a seguinte resposta de uma pessoa que não quis se identificar: além de amigos, eles também nos aquecem no frio…”
Alexandre infelizmente a pandemia acelerou esse descompasso social. Nós fomos atingidos, mas como você disse, ainda temos a nossa casa e comida na mesa. Desde que começou a pandemia, reservo um dinheirinho no carro para comprar o que me oferecem na sinaleira, pois, sei que são pessoas que estão precisando. E, infelizmente, acredito que a situação vai piorar nos próximos meses. Muitas pessoas perderam os empregos, passaram a ganhar menos e o preço da comida não para de subir. Se nós fomos atingidos, imagina quem já ganhava menos.